Tuesday, July 23, 2013

Meio de campo irritante


Pedro J. Bondaczuk


A seleção brasileira venceu com folga os temidos "Leões Indomáveis" de Camarões que, na prática, se mostraram gatinhos mansos. Em momento algum a defesa do Brasil foi molestada e Taffarel sequer sujou seu uniforme. Teve a oportunidade de pegar, durante todo o jogo, em chutes contra o gol, uma única bola, do veterano Roger Milla, que não passou de um reles recuo.

No mais, não fez nada, o que atesta a solidez do sistema defensivo. "Então a vitória foi convincente?", perguntaria o leitor. Não! A Seleção revelou muitas falhas no meio de campo, com nova atuação medíocre de Zinho, um craque que não conseguiu ainda encontrar o seu espaço nesta Copa, e a recaída de Raí.

O Brasil está com uma defesa com eficiência absoluta, já que ao lado da Bélgica foi o único selecionado que não sofreu um único gol. O ataque, embora em raríssimas oportunidades tenha sido acionado de forma adequada, cumpriu o seu papel. É o segundo mais efetivo da Copa e perdeu no mínimo 11 chances reais de marcar em duas partidas, o que atesta que pelo menos criou alguma coisa.

Mas o meio de campo está irritante. Mostrou-se extremamente lento, dispersivo, com uma quantidade absurda de passes errados. Continua sendo o setor deficiente da Seleção, repetindo o que já havia ocorrido durante as Eliminatórias e os amistosos que antecederam o Mundial.

Merece menção especial a substituição feita pelo técnico Carlos Alberto Parreira no segundo tempo da partida contra Camarões. Com o Brasil vencendo o jogo por 3 a 0, com condições de ampliar muito o placar diante de um adversário que jogava com apenas dez jogadores, exausto, baleado, entregue, nosso treinador coloca em campo o ciscador e inexpressivo Paulo Sérgio, que nunca mostrou coisa alguma em toda a sua carreira, incluindo seu desempenho no campeonato alemão, para justificar ao menos sua convocação.

Como ninguém também entende a insistência em manter Raí e Zinho como meros "assistentes de luxo" dos laterais. O meio de campo brasileiro, na partida contra Camarões, foi tão ruim que o melhor dos quatro jogadores que atuaram nessa faixa do gramado foi o eterno carregador de piano, Dunga.

Somos daqueles que entendem que a nossa versão cabocla de Arnold Schwarzennegger sempre foi um injustiçado por parte da imprensa e da torcida. Trata-se de alguém muito esforçado, de extrema utilidade na marcação e muita garra. Mas daí a ser encarado como craque...

(Artigo publicado na página 2, do caderno "Copa 94" do Correio Popular, em 27 de junho de 1994).


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