Conclusões e opiniões pertinentes
Pedro J. Bondaczuk
"A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os
nossos instintos". Esta é uma das tantas conclusões de Sigmund Freud, se
não a mais importante de todas. Não irei me aprofundar nas teorias
psicanalíticas desse gênio, porquanto esta não é a proposta destas reflexões.
Ademais, como já ressaltei muitas vezes, não sou perito na matéria. Esse
aprofundamento cabe, apenas, aos psicanalistas e não se faz com duas ou três
leituras. É um processo demorado que requer muito estudo, muita experiência e,
sobretudo, autoconhecimento. E faz todo sentido.
Como alguém pode achar que é capaz de conhecer outra pessoa, no que
esta tem de mais íntimo e de mais profundo, como a composição e funcionamento
da sua consciência, se antes não conhecer sequer a si mesma? Não por acaso,
todo psicanalista, quando se prepara para de exercer a profissão, é
meticulosamente psicanalisado.
Antes de entrar em detalhes sobre a vida e a obra dos discípulos
(alguns, seguidores e outros, seus contestadores) de Freud, considero oportuno
conhecer um pouco mais da essência do pensamento desse homem corajoso e lúcido
a propósito do ser humano, da vida, da civilização e dos relacionamentos
humanos. A melhor maneira de fazê-lo é trazendo à baila declarações esparsas,
sem ordem específica, como se ele estivesse sendo psicanalisado e dizendo
espontaneamente a primeira coisa que lhe viesse à cabeça, sem raciocinar,
fazendo-o por impulso.
Uma das suas afirmações mais polêmicas é esta: "A sede de
conhecimento parece ser inseparável da curiosidade sexual". Para os falsos
moralistas (que há por aí aos montes) isso soou como heresia. Os detratores de
Freud acusaram-no de dar importância excessiva ao sexo. Ora, ora, ora. Existe
outro meio de perpetuação da espécie? Qual? Há instinto mais forte e poderoso
do que o sexual? Certamente que não. A sociedade é que distorceu, conspurcou e
fez dessa função fundamental um tabu. Criou tantas e tamanhas restrições a
propósito, que a tornou obscena e imoral.
Esta declaração de Freud é praticamente complemento da anterior:
"O homem enérgico e que é bem sucedido é o que consegue transformar em
realidades as fantasias do desejo". Ou seja, é o que tem o Ego bem
resolvido, que consegue viabilizar o apelo instintivo e irracional do ID sem,
contudo, violar os ditames do Superego. Ou seja, sem entrar em conflito com a
moral e com as regras que norteiam a sociedade em que está inserido. Isso é
impossível se a pessoa não se conhecer profundamente. Mas o prêmio é para lá de
compensador: o sucesso.
Outra conclusão importante a que Sigmund Freud chegou é a de que, nem
sempre, aquela incômoda vozinha interior, quase sempre acusadora, chamada,
genericamente, de “consciência”, é nossa aliada. Se exacerbada, pode se constituir
em nossa inimiga e transformar-se em fonte de neuroses e de outros desarranjos
psicológicos. Ele constatou, certa feita: "Longe de ser o juiz implacável
de que falam os moralistas, a nossa consciência é, pelas suas origens,
‘angústia social’ e nada mais".
Trata-se de estratégia do Superego para avaliar as ações do Ego em sua
tentativa de viabilizar os desejos instintivos do ID. Não raro, porém, condena
a priori atos normais e não condenáveis, instalando na pessoa o sentimento de
culpa. Às vezes a consciência nos acusa sequer por alguma ação, mas por mero
pensamento, que considere imoral ou anti-social. E não é necessário ser nenhum
gênio para depreender que essa auto-repressão não só não nos beneficia, como
nos prejudica e não raro adoece.
Os instintos, em si, não são ruins e nem negativos. Algumas das formas
de satisfazer os desejos é que podem ser inadequadas e inoportunas. O ID foi
chamado, metaforicamente, por Freud, de “demônio do homem”, por sua
característica selvagem e sem freios. Não houvesse o Ego, para adequá-lo à
realidade, e o Superego, para tornar a viabilização dos desejos aceitável pela
sociedade, ele seria, não raro, destrutivo e letal. No entanto, é o que de mais
autêntico nós temos. É nosso fundamento, nossa essência, nossa característica
mais genuína, enquanto seres vivos. Daí Freud haver concluído: "O demônio
do homem (o ID) é o que nele há de melhor, é o próprio homem. Não se deve
empreender coisa alguma de que se não goste realmente". E não estava com a
razão?
Finalmente, considero oportuno comentar mais uma declaração igualmente
polêmica dada pelo “Pai da Psicanálise”.
É consensual a afirmação que a liberdade é um dos bens supremos do homem e de
qualquer ser vivo. Certo? Para Freud, nem sempre. Pelo contrário, sua longa
experiência com indivíduos de todos os tipos, levou-o a concluir que “a maioria das pessoas não quer realmente a liberdade,
pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de
responsabilidade”.
Concordo
com essa observação, por mais politicamente incorreta que pareça ou de fato
seja. Isso não quer dizer que possamos cercear a liberdade alheia, seja a que
pretexto for, ou abrir mão da nossa por considerá-la incômodo peso. O que
devemos é desenvolver o senso de responsabilidade pessoal, sem medo de assumir
encargos e estimular os outros a agirem da mesma forma.
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