Rota do impossível
Pedro J.
Bondaczuk
Impossível é
que me esqueça
--- enquanto
me restar um só sopro de vida –
as emoções
incontidas, eternizadas
em versos
sofridos, trôpegos,
cambaleantes,
como um ébrio,
balbuciantes,
senão gagos,
porta-vozes de
momentos
singulares e
muito especiais.
Impossível é
esquecer, doce amada,
o primeiro
beijo que trocamos,
trêmulos,
ávidos e ansiosos,
sob uma
frondosa figueira
numa noite
escura, sem luar,
num turbilhão
de temores e desejos
É apagar de
vez da memória
--- da instintiva
recordação dos sentidos –
a sua carne
quente e macia,
o seu perfume
de mulher,
os seus lábios
úmidos e rubros,
e sua língua,
adocicada,
que se
emaranhava na minha
tendo,
apenas, por testemunhas
o nosso morno
céu da boca
e os dentes,
levemente apartados.
Impossível é
não lembrar
do nosso orgasmo, simultâneo,
copioso e
arrebatador
que lançou
místicas sementes
de nova vida
em potencial
em seu ventre
fértil e receptivo.
Impossível é
sobreviver ao tempo,
à sua sanha
destruidora
e jamais temer
a morte,
com seu
mistério de aniquilação
fartamente
falado, explicado,
mas
incompreendido pela razão,
pelas células
do organismo,
pelos
múltiplos neurônios e
por nossa
insuperável vaidade.
Impossível é
deter a marcha
célere e
irreversível das horas,
a viagem sem
termo das galáxias
com seu
cortejo de estrelas
girando sobre
si mesmas
em monumental
e cósmico balé
na vastidão
universal
no vácuo,
vazio de matéria,
rumo a
insuspeitado destino.
É deter o
abstrato tempo,
paralisá-lo
num momento marcante,
imobilizá-lo
em uma fração
infinitesimal
de segundo
em que sejamos
eternos,
tenhamos a
grata sensação
de sermos
fortes, deuses,
imperecíveis e
ubíquos
aptos a
empreender a façanha
de aniquilar a
nossa angústia!
(Poema
composto em Campinas, em 4 de março de 1981).
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