Do
cotidiano
Pedro J. Bondaczuk
Do despertar:
Acordo. Outro
dia nublado.
Certamente,
teremos tormenta.
O café está
frio e aguado.
Caramba! Já
são seis e cinqüenta!
Mais uma vez,
estou atrasado.
Eu sou, mesmo,
desorganizado,
pois há tempos
que já estou de pé.
Tudo isso me
deixa irritado.
Não vou, nem
mesmo, tomar café.
Do ponto de ônibus:
Passo na
banca, compro um jornal.
Que maçada!
Terrível azia,
o pastel
gelado me fez mal!
De novo,
comecei mal o dia.
E agora esta
garoa fininha,
gelada, não
pára de cair!
Ó paciência! Ó
paciência minha!
Os preços não
param de subir.
Meu time
voltou a jogar mal
e, mais uma
vez, foi derrotado,
apesar de um
(cavado) penal.
Êta ônibus
demorado!
Arre! Lotado!
Estava na cara.
Mas como molha
esta chuvinha!
E esta
tartaruga, como pára!
Mais parece
lata de sardinha.
Do trabalho:
Encrenca,
estou de novo atrasado.
Eu venho
agindo com imprudência
e o meu chefe
está mal-humorado:
aqui só há
cobrança e exigência.
Preciso de
aumento de salário.
Como arde esta
maldita azia!
Mas como é
duro ser operário,
escravizado à
burocracia!
Que calor!
Preguiça, estou com sono.
Procuro o boy.
Cadê? Se mandou!
Que maçada! A
firma não tem dono?!
Ufa! Mais um
dia que acabou
Da noite:
Com esta vida,
vou ter um treco.
De fato, eu estou mal na fita.
Decido parar
nesse boteco
e saborear
minha birita.
Que droga, ô
português danado,
acostumado a sacanear,
o meu troco
está de novo errado
e não tenho
com quem reclamar!
Que tristeza é
a casa vazia!
A solidão é
enorme, extrema.
Vou comer a
janta mesmo fria
e depois quero
ir ao cinema.
Do amor:
Cheguei. Vou
convidar a morena,
aquela que está junto ao cartaz.
Só espero que
não faça cena.
Não quero
encrenca, pois sou de paz.
Que bom! Como
beija esta menina!
Mas é arisca,
como um coelho.
Enlaço sua
cintura fina
e avanço a mão
pelo seu joelho.
Como sempre, o
que é bom dura pouco.
Porém,
convido-a a dormir comigo.
Ela diz não,
chama-me de louco,
diz que estou
brincando com perigo!
Hummm!!! Que
bom! Ela sabe beijar!
Eu encontrei
minha amada. Bingo!
Decido novo
encontro marcar
no mesmo
cinema, no domingo.
Já é
meia-noite, eu vou indo.
Na testa,
acentua-se o vinco.
Eu já deveria
estar dormindo,
porquanto
amanhã acordo às cinco.
E assim, entra
dia, passa dia,
sinto a
juventude ser perdida
nesta rotina
doida e vazia.
Êta vida mais
aborrecida!
(Poema
composto em São Caetano
do Sul, em 22 de outubro de 1965).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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