Saturday, December 07, 2013

Tempo e paciência


Pedro J. Bondaczuk


O líder negro sul-africano Nelson Mandela disse, na histórica entrevista que concedeu em 10 de fevereiro de 1990, dia em que foi libertado da prisão, após 28 anos de cárcere: “Nossa marcha para a liberdade é irreversível. Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as pessoas pudessem viver em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual pretendo viver e que pretendo conquistar. Mas se preciso for, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”.

As interpretações dessas declarações, na ocasião, foram muito diversas. Alguns viram nessas palavras nada mais do que retórica, esquecidos de Mandela as fundamentara com sua vida, toda ela marcada pela convicção de que a capacidade, o caráter e a grandeza de um homem não se medem pela cor de sua pele, por sua etnia, nacionalidade ou outro parâmetro semelhante adotado pelos que vivem intoxicados de preconceitos.

Houve quem se decepcionasse, por esperar que o líder do Congresso Nacional Africano aproveitasse aquele momento para fazer blague ou convocar seus liderados a dar seqüência à luta armada. O tempo, porém, se encarregou de ressaltar a sua coerência. Daí, nada mais justo do que a outorga, a este idealista obstinado (meu herói pessoal em cujo exemplo procuro me espelhar), do Prêmio Nobel da Paz.

Nelson Rolihlahla Mandela, de 75 anos, um terço dos quais passado na cadeia por sustentar uma convicção, um ideal, uma fé na possibilidade de convivência harmoniosa e fraterna entre todos os homens, é uma inspiração e bandeira para os que pretendem construir um mundo melhor.

João Cardoso de Meneses e Sousa, o nosso Barão de Paranapiacaba, escreveu, em versos: “Podem tempo e paciência/mais que fúria e violência”. O líder sul-africano provou isso. Superou uma condenação à prisão perpétua, num caricato e ridículo arremedo de justiça que foi o célebre “Julgamento de Rivônia”, de 1963.

Suportou pressões e tentativas de aliciamento para abrir mão de suas convicções. E nunca transigiu. Ao referir-me a Mandela, lembro os versos de Longfellow: “Os heróis que em tua mente divinizas mostram-te que a vida é nobre e bela/e eles te ensinam a deixar tua própria pegada/mesmo que com o tempo desapareça nas areias”.  

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de outubro de 1993)


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