Thursday, July 18, 2013

Ameaça de hiperinflação

 Pedro J. Bondaczuk


A nova equipe econômica brasileira, oficializada neste mês, pegou um “rabo de foguete” do tamanho do próprio País pela frente, para reorganizar a nossa caótica economia. A muito custo, parece que alguém, afinal, se conscientizou que uma parte considerável do fantasma da hiperinflação, que nos está rondando, (senão o totalidade da culpa) cabe ao próprio Planalto, que não respeitou a palavra de ordem do saudoso presidente eleito, Tancredo Neves: ‘É proibido gastar!”.

Gastou-se, e muito, e sobretudo mal, nestes quase três anos da atual gestão desta que já chegou a ser chamada de “Nova República”. Especialmente nas inúmeras empresas estatais que temos e que são tantas, a ponto de ter levado um jornal francês a nos chamar de “União Soviética dos trópicos”.

Falou-se muito do governo passado, o do presidente João Figueiredo, principalmente no que diz respeito ao empreguismo. Ocorre que na administração anterior as estatais efetuaram seis mil contratações em seis anos. Essa cifra não é grande, se forem levadas em consideração as aposentadorias e as expansões físicas de muitas empresas.

Pois bem, em somente três anos da atual gestão, 53 mil novos funcionários foram engordar as já onerosíssimas folhas de pagamento das estatais. Ou seja, quase dez vezes mais, sem que a eficiência e a lucratividade também fossem decuplicadas.

Outro ponto digno de ponderação refere-se a salários. No ano passado, um período sabidamente de “sinistrose” (maior do que a de 1982, quando se achava que se tinha chegado ao fundo do poço), ocasião em que os trabalhadores do setor privado viram seus ganhos sofrer um tremendo achatamento, os que atuam em empresas do Estado ainda conseguiram lucrar.

Tiveram aumentos reais da ordem de 20,9%. Fica, portanto, explicada a voracidade com que se buscou dinheiro na praça. Isso explica a razão do empenho do governo em aumentar tributos. Boa parte desse imposto a mais acabou destinada apenas a custear esses imensos cabides de emprego, que pouco ou nada acrescentaram de melhor em nossas vidas.

Como sempre fazem quando se vêem acuadas pela sociedade, as autoridades agora renovam promessas de austeridade. Prometem conter os gastos públicos nos limites da sensatez e até anunciam o congelamento de 30 mil novas contratações. Ou seja, acabamos sendo informados, por vias tortuosas, de um dado novo e desconhecido. De que, apesar do “inchaço”, de 53 mil funcionários nos últimos três anos, havia a previsão de quase duplicar esse número. Assim, não há economia que consiga suportar! Não existem impostos suficientes que possam financiar tamanho “empreguismo”.

Não é, como se vê, por aí que passa o caminho do nosso desenvolvimento. A via mais segura para a consecução dos objetivos nacionais e da promoção da paz e da justiça social é pedregosa e áspera. Implica em sacrifícios não somente para os governados *que, convenhamos, não têm mais o que sacrificar), mas principalmente para os governantes.

Não será com empirismos, com soluções mágicas, tiradas da cartola, que a nossa economia irá ganhar um pouquinho que seja de racionalidade. O País tem pressa e não pode esperar mais pela solução dos seus problemas, que são urgentíssimos. Uma nova geração vem aí e não pode, como a nossa, viver da ilusão de um próspero amanhã, que nunca chega. Nosso futuro tem que ser construído agora!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de janeiro de 1988).


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