Conflito
no Golfo ameaça se expandir
Pedro J. Bondaczuk
O atual estado de tensão no Golfo Pérsico, que
começou em 17 de maio passado, quando do ataque iraquiano à fragata
norte-americana “USS Stark”, e que vem se acentuando, principalmente após a
operação de embandeiramento dos petroleiros do Kuwait, traz em seu bojo um
risco tão grande, ou até mesmo maior, do que a ampliação desse conflito
regional. Coloca em perigo, virtualmente, cidadãos e bens das grandes potências
em todas as partes do mundo, que se tornam passivos de atentados terroristas
por parte dos iranianos.
Um alerta nesse sentido foi feito anteontem, em
mensagem muito lúcida, transmitida, via satélite, para a Europa e para Israel,
pelo subsecretário de Estado dos Estados Unidos, Richard Murphy. Ele fez uma
afirmação muito judiciosa a esse propósito e que convém ser levada a sério,
para que se evitem dolorosos contratempos no futuro. Disse: “Teoricamente,
existe o risco de que a ampliação de nossa presença no Golfo esteja sendo vista
como provocação pelo Irã e como uma atração para nos atingir como alvo. Os
iranianos, ao que parece, estariam se sentindo acuados no momento, de costas
para a parede, defendendo a visão do Islã contra o mundo. A tensão é grande
como nunca. E o Irã poderia lançar atentados, já que nunca antes hesitou em
adotar essa tática”.
Mas se os iranianos podem vir a recorrer ao
terrorismo, como arma em seu conflito contra os Estados Unidos e seus aliados
do Golfo, corre, também, o risco de ser, igualmente, vítima dessa tática. Círculos
muçulmanos, especialmente sunitas, reagiram negativamente aos tumultos
protagonizados por peregrinos do Irã em Meca, na semana passada, embora estes
tenham se constituído na maioria das vítimas.
E ontem, em Beirute, cidade em que hoje aparece com a
maior nitidez a crescente divisão que se verifica no mundo islâmico, houve uma
pitoresca (se não fosse perigosa) troca de ameaças entre duas organizações até
aqui desconhecidas, de seitas contrárias.
Uma delas, a xiita, prometeu vingar-se da Arábia
Saudita pelo massacre de sexta-feira passada, e dos Estados Unidos, que para
ela seriam os mentores desse ataque. A outra, sunita, prometeu retaliar o Irã
pelo desrespeito à cidade sagrada de Meca.
Ao que tudo indica, portanto, e se diplomatas hábeis
não interferirem para deter essa escalada de violências, teremos muitos fatos a
lamentar, nos próximos dias, como sempre envolvendo pessoas inocentes e alheias
às querelas políticas. Afinal, ódio gera ódio e agressão produz nova agressão.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 8 de agosto de 1987)
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