Esportes e literatura
Pedro
J. Bondaczuk
Os esportes, em geral,
e o futebol, em particular, constituem-se em riquíssimo filão temático para
escritores de todas as tendências e lugares. Público para consumir esse tipo de
produto há em profusão. São raríssimas as pessoas que não se ligam, de uma
forma ou de outra, pelo menos como apreciadoras, a alguma modalidade esportiva
das tantas que são praticadas mundo afora. A mídia destina espaços enormes à
divulgação de clubes, atletas e competições e o faz não gratuitamente. Conta
com farto patrocínio para tal, o que sustenta a maioria dessas empresas. Os
esportes são, pois, uma atividade altamente lucrativa. O gosto por eles é uma
das tantas características do que chamamos genericamente de “modernidade”.
Os gostos variam,
embora haja espaço para praticamente todas as modalidades. E volta e meia
surgem novas, que acabam por conquistar, também, praticantes e principalmente
simples (não raro fanáticos) apreciadores. Nos Estados Unidos, por exemplo, as
preferências recaem, basicamente, sobre o beisebol, o futebol americano e o
basquete, nesta ordem, embora haja espaço para tantas outras. Em países como a
Nova Zelândia, a Austrália e a África do Sul, o esporte mais popular e mais
“consumido” é o rugby, que superlota estádios e erige ídolos. Alguns, como
ocorre em todos os esportes, findam por ser alçados à categoria de mitos por
suas habilidades, façanhas e carisma. No Japão, são as artes marciais que
predominam. E a relação de modalidades e de preferências se multiplica
exponencialmente. Aqui sequer estou tratando da importância da prática
esportiva para a saúde. Deixo isso apenas implícito, por ser o óbvio dos
óbvios.
A lógica indica,
portanto, que livros abordando personagens e circunstâncias dos esportes deveriam
ser garantia de sucesso. Opções é que não faltam. Assunto muito menos. Tempos
atrás, queixei-me, por exemplo, que o futebol, paixão nacional dos brasileiros,
era raríssimamente abordado por nossos escritores. Equivoquei-me. Livros a
propósito há em profusão. O que falta é a devida divulgação. Por razões que
nada têm a ver com literatura – como qualidade e correção dos textos, estilo e
tudo o mais que caracteriza a atividade literária – as obras tendo os esportes
por tema, não têm o sucesso que o seu potencial de vendas sugere que devesse
ter.
Os vários livros
publicados sobre o tema dificilmente esgotam uma única edição. Não raro,
encalham nas prateleiras das livrarias sem que o leitor sequer desconfie que
eles existem. Por que isso acontece, se há tamanho potencial? Porque, reitero.
o que conta mesmo para que qualquer trabalho literário se torne best-seller é,
fundamentalmente, o mesmo fator que importa para que qualquer produto,
essencial ou não às pessoas, venda o que seus produtores esperam: a divulgação.
E nesse quesito, infelizmente, pelo menos no Brasil (não sei a realidade de
outros países nesse aspecto, mas presumo que o problema, guardadas as
proporções e salvo exceções, seja o mesmo ou parecido), ela deixa muito a
desejar.
Antes de tratar, em detalhes,
do assunto a que me proponho, ou seja, o do esporte na literatura (o que farei
nos próximos dias) permitam-me fazer breve parêntese para tratar da importância
desse objeto que considero tão essencial para a nossa vida, enquanto seres
civilizados, quanto o alimento, as vestimentas,
a moradia etc.etc.etc. Vocês, certamente, já intuíram sobre a o que me
refiro. E muitos, a priori, já devem estar achando que é exagero da minha
parte. Não é!
O livro ainda é
tratado, apenas, como mero produto industrial, que, de fato, é. Diria: que
“também” é. Isso, se encararmos, apenas, o aspecto da sua produção. Todavia,
ele tem característica peculiaríssima em relação á maioria de tantos e tantos
outros bens produzidos. Classifico o livro como item essencial de uma sociedade
minimamente civilizada. Deveria ser imprescindível na casa e na vida de toda e
qualquer pessoa. Trata-se de meio de informação e formação intelectual básico,
primário e indispensável. Ninguém aprende a ler sem ele.
O iletrado, no mundo
contemporâneo, não tem futuro. Não aspira e nem pode aspirar nenhum tipo de
ascensão social e muito menos econômica. É, e sempre será, enquanto mantiver a
condição de analfabeto, um subalterno, cuja única ocupação que poderá exercer
será a que exija somente força dos músculos. Isso se a tiver. Caso não tenha...
estará frito! Será peso morto para a família e para a sociedade. Considero,
pois, o livro indispensável, tanto quanto a comida, pois, como esta, é, também,
“alimento” para o ser humano, posto que não para o corpo, mas para o espírito.
Por sua importância, o acesso a ele deveria ser não apenas incentivado, mas,
sobretudo, facilitado. Teria que ser subsidiado pelo poder público e não ser,
como é hoje, privilégio de poucos. Voltarei, certamente, ao assunto.
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