Pedro J. Bondaczuk
O provável assassinato do padre polonês Jerzy Popieluszko, assumido por três policiais ligados ao Ministério do Interior da Polônia, parece ter a clara intenção de criar sérias dificuldades ao primeiro-ministro Wojciech Jaruzelski, que ultimamente até andava um tanto às boas com os operários do país, especialmente os ligados ao proscrito sindicato Solidariedade, após a concessão de anistia aos presos políticos, concedida recentemente.
Ao governo, certamente, não interessaria um caso dessas proporções, envolvendo pessoa tão querida num país que, embora de regime marxista, tem 94% de sua população professando a fé católica e que deu para o mundo essa figura extraordinária, que é o papa João Paulo II.
Mas na Polônia, como em muitos outros países, há pessoas que querem ser mais realistas do que o próprio rei. Há grupos radicais, que se opuseram a esse tímido esboço de pacificação nacional, iniciado através do gesto de boa vontade do primeiro-ministro, que foi a recente anistia.
Certamente são indivíduos saudosos de outros tempos (de triste lembrança para os poloneses) quando o que ocorria em seu território ficava encoberto por uma cortina de silêncio. Amigos da tese do “quanto pior, melhor”, perpetraram essa hedionda e estúpida ação, e contra um homem de paz.
Contra uma pessoa que sempre dedicou o melhor de seus esforços na busca de novos caminhos para a atormentada Polônia, vítima, ao longo da história européia, da prepotência de Estados mais fortes, tendo atravessado a maior parte de sua trajetória histórica sob ocupação estrangeira, ora da Prússia (atual Alemanha), ora da Rússia dos czares, ora da Suécia e de outros tantos aventureiros militares, que devastaram, rapinaram, assassinaram e subjugaram esse povo altivo e generoso.
O grande “pecado” dos poloneses, pelo qual, aliás, não lhes cabe qualquer culpa, é o país estar localizado onde está. Ou seja, na encruzilhada de dois mundos, a meio caminho entre o Leste e o Oeste da Europa. Por causa da “cidade livre de Dantzing”, hoje Gdansk, onde meia dúzia de germânicos deram, há 45 anos, pretexto para a tentativa de Hitler de concretizar sua delirante fantasia de submeter o mundo ao seu comando, a Polônia foi invadida, a um minuto da madrugada de 1º de setembro de 1939, sendo vítima indefesa da maior carnificina da história moderna.
Na hora da grande decisão, seus pretensos aliados a abandonaram ou fizeram um vergonhoso pacto com o inimigo, permitindo que no confronto desigual de seu Exército, equipado apenas com heroísmo e com espadas e lanças, contra o moderníssimo aparato bélico nazista, o país fosse conquistado em apenas uma semana, com centenas de milhares de patriotas massacrados na vã tentativa de evitar novo período de dominação. Por causa de alguns oportunistas, minoria absoluta na população, a Polônia é forçada a prestar, hoje, vassalagem à União Soviética.
Chega a ser caso de se duvidar que os autores desse nada louvável episódio com o padre Popieluszko sejam conterrâneos de homens como Pielsudzki, no passado, ou como Walesa e Carol Woijtyla, no presente. Um incidente desta espécie não traz benefícios a ninguém. Nem ao governo de Jaruzelski, nem ao Solidariedade e nem mesmo aos russos, que estão ainda sob fogo cruzado da opinião pública internacional pelas suas ações no Afeganistão.
Só pode interessar, mesmo, a um bandinho de inconseqüentes e irresponsáveis, certamente saudoso dos tempos em que suas ordens não tinham contestação e que seus atos e crimes não repercutiam em nível externo, ficando confinados entre as “quatro paredes” de um estúpido Estado policial.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 30 de outubro de 1984).
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