Friday, July 26, 2013

Meu credo de vida


Pedro J. Bondaczuk

O homem prático, o que tem consciência das suas potencialidades e noção do seu papel no mundo, não vive com a mente presa em um passado, por melhor que ele possa ter sido, e nem tenta se projetar no futuro, que nem sabe se vai ter. Seu tempo é o "agora". Trabalha como se fosse viver eternamente e se prepara para deixar o "palco" do mundo, como se fosse morrer no próximo minuto. Tem consciência de que cada momento, por mais banal que pareça, é precioso, por ser único e poder ser o último, e procura usufruir ao máximo a vida.

Evita alimentar a memória com lembranças (não confundir com informações), que embora possam ser um consolo para os que já abriram mão da luta e apenas aguardam a morte (são tantos!), não têm um sentido prático. Age de forma incansável – embora buscando preservar a saúde que é o seu maior capital – consciente de que terá "a eternidade para descansar". Seu lazer é o trabalho. Bem ou mal, este é o meu caso. Todavia, não sou cem por cento racional (ninguém é). Destino grande espaço à emoção, embora sem deixá-la correr à rédea solta, incontrolável e caótica como um potro xucro ou mal domado.

Passo por cima de pequenos aborrecimentos e limito meus projetos ao factível. Ou seja, embora dê asas às fantasias, nunca permito que estas me levem longe demais. O passado e o futuro servem-me somente de referenciais. O primeiro, no sentido de correção dos rumos, para evitar cometer sempre os mesmos erros e tropeçar nos mesmos obstáculos em que já tropecei e o segundo como meta que pretendo alcançar, mas nunca posta distante demais ou demasiadamente alta, de forma a se tornar inalcançável. Tempero sonhos com realidade, sem pender nem para um lado e nem para o outro, optando por seguir o complicado “caminho do meio”, tendo que conviver, portanto, com a oposição dos dois lados.

Por isso, quando comento fatos passados, busco fazê-lo em sentido prático. Tento extrair – e transmitir aos outros na qualidade de comunicador – experiências e lições. Ou, quando eventualmente sofro algum incontrolável  "ataque" de sentimentalismo (às vezes, posto que raramente, isso acontece), procuro fazer dessas recordações um poema ou o enredo de um conto e em seguida esquecê-las. Ou, vez por outra, ilustração de algum conceito filosófico que tento realçar. Até aqui, essa estratégia tem dado certo. Por que, pois, mudar o que vem dando resultados? Não faz sentido, não é mesmo?

Tudo o que faço é coerente com meu objetivo de vida maior, que é o de tentar evitar a "segunda morte". Ou seja, impedir a extinção de toda e qualquer lembrança, em um futuro remotíssimo, de que vivi, amei, odiei, pensei, sonhei, sofri, tive alegrias, tristezas e saudades. De que fui homem, consciente e racional, integrado ao meu tempo e, sobretudo, útil. Ajo assim – reitero pela milésima vez – não por vaidade e nem por arrogância, mas por questão de justiça. Sou prático e não admito desperdícios, principalmente de esforços e de talento.

Não creio na sobrevivência da alma. Prezo as amizades autênticas, que não se prendam a circunstâncias e a interesses, embora tenha dificuldades em conquistar novos amigos. Mas valorizo as que simplesmente existem, sem qualquer motivo ou razão. Entendo que elas sobrevivem ao tempo, à distância, à memória e à própria morte. Sinto-me responsável, por exemplo, pela descendência de um amigo morto e procuro prestar-lhe socorro nas horas de necessidade, dentro das minhas possibilidades.

Sou apaixonadíssimo pela vida, a despeito das muitas armadilhas do acaso e de várias coisas desagradáveis a que as circunstâncias fortuitamente me expõem, como perdas de pessoas queridas, dores, injustiças, traições e vai por aí afora, males contra os quais procuro me prevenir, mas que, ainda assim, vez por outra me atingem.

Amo as artes, todas elas, e minha ambição sempre foi a de contar com talento para o exercício da totalidade delas, no que sempre me frustrei, porquanto minha única aptidão é para as letras, embora tenha muito que melhorar para atingir o patamar de qualidade que sempre aspirei. Mas continuo tentando, tentando e tentando, com persistência, gana e autodisciplina, sem me deixar abater pelo cansaço ou pelo desânimo. 

Este é o meu credo de vida, raras vezes interpretado e entendido em suas reais dimensões. Neste mundo de aparências, em que a "casca" é mais valorizada do que a essência, tenho experimentado mais críticas do que elogios, o que não me surpreende (embora muitas vezes me aborreça) e não deixa de se constituir até mesmo em bênção. Meus antagonistas, ao enfatizarem meus defeitos, estão me prestando um favor inestimável. Dão-me condições de melhorar.

Creio que sou parte da divindade e que Deus está presente em cada célula do meu corpo. Ao morrer, vou me transformar e cada partícula do meu ser, por ser indestrutível, estará em algum lugar do universo. Só o que fiz ou pensei tem remotíssima chance de sobreviver. Entre todo o conhecimento que ambiciono conseguir, o que mais espicaça a minha curiosidade é o mais difícil de todos de se ter: o sobre mim mesmo, ou seja, o autoconhecimento. Tento descobrir minhas motivações e entender o que impulsiona meus atos, embora raras vezes tenha sucesso.

Procuro a notoriedade, mas em sentido prático. Ou seja, como chave para abrir as portas da oportunidade. E para que minhas idéias e conceitos fiquem na memória do maior número possível de pessoas e evitem minha "segunda morte", como ocorreu com Platão, Homero, Sócrates, Aristóteles, Virgílio, Ovídio, etc.etc.etc., que vêm sobrevivendo, galhardamente, ao tempo e ao esquecimento.

Não me julgo superior e nem melhor do que ninguém, embora também não me ache inferior ou pior e detesto receber ou dar ordens, apesar de reconhecer a importância e a necessidade da existência de hierarquias em qualquer sociedade organizada. Esta é a visão que tenho de mim. Se o quadro não é fiel, paciência. Pelo menos sou sincero. Faltam meus defeitos? Estes nem preciso enumerar e muito menos enfatizar. São visíveis demais. As pessoas que me conhecem e convivem comigo os vislumbram sem qualquer dificuldade.


 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: