Saturday, July 13, 2013

Maldição do Terceiro Mundo

Pedro J. Bondaczuk

A fraude, o engodo, a corrupção em todos os níveis e, no que se refere a eleições, o tão nosso conhecido voto de cabresto, parecem ser as principais características dos países do Terceiro Mundo. É um estigma, uma maldição, um vício de caráter que os acompanha desde a sua formação. Por isso, são o que são. Ou seja, a cauda, e nunca a cabeça do mundo.

Como já aconteceu antes nas Filipinas, no Haiti (onde o pleito presidencial sequer chegou a ser realizado) e em tantos outros recantos perdidos da África, Ásia e da América Latina, a eleição presidencial sul-coreana de ontem foi marcada por acusações da oposição de ter sido extremamente fraudulenta. E nem há porque duvidar dessas alegações.

No entanto,  partidos que se opõem ao governo do presidente Choo-Doo Hwan cometeram um tremendo erro de estratégia. Dividiram-se em várias facções, perdendo, por completo, a sua força. Matematicamente, olhando os resultados preliminares da consulta às urnas, pode-se afirmar que os oposicionistas, caso postulassem o poder com um único candidato, poderiam ter maioria de 48% de votos.

Poderiam, notem bem, pois ninguém é capaz de assegurar que, caso necessitasse, o governo não tivesse lançado mão de outros expedientes, ainda mais condenáveis do que aqueles que testemunhas juram que usou.

As práticas usadas na Coréia do Sul mostram que não há mesmo nada de novo debaixo do sol. Expedientes tão nossos conhecidos, como o voto-fantasma, emitido por pessoas que já morreram, a subtração de urnas, substituídas por outras, “batizadas”, gente votando duas vezes ou mais e outras práticas do tipo, constituem o grosso das denúncias.

Se elas procedem ou não é algo que fica por conta de cada um julgar. Mas que são verossímeis, ah, isso, sem dúvida alguma, são! Além de tudo, ao que parece, o voto de cabresto rolou solto. Pessoas despreparadas para a prática democrática (por falta de exercício, frise-se), teriam vendido seus sufrágios, em troca de alimentos, remédios, roupas, quando não de simples promessa de emprego no funcionalismo público, para elas ou para parentes.

Não é difícil, portanto, de se entender porque os países do Terceiro Mundo jamais deixam a sua situação de atraso. A chave de tudo está na fraude, na burla, na mentira institucionalizada. Mente-se em política, em administração, no cumprimento dos deveres fiscais, legais ou somente familiares.

Mentiras, mentiras e mais mentiras! Tudo é muito simples. Quando a situação complica, é só arranjar algum bode-expiatório: o sistema financeiro internacional, o comunismo, o imperialismo americano (um dos chavões mais surrados de tanto uso). Só não se aponta a causa real da miséria do Terceiro Mundo: a falta de caráter!

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 17 de dezembro de 1987).


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