Sunday, December 29, 2013

Esportes e literatura

Pedro J. Bondaczuk

Os esportes, em geral, e o futebol, em particular, constituem-se em riquíssimo filão temático para escritores de todas as tendências e lugares. Público para consumir esse tipo de produto há em profusão. São raríssimas as pessoas que não se ligam, de uma forma ou de outra, pelo menos como apreciadoras, a alguma modalidade esportiva das tantas que são praticadas mundo afora. A mídia destina espaços enormes à divulgação de clubes, atletas e competições e o faz não gratuitamente. Conta com farto patrocínio para tal, o que sustenta a maioria dessas empresas. Os esportes são, pois, uma atividade altamente lucrativa. O gosto por eles é uma das tantas características do que chamamos genericamente de “modernidade”.

Os gostos variam, embora haja espaço para praticamente todas as modalidades. E volta e meia surgem novas, que acabam por conquistar, também, praticantes e principalmente simples (não raro fanáticos) apreciadores. Nos Estados Unidos, por exemplo, as preferências recaem, basicamente, sobre o beisebol, o futebol americano e o basquete, nesta ordem, embora haja espaço para tantas outras. Em países como a Nova Zelândia, a Austrália e a África do Sul, o esporte mais popular e mais “consumido” é o rugby, que superlota estádios e erige ídolos. Alguns, como ocorre em todos os esportes, findam por ser alçados à categoria de mitos por suas habilidades, façanhas e carisma. No Japão, são as artes marciais que predominam. E a relação de modalidades e de preferências se multiplica exponencialmente. Aqui sequer estou tratando da importância da prática esportiva para a saúde. Deixo isso apenas implícito, por ser o óbvio dos óbvios.

A lógica indica, portanto, que livros abordando personagens e circunstâncias dos esportes deveriam ser garantia de sucesso. Opções é que não faltam. Assunto muito menos. Tempos atrás, queixei-me, por exemplo, que o futebol, paixão nacional dos brasileiros, era raríssimamente abordado por nossos escritores. Equivoquei-me. Livros a propósito há em profusão. O que falta é a devida divulgação. Por razões que nada têm a ver com literatura – como qualidade e correção dos textos, estilo e tudo o mais que caracteriza a atividade literária – as obras tendo os esportes por tema, não têm o sucesso que o seu potencial de vendas sugere que devesse ter.

Os vários livros publicados sobre o tema dificilmente esgotam uma única edição. Não raro, encalham nas prateleiras das livrarias sem que o leitor sequer desconfie que eles existem. Por que isso acontece, se há tamanho potencial? Porque, reitero. o que conta mesmo para que qualquer trabalho literário se torne best-seller é, fundamentalmente, o mesmo fator que importa para que qualquer produto, essencial ou não às pessoas, venda o que seus produtores esperam: a divulgação. E nesse quesito, infelizmente, pelo menos no Brasil (não sei a realidade de outros países nesse aspecto, mas presumo que o problema, guardadas as proporções e salvo exceções, seja o mesmo ou parecido), ela deixa muito a desejar.

Antes de tratar, em detalhes, do assunto a que me proponho, ou seja, o do esporte na literatura (o que farei nos próximos dias) permitam-me fazer breve parêntese para tratar da importância desse objeto que considero tão essencial para a nossa vida, enquanto seres civilizados, quanto o alimento, as vestimentas,  a moradia etc.etc.etc. Vocês, certamente, já intuíram sobre a o que me refiro. E muitos, a priori, já devem estar achando que é exagero da minha parte. Não é!

O livro ainda é tratado, apenas, como mero produto industrial, que, de fato, é. Diria: que “também” é. Isso, se encararmos, apenas, o aspecto da sua produção. Todavia, ele tem característica peculiaríssima em relação á maioria de tantos e tantos outros bens produzidos. Classifico o livro como item essencial de uma sociedade minimamente civilizada. Deveria ser imprescindível na casa e na vida de toda e qualquer pessoa. Trata-se de meio de informação e formação intelectual básico, primário e indispensável. Ninguém aprende a ler sem ele.

O iletrado, no mundo contemporâneo, não tem futuro. Não aspira e nem pode aspirar nenhum tipo de ascensão social e muito menos econômica. É, e sempre será, enquanto mantiver a condição de analfabeto, um subalterno, cuja única ocupação que poderá exercer será a que exija somente força dos músculos. Isso se a tiver. Caso não tenha... estará frito! Será peso morto para a família e para a sociedade. Considero, pois, o livro indispensável, tanto quanto a comida, pois, como esta, é, também, “alimento” para o ser humano, posto que não para o corpo, mas para o espírito. Por sua importância, o acesso a ele deveria ser não apenas incentivado, mas, sobretudo, facilitado. Teria que ser subsidiado pelo poder público e não ser, como é hoje, privilégio de poucos. Voltarei, certamente, ao assunto.


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