Tempo
e paciência
Pedro J. Bondaczuk
O líder negro sul-africano Nelson Mandela disse, na
histórica entrevista que concedeu em 10 de fevereiro de 1990, dia em que foi
libertado da prisão, após 28 anos de cárcere: “Nossa marcha para a liberdade é
irreversível. Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação
negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as
pessoas pudessem viver em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo
qual pretendo viver e que pretendo conquistar. Mas se preciso for, é um ideal
pelo qual estou preparado para morrer”.
As interpretações dessas declarações, na ocasião,
foram muito diversas. Alguns viram nessas palavras nada mais do que retórica,
esquecidos de Mandela as fundamentara com sua vida, toda ela marcada pela
convicção de que a capacidade, o caráter e a grandeza de um homem não se medem
pela cor de sua pele, por sua etnia, nacionalidade ou outro parâmetro
semelhante adotado pelos que vivem intoxicados de preconceitos.
Houve quem se decepcionasse, por esperar que o líder
do Congresso Nacional Africano aproveitasse aquele momento para fazer blague ou
convocar seus liderados a dar seqüência à luta armada. O tempo, porém, se
encarregou de ressaltar a sua coerência. Daí, nada mais justo do que a outorga,
a este idealista obstinado (meu herói pessoal em cujo exemplo procuro me
espelhar), do Prêmio Nobel da Paz.
Nelson Rolihlahla Mandela, de 75 anos, um terço dos
quais passado na cadeia por sustentar uma convicção, um ideal, uma fé na
possibilidade de convivência harmoniosa e fraterna entre todos os homens, é uma
inspiração e bandeira para os que pretendem construir um mundo melhor.
João Cardoso de Meneses e Sousa, o nosso Barão de
Paranapiacaba, escreveu, em versos: “Podem tempo e paciência/mais que fúria e
violência”. O líder sul-africano provou isso. Superou uma condenação à prisão
perpétua, num caricato e ridículo arremedo de justiça que foi o célebre
“Julgamento de Rivônia”, de 1963.
Suportou pressões e tentativas de aliciamento para
abrir mão de suas convicções. E nunca transigiu. Ao referir-me a Mandela,
lembro os versos de Longfellow: “Os heróis que em tua mente divinizas
mostram-te que a vida é nobre e bela/e eles te ensinam a deixar tua própria
pegada/mesmo que com o tempo desapareça nas areias”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 17 de outubro de 1993)
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