Tuesday, July 30, 2013

Conflito no Golfo ameaça se expandir

Pedro J. Bondaczuk


O atual estado de tensão no Golfo Pérsico, que começou em 17 de maio passado, quando do ataque iraquiano à fragata norte-americana “USS Stark”, e que vem se acentuando, principalmente após a operação de embandeiramento dos petroleiros do Kuwait, traz em seu bojo um risco tão grande, ou até mesmo maior, do que a ampliação desse conflito regional. Coloca em perigo, virtualmente, cidadãos e bens das grandes potências em todas as partes do mundo, que se tornam passivos de atentados terroristas por parte dos iranianos.

Um alerta nesse sentido foi feito anteontem, em mensagem muito lúcida, transmitida, via satélite, para a Europa e para Israel, pelo subsecretário de Estado dos Estados Unidos, Richard Murphy. Ele fez uma afirmação muito judiciosa a esse propósito e que convém ser levada a sério, para que se evitem dolorosos contratempos no futuro. Disse: “Teoricamente, existe o risco de que a ampliação de nossa presença no Golfo esteja sendo vista como provocação pelo Irã e como uma atração para nos atingir como alvo. Os iranianos, ao que parece, estariam se sentindo acuados no momento, de costas para a parede, defendendo a visão do Islã contra o mundo. A tensão é grande como nunca. E o Irã poderia lançar atentados, já que nunca antes hesitou em adotar essa tática”.

Mas se os iranianos podem vir a recorrer ao terrorismo, como arma em seu conflito contra os Estados Unidos e seus aliados do Golfo, corre, também, o risco de ser, igualmente, vítima dessa tática. Círculos muçulmanos, especialmente sunitas, reagiram negativamente aos tumultos protagonizados por peregrinos do Irã em Meca, na semana passada, embora estes tenham se constituído na maioria das vítimas.

E ontem, em Beirute, cidade em que hoje aparece com a maior nitidez a crescente divisão que se verifica no mundo islâmico, houve uma pitoresca (se não fosse perigosa) troca de ameaças entre duas organizações até aqui desconhecidas, de seitas contrárias.

Uma delas, a xiita, prometeu vingar-se da Arábia Saudita pelo massacre de sexta-feira passada, e dos Estados Unidos, que para ela seriam os mentores desse ataque. A outra, sunita, prometeu retaliar o Irã pelo desrespeito à cidade sagrada de Meca.

Ao que tudo indica, portanto, e se diplomatas hábeis não interferirem para deter essa escalada de violências, teremos muitos fatos a lamentar, nos próximos dias, como sempre envolvendo pessoas inocentes e alheias às querelas políticas. Afinal, ódio gera ódio e agressão produz nova agressão.   

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 8 de agosto de 1987)


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