Ameaça de hiperinflação
A nova equipe econômica
brasileira, oficializada neste mês, pegou um “rabo de foguete” do tamanho do
próprio País pela frente, para reorganizar a nossa caótica economia. A muito
custo, parece que alguém, afinal, se conscientizou que uma parte considerável
do fantasma da hiperinflação, que nos está rondando, (senão o totalidade da
culpa) cabe ao próprio Planalto, que não respeitou a palavra de ordem do
saudoso presidente eleito, Tancredo Neves: ‘É proibido gastar!”.
Gastou-se,
e muito, e sobretudo mal, nestes quase três anos da atual gestão desta que já
chegou a ser chamada de “Nova República”. Especialmente nas inúmeras empresas
estatais que temos e que são tantas, a ponto de ter levado um jornal francês a
nos chamar de “União Soviética dos trópicos”.
Falou-se
muito do governo passado, o do presidente João Figueiredo, principalmente no
que diz respeito ao empreguismo. Ocorre que na administração anterior as
estatais efetuaram seis mil contratações em seis anos. Essa cifra não é grande,
se forem levadas em consideração as aposentadorias e as expansões físicas de
muitas empresas.
Pois
bem, em somente três anos da atual gestão, 53 mil novos funcionários foram
engordar as já onerosíssimas folhas de pagamento das estatais. Ou seja, quase
dez vezes mais, sem que a eficiência e a lucratividade também fossem
decuplicadas.
Outro
ponto digno de ponderação refere-se a salários. No ano passado, um período
sabidamente de “sinistrose” (maior do que a de 1982, quando se achava que se
tinha chegado ao fundo do poço), ocasião em que os trabalhadores do setor
privado viram seus ganhos sofrer um tremendo achatamento, os que atuam em
empresas do Estado ainda conseguiram lucrar.
Tiveram
aumentos reais da ordem de 20,9%. Fica, portanto, explicada a voracidade com
que se buscou dinheiro na praça. Isso explica a razão do empenho do governo em
aumentar tributos. Boa parte desse imposto a mais acabou destinada apenas a
custear esses imensos cabides de emprego, que pouco ou nada acrescentaram de
melhor em nossas vidas.
Como
sempre fazem quando se vêem acuadas pela sociedade, as autoridades agora
renovam promessas de austeridade. Prometem conter os gastos públicos nos
limites da sensatez e até anunciam o congelamento de 30 mil novas contratações.
Ou seja, acabamos sendo informados, por vias tortuosas, de um dado novo e
desconhecido. De que, apesar do “inchaço”, de 53 mil funcionários nos últimos
três anos, havia a previsão de quase duplicar esse número. Assim, não há
economia que consiga suportar! Não existem impostos suficientes que possam
financiar tamanho “empreguismo”.
Não
é, como se vê, por aí que passa o caminho do nosso desenvolvimento. A via mais
segura para a consecução dos objetivos nacionais e da promoção da paz e da
justiça social é pedregosa e áspera. Implica em sacrifícios não somente para os
governados *que, convenhamos, não têm mais o que sacrificar), mas
principalmente para os governantes.
Não
será com empirismos, com soluções mágicas, tiradas da cartola, que a nossa
economia irá ganhar um pouquinho que seja de racionalidade. O País tem pressa e
não pode esperar mais pela solução dos seus problemas, que são urgentíssimos.
Uma nova geração vem aí e não pode, como a nossa, viver da ilusão de um
próspero amanhã, que nunca chega. Nosso futuro tem que ser construído agora!
(Artigo publicado na página 2, Opinião,
do Correio Popular, em 31 de janeiro de 1988).
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