Rádio e Literatura
Pedro
J. Bondaczuk
O rádio foi, na
primeira metade do século XX, o grande veículo de comunicação voltado às massas
e não somente no Brasil, mas, sobretudo, nos Estados Unidos. Na terra de Tio
Sam, por exemplo, as décadas de 20 e de 30 do século passado ficaram conhecidas
como “Old-time Radio” ou “Golden Age of the Radio”.
No Brasil, o auge desse
veículo de comunicação se deu nas décadas de 40 e de 50. A despeito dos
prognósticos feitos por muitos de que, com o advento da televisão (e mais tarde
da internet) o rádio não teria futuro e seria logo abandonado, isso não
aconteceu. Apenas mudou as características da programação e... sobrevive, mais
forte do que nunca, atualmente, aproveitando-se, inclusive, dos próprios
avanços tecnológicos que, supostamente, iriam “matá-lo”. Principalmente do
computador pessoal, o tal do PC.
Hoje o rádio é ouvido
por milhões de pessoas mundo afora, no carro (na ida para o trabalho), nos
estádios de futebol (para esclarecer o torcedor sobre os lances que ele vê, mas
fica em dúvida) e em todo e qualquer lugar que se possa imaginar. No meu caso,
é companhia permanente, constante e insubstituível. Tenho vários receptores –
um elétrico, dois portáteis sendo um deles menor do que um maço de cigarros e
outro no carro – além de sintonizar as emissoras da minha preferência via
computador. E quando, eventualmente, esqueço de levar comigo meu radinho de
pilha, ouço meus programas prediletos pelo celular.
Sou suspeito para falar
sobre rádio. Sua importância em minha vida é inigualável. Afinal, a primeira
profissão que exerci e que consta da minha carteira profissional foi exatamente
a de radialista. E isso, com meus verdes e promissores 18 anos de idade. Fiz um
pouco de tudo nesse veículo de comunicação de massas. Fui locutor, produtor,
“disk-jóckei” (função que não existe mais, que consistia em comandar programas
musicais de lançamentos de novos discos), repórter, apresentador de jornal
falado, comentarista (tanto político, quanto de futebol), plantão esportivo e
vai por aí afora.
Amo o rádio e não
apenas por haver trabalhado nele, mas por ser meu companheirão constante por
anos e anos a fio. Agora o é até mais do que antes. Sobre as funções que
exerci, creio que apenas não trabalhei na mesa de som e não fiz transmissões
esportivas, como narrador de jogos de futebol. No mais, fiz um pouco de tudo, e
sempre com entusiasmo e ludicamente. Esteja onde estiver, sempre tenho comigo
um receptor bem à mão. Agora, por exemplo, neste exato momento em que redijo
estas reflexões (no caso, memórias), estou sintonizado nas ondas da Rádio
Bandeirantes de São Paulo. E isso não atrapalha a coordenação de idéias? No meu
caso, não. Estou acostumado a escrever ouvindo rádio. E quando não ele, ouvindo
alguma música suave, de preferência clássica. O silêncio absoluto é que me
atrapalha.
E o que o rádio tem a
ver com literatura? Na prática, nada! Mas, potencialmente, tem muito a ver.
Estou convicto que nós, escritores, ignoramos esse veículo que, se fosse
inteligentemente utilizado, poderia nos ser de imensa valia. Baseio-me em uma
experiência pessoal de 1961, quando trabalhava na Rádio Emissora ABC, de Santo
André, município da Grande São Paulo. Na ocasião, cismei de apresentar um
programa só de Literatura, com informações sobre lançamentos de livros,
entrevistas com escritores, apresentação de textos literários etc. etc.etc.
Levei a idéia à direção da emissora, que tentou me demover dessa “infeliz” (no
entender do diretor de programação) iniciativa.
Não me dei por vencido.
Comprei um horário, que repassei para patrocinadores, no caso, algumas
livrarias da cidade. Houve momento em que quase desisti e por pouco não me
convenci de que estava fazendo bobagem. Será que eu não falaria sozinho,
espantando ouvintes, como os colegas me advertiam que iria ocorrer? Haveria
quem pudesse se interessar pelo assunto em um país que supostamente detesta
leitura (e naquele tempo a coisa era infinitamente pior do que hoje, pois os
índices de analfabetismo ultrapassavam os 60%)?
Qual não foi a surpresa
geral, no entanto (inclusive minha), quando boletins de audiência mostraram que
o programa era o terceiro mais ouvido da emissora. O segredo estava na
produção. Tive muita sorte, é verdade, principalmente nas entrevistas com
escritores. Coincidentemente, todos os que entrevistei tinham imensa capacidade
de comunicação (convenhamos, são raros os que são assim). Além disso, eu tive o
capricho de mesclar o blá-blá-blá característico do rádio com canções
expressivas (nem todas sucessos populares, mas todas belíssimas) cujas letras
eram cuidadosamente analisadas antes por um poeta. E o leitor há de convir que
inúmeras composições do nosso cancioneiro popular são poemas musicados de
extrema beleza, dignos de figurar em qualquer boa antologia. Basta analisar,
entre outras, por exemplo, as letras compostas pelo “poetinha”, Vinícius de
Moraes, cujo centenário de nascimento será comemorado em outubro deste ano.
Em resumo, o programa
permaneceu no ar, sempre com excelentes índices de audiência, por dois anos,
tive relativo lucro com ele e só saiu da programação quando fui contratado por
outra emissora, para exercer função específica em que não cabia esse tipo de
apresentação.
E hoje, haveria espaço
para Literatura no rádio? Entendo que sim! Provavelmente, não teria a mesma
audiência de então, dada a maior variedade de opções, tanto para o ouvinte fiel
e constante, quanto para o apenas potencial. Todavia, desde que bem produzido,
com inteligência, bom gosto e imaginação, creio que faria sucesso sim. Por que
não?!!! Ademais, se ninguém tentar, jamais haveremos de saber.
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