Educação
e crescimento
Pedro J. Bondaczuk
O presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso,
sociólogo de reconhecida competência em âmbito internacional, depois de fazer
um diagnóstico da realidade brasileira, dispôs-se a ouvir sugestões de
economistas e cientistas políticos, de vários perfis ideológicos, para
equacionar, em seus quatro anos de mandato, os principais problemas
brasileiros.
Promoveu, em 5 e 6 de dezembro de 1994, no
Itamaraty, um seminário intitulado "O Brasil e as Tendências Econômicas e
Políticas Contemporâneas", com a presença de várias personalidades do
Exterior. Ouviu, durante o encontro, teses de pessoas de todas as linhas de
pensamento, nacionais e estrangeiras, e certamente deve ter formado opinião
acerca da estratégia a adotar. E principalmente, do "timing", do
momento adequado de aplicar cada uma das táticas, para pôr fim a uma crise que
se arrasta há anos.
Todos os convidados enfatizaram um tema que deveria
ser óbvio, mas não tem sido encarado dessa forma: o da educação. Sem ela, de
nada valerão os esforços para a retomada do desenvolvimento, pois faltarão os
agentes necessários para a execução da tarefa. Muita, muitíssima coisa precisa
ser feita neste campo, a partir da valorização do professor, hoje colocado em
situação até ridícula, diante dos baixos salários que recebe.
Por conseqüência, por mais idealismo que possua, não
se sente motivado a se reciclar e a melhorar a qualidade do ensino que
ministra. Os currículos precisam ser modernizados, para que possam se adequar à
realidade do mundo moderno. E os meios utilizados para a transmissão de
conhecimentos têm que ser revistos, com o uso dos sofisticados meios de
comunicação e informação em massa disponíveis.
A educação do brasileiro, convenhamos, vai mal, já a
partir do ensino do próprio idioma, que por isso começa a ficar
descaracterizado, diríamos, "desossado", em relação à matriz
portuguesa. Todas essas reformas, no entanto, requerem recursos. Não para
investimentos apenas em prédios, na construção de novas escolas, que por si sós
não ensinam ninguém.
A alma do processo educativo é, e sempre será, o
professor. Motivado, ele poderá ensinar, como faziam os filósofos gregos, até
ao relento. Claro que os políticos --- muitos de olho na possibilidade de
superfaturar obras e outros objetivando ter algo literalmente concreto para
mostrar aos eleitores nas campanhas eleitorais --- entendem que investir na
educação é apenas construir novas unidades escolares, mesmo que elas não sejam
dotadas das condições mínimas de operacionalidade.
O presidente eleito, por seu turno, mandou um recado
aos apressadinhos. Deixou claro que não vai sair por aí fazendo mudanças a
torto e a direito, tão logo assuma, no dia 1º próximo. Disse que seguirá um
cronograma tendo em vista os objetivos de "garantir a estabilidade e
crescimento da economia", de forma a se introduzir o conceito da
"eqüidade social". Ou seja, pretende utilizar-se de mecanismos ---
que não revelou quais são --- de redistribuição de renda, já que o País, neste
aspecto, é um dos mais injustos do mundo.
Assegurou que, embora muitos possam achar lentas
suas ações, ao cabo dos quatro anos de seu mandato pretende entregar um outro
Brasil ao sucessor, sem os desequilíbrios e aberrações que o caracterizam, e na
trilha segura do desenvolvimento auto-sustentado. Condições políticas para isso
não lhe faltarão. E muito menos preparo, já que Fernando Henrique Cardoso é,
reconhecidamente, um dos presidentes mais cultos da história brasileira.
Cobranças, que ele esteja certo, não lhe faltarão, tão logo termine a fase de
"lua-de-mel" da sua posse.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de dezembro de 1994)
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