Saturday, July 06, 2013

Crônica do Dia

Conclusões e opiniões pertinentes

Pedro J. Bondaczuk

"A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos". Esta é uma das tantas conclusões de Sigmund Freud, se não a mais importante de todas. Não irei me aprofundar nas teorias psicanalíticas desse gênio, porquanto esta não é a proposta destas reflexões. Ademais, como já ressaltei muitas vezes, não sou perito na matéria. Esse aprofundamento cabe, apenas, aos psicanalistas e não se faz com duas ou três leituras. É um processo demorado que requer muito estudo, muita experiência e, sobretudo, autoconhecimento. E faz todo sentido.

Como alguém pode achar que é capaz de conhecer outra pessoa, no que esta tem de mais íntimo e de mais profundo, como a composição e funcionamento da sua consciência, se antes não conhecer sequer a si mesma? Não por acaso, todo psicanalista, quando se prepara para de exercer a profissão, é meticulosamente psicanalisado.  

Antes de entrar em detalhes sobre a vida e a obra dos discípulos (alguns, seguidores e outros, seus contestadores) de Freud, considero oportuno conhecer um pouco mais da essência do pensamento desse homem corajoso e lúcido a propósito do ser humano, da vida, da civilização e dos relacionamentos humanos. A melhor maneira de fazê-lo é trazendo à baila declarações esparsas, sem ordem específica, como se ele estivesse sendo psicanalisado e dizendo espontaneamente a primeira coisa que lhe viesse à cabeça, sem raciocinar, fazendo-o por impulso.  

Uma das suas afirmações mais polêmicas é esta: "A sede de conhecimento parece ser inseparável da curiosidade sexual". Para os falsos moralistas (que há por aí aos montes) isso soou como heresia. Os detratores de Freud acusaram-no de dar importância excessiva ao sexo. Ora, ora, ora. Existe outro meio de perpetuação da espécie? Qual? Há instinto mais forte e poderoso do que o sexual? Certamente que não. A sociedade é que distorceu, conspurcou e fez dessa função fundamental um tabu. Criou tantas e tamanhas restrições a propósito, que a tornou obscena e imoral.   


Esta declaração de Freud é praticamente complemento da anterior: "O homem enérgico e que é bem sucedido é o que consegue transformar em realidades as fantasias do desejo". Ou seja, é o que tem o Ego bem resolvido, que consegue viabilizar o apelo instintivo e irracional do ID sem, contudo, violar os ditames do Superego. Ou seja, sem entrar em conflito com a moral e com as regras que norteiam a sociedade em que está inserido. Isso é impossível se a pessoa não se conhecer profundamente. Mas o prêmio é para lá de compensador: o sucesso.

Outra conclusão importante a que Sigmund Freud chegou é a de que, nem sempre, aquela incômoda vozinha interior, quase sempre acusadora, chamada, genericamente, de “consciência”, é nossa aliada. Se exacerbada, pode se constituir em nossa inimiga e transformar-se em fonte de neuroses e de outros desarranjos psicológicos. Ele constatou, certa feita: "Longe de ser o juiz implacável de que falam os moralistas, a nossa consciência é, pelas suas origens, ‘angústia social’ e nada mais".

Trata-se de estratégia do Superego para avaliar as ações do Ego em sua tentativa de viabilizar os desejos instintivos do ID. Não raro, porém, condena a priori atos normais e não condenáveis, instalando na pessoa o sentimento de culpa. Às vezes a consciência nos acusa sequer por alguma ação, mas por mero pensamento, que considere imoral ou anti-social. E não é necessário ser nenhum gênio para depreender que essa auto-repressão não só não nos beneficia, como nos prejudica e não raro adoece.

Os instintos, em si, não são ruins e nem negativos. Algumas das formas de satisfazer os desejos é que podem ser inadequadas e inoportunas. O ID foi chamado, metaforicamente, por Freud, de “demônio do homem”, por sua característica selvagem e sem freios. Não houvesse o Ego, para adequá-lo à realidade, e o Superego, para tornar a viabilização dos desejos aceitável pela sociedade, ele seria, não raro, destrutivo e letal. No entanto, é o que de mais autêntico nós temos. É nosso fundamento, nossa essência, nossa característica mais genuína, enquanto seres vivos. Daí Freud haver concluído: "O demônio do homem (o ID) é o que nele há de melhor, é o próprio homem. Não se deve empreender coisa alguma de que se não goste realmente". E não estava com a razão?

Finalmente, considero oportuno comentar mais uma declaração igualmente polêmica  dada pelo “Pai da Psicanálise”. É consensual a afirmação que a liberdade é um dos bens supremos do homem e de qualquer ser vivo. Certo? Para Freud, nem sempre. Pelo contrário, sua longa experiência com indivíduos de todos os tipos, levou-o a concluir que “a maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade”.

Concordo com essa observação, por mais politicamente incorreta que pareça ou de fato seja. Isso não quer dizer que possamos cercear a liberdade alheia, seja a que pretexto for, ou abrir mão da nossa por considerá-la incômodo peso. O que devemos é desenvolver o senso de responsabilidade pessoal, sem medo de assumir encargos e estimular os outros a agirem da mesma forma.


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