Maldição do
Terceiro Mundo
Pedro J. Bondaczuk
A fraude, o engodo,
a corrupção em todos os níveis e, no que se refere a eleições, o tão nosso
conhecido voto de cabresto, parecem ser as principais características dos
países do Terceiro Mundo. É um estigma, uma maldição, um vício de caráter que
os acompanha desde a sua formação. Por isso, são o que são. Ou seja, a cauda, e
nunca a cabeça do mundo.
Como já aconteceu antes nas Filipinas, no Haiti
(onde o pleito presidencial sequer chegou a ser realizado) e em tantos outros
recantos perdidos da África, Ásia e da América Latina, a eleição presidencial
sul-coreana de ontem foi marcada por acusações da oposição de ter sido
extremamente fraudulenta. E nem há porque duvidar dessas alegações.
No entanto,
partidos que se opõem ao governo do presidente Choo-Doo Hwan cometeram
um tremendo erro de estratégia. Dividiram-se em várias facções, perdendo, por
completo, a sua força. Matematicamente, olhando os resultados preliminares da
consulta às urnas, pode-se afirmar que os oposicionistas, caso postulassem o
poder com um único candidato, poderiam ter maioria de 48% de votos.
Poderiam, notem bem, pois ninguém é capaz de
assegurar que, caso necessitasse, o governo não tivesse lançado mão de outros
expedientes, ainda mais condenáveis do que aqueles que testemunhas juram que
usou.
As práticas usadas na Coréia do Sul mostram que não
há mesmo nada de novo debaixo do sol. Expedientes tão nossos conhecidos, como o
voto-fantasma, emitido por pessoas que já morreram, a subtração de urnas,
substituídas por outras, “batizadas”, gente votando duas vezes ou mais e outras
práticas do tipo, constituem o grosso das denúncias.
Se elas procedem ou não é algo que fica por conta de
cada um julgar. Mas que são verossímeis, ah, isso, sem dúvida alguma, são! Além
de tudo, ao que parece, o voto de cabresto rolou solto. Pessoas despreparadas
para a prática democrática (por falta de exercício, frise-se), teriam vendido
seus sufrágios, em troca de alimentos, remédios, roupas, quando não de simples
promessa de emprego no funcionalismo público, para elas ou para parentes.
Não é difícil, portanto, de se entender porque os
países do Terceiro Mundo jamais deixam a sua situação de atraso. A chave de
tudo está na fraude, na burla, na mentira institucionalizada. Mente-se em
política, em administração, no cumprimento dos deveres fiscais, legais ou
somente familiares.
Mentiras, mentiras e mais mentiras! Tudo é muito
simples. Quando a situação complica, é só arranjar algum bode-expiatório: o
sistema financeiro internacional, o comunismo, o imperialismo americano (um dos
chavões mais surrados de tanto uso). Só não se aponta a causa real da miséria
do Terceiro Mundo: a falta de caráter!
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 17 de dezembro de
1987).
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