Tendência confirmada
Pedro J. Bondaczuk
A
vitória do Partido Socialista na França, ocorrida exatamente um mês depois que
os trabalhistas de Tony Blair "pulverizaram" os conservadores na
Grã-Bretanha, é a continuidade de uma tendência que se consolida na Europa.
Tanto que entre os 15 membros da União Européia, somente dois têm governos
compostos exclusivamente pela direita: Alemanha e Espanha.
Todos
os 13 demais, ou estão em mãos somente da esquerda (três), ou têm esquerdistas
envolvidos em coalizões. O que tem determinado essa reviravolta é um fator
comum: o desemprego que assola o continente.
Levas
de trabalhadores vêm sendo demitidas, unidades inteiras de grandes indústrias
(por exemplo, a Renault na Bélgica), estão sendo fechadas, com conseqüentes demissões
em massa.
Os
salários, na maioria dos países, permanecem rigorosamente congelados e os
governos buscam fazer ajustes, com políticas impopulares de austeridade, para
adequar suas respectivas economias à implantação da moeda única na Europa dos
15, prevista para 1999.
Na
França, a taxa de desemprego, determinante direta da derrota da coalizão de
centro-direita, de 12,8%, é a maior do pós-guerra. E novas demissões, em
especial nas estatais, estão programadas, para reduzir o déficit público, sem
aumento de impostos, o que agravaria ainda mais a situação das empresas,
forçadas a cortar custos para competir nesta era da globalização.
O
presidente Jacques Chirac poderia perfeitamente aguardar mais dez meses para a
realização das eleições no prazo normal. Tinha cômoda maioria parlamentar, que
lhe garantia a aprovação daquilo que bem entendesse. Avaliou mal a situação do
país.
Não
teve sensibilidade para detectar o grau de descontentamento dos franceses em
relação à sua política voltada para a integração européia, mesmo tendo
enfrentado, nos seus dois anos de mandato, sucessivas greves, que atribuiu,
arrogantemente, a "grupinhos inexpressivos" de agitadores, como
chegou a insinuar.
Em
vista do equívoco no diagnóstico, precipitou as coisas. Dissolveu a Assembléia
Nacional em abril passado e antecipou as eleições, para o tira teima com a
esquerda, à qual havia humilhado ao ser eleito presidente. Deu-se mal. As
"cartas" que tinha nas mãos eram insuficientes para a jogada decisiva
que pretendia. Blefou e perdeu. Agora, terá que se contentar com a incômoda
"coabitação" com os socialistas, como quando foi primeiro-ministro de
François Mitterrand.
(Artigo
publicado no Correio Popular em 1 de junho de 1997).
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