Friday, July 19, 2013

Do cotidiano

Pedro J. Bondaczuk

Do despertar:

Acordo. Outro dia nublado.
Certamente, teremos tormenta.
O café está frio e aguado.
Caramba! Já são seis e cinqüenta!
Mais uma vez, estou atrasado.

Eu sou, mesmo, desorganizado,
pois há tempos que já estou de pé.
Tudo isso me deixa irritado.
Não vou, nem mesmo, tomar café.

Do ponto de ônibus:

Passo na banca, compro um jornal.
Que maçada! Terrível azia,
o pastel gelado me fez mal!
De novo, comecei mal o dia.
E agora esta garoa fininha,
gelada, não pára de cair!
Ó paciência! Ó paciência minha!
Os preços não param de subir.

Meu time voltou a jogar mal
e, mais uma vez, foi derrotado,
apesar de um (cavado) penal.
Êta ônibus demorado!

Arre! Lotado! Estava na cara.
Mas como molha esta chuvinha!
E esta tartaruga, como pára!
Mais parece lata de sardinha.

Do trabalho:

Encrenca, estou de novo atrasado.
Eu venho agindo com imprudência
e o meu chefe está mal-humorado:
aqui só há cobrança e exigência.

Preciso de aumento de salário.
Como arde esta maldita azia!
Mas como é duro ser operário,
escravizado à burocracia!

Que calor! Preguiça, estou com sono.
Procuro o boy. Cadê? Se mandou!
Que maçada! A firma não tem dono?!
Ufa! Mais um dia que acabou  

Da noite:

Com esta vida, vou ter um treco.
 De fato, eu estou mal na fita.
Decido parar nesse boteco
e saborear minha birita.

Que droga, ô português danado,
acostumado  a sacanear,
o meu troco está de novo errado
e não tenho com quem reclamar!

Que tristeza é a casa vazia!
A solidão é enorme, extrema.
Vou comer a janta mesmo fria
e depois quero ir ao cinema.

Do amor:

Cheguei. Vou convidar a morena,
            aquela que está junto ao cartaz.
Só espero que não faça cena.
Não quero encrenca, pois sou de paz.

Que bom! Como beija esta menina!
Mas é arisca, como um coelho.
Enlaço sua cintura fina
e avanço a mão pelo seu joelho.

Como sempre, o que é bom dura pouco.
Porém, convido-a a dormir comigo.
Ela diz não, chama-me de louco,
diz que estou brincando com perigo!

Hummm!!! Que bom! Ela sabe beijar!
Eu encontrei minha amada. Bingo!
Decido novo encontro marcar
no mesmo cinema, no domingo.

Já é meia-noite, eu vou indo.
Na testa, acentua-se o vinco.
Eu já deveria estar dormindo,
porquanto amanhã acordo às cinco.

E assim, entra dia, passa dia,
sinto a juventude ser perdida
nesta rotina doida e vazia.
Êta vida mais aborrecida!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 22 de outubro de 1965).



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