Wednesday, September 26, 2012

Aventuras da imaginação

Pedro J. Bondaczuk

As fontes de energia, que garantem a existência e o progresso da atual civilização, nesta era que pode ser caracterizada como a da comunicação total (total?), está próxima de se exaurir. Tratei, recentemente, desse tema, ressaltando as consequências dessa exaustão, caso não se encontrem alternativas práticas, racionais, viáveis e imediatas. Se estas não forem descobertas, e logo, nosso padrão de vida atual será apenas lembrança e, quando muito, mero registro histórico, caso ainda seja possível registrar a História. Até isso correria sérios riscos.

Pesquisadores da área se debruçam sobre o problema em busca de soluções. Sugestões há muitas, mas nenhuma delas se mostrou viável, pelo menos por enquanto, para substituir as fontes de energia fósseis – petróleo e carvão – ou hidrelétrica. Elas podem, no máximo, ser complementares, mas não substitutas, não ao menos neste momento, por razões que apontei no referido texto.

Qual seria a alternativa? Para muitos cientistas, seria o espaço. Para estes, a solução estaria fora da Terra, onde há abundância de fontes energéticas capazes de abastecer a humanidade com matérias-primas essenciais, próximas do esgotamento, e não por um ou dois séculos, ou mesmo vários milênios, mas por milhões de anos. Fazer essa afirmação, a de que o Cosmo é a grande possibilidade para o homem no futuro, até que é fácil. Complicado é viabilizar essa empreitada.

O escritor britânico Arthur C. Clarke, no artigo “O futuro no mundo das comunicações”, – publicado, no Brasil, no “Suplemento Literário” do jornal “O Estado de São Paulo”, em 3 de setembro de 1978 – que serve de base para esta série de reflexões, foi um dos tantos que aventaram essa possibilidade e com um certo otimismo. Escreveu a propósito: "Foi demonstrado agora que no transcurso do próximo século poderemos ocupar o Sistema Solar inteiro. As fontes de energia e de materiais estão lá...”

Da minha parte, não sou tão otimista. As dificuldades e riscos para esse tipo de aventura (por enquanto apenas da imaginação) são imensos, virtualmente insuperáveis. A exploração do espaço demanda esforços extremos, e em todos os sentidos, científicos, tecnológicos e financeiros, que não creio que a humanidade esteja preparada ou disposta a fazer. Os custos econômicos, por exemplo, são tão altos, que duvido que os cidadãos irão concordar com esse tipo de despesa, cujo retorno é incerto e possivelmente nulo, com tantas carências mais imediatas e urgentes que há na Terra. Os custos são de tal monta que, se um único país se dispusesse a fazer esse investimento, certamente iria à bancarrota. Não teria salvação. Quem estaria disposto a se arriscar? Enfim...

A exploração espacial não deixa de ser um assunto que excita a imaginação de bilhões de pessoas mundo afora. Para Arthur Clarke, todavia, essa empreitada, inclusive com o estabelecimento de várias colônias fora da Terra, teria outra motivação que não a econômica. Esta contaria, claro, e muito, mas não seria a principal. Outra, mais poderosa do que a busca de fontes energéticas e de matérias-primas, virtualmente inesgotáveis, moveria o homem nessa direção.

Qual? O escritor britânico responde: “a motivação é o desconhecido...” É certo que o ser humano é aventureiro por excelência. E esse espírito de aventura tem lhe possibilitado descobertas preciosas, em todos os sentidos, inclusive nos econômicos. Mas... como financiar empreitadas tão caras? Perguntem a um economista se ele concordaria em investir tantos recursos econômicos, como essa tarefa requer, e de retorno rigorosamente incerto. Perguntem, mas preparem o ouvido para ouvir um sonoro palavrão, e dos mais cabeludos;

Arthur Clarke aponta outra motivação, mais forte do que a busca de alternativas energéticas ou da curiosidade humana. Qual? “(...) Nossa probabilidade de sobrevivência... pode realmente depender do quanto mais cedo descobrirmos nossos ovos, fora desta ágil cesta planetária". O gênio da física e da cosmologia, o também britânico Stephen Hawking, mostra-se simultaneamente otimista e pessimista em relação à possibilidade (remotíssima, quase nula) do homem explorar pelo menos nosso Sistema Solar (o que, se conseguisse, já seria miraculosa façanha).

Em matéria de Nigel Farndale, do jornal inglês "Daily Telegraph", publicada no suplemento "Cultura", do jornal "O Estado de São Paulo", em 9 de janeiro de 2000, o genial cientista observa: "Acho que faremos um vôo tripulado a Marte no próximo século, mas a Terra é de longe o melhor planeta do Sistema Solar para nós. Marte é pequeno, frio e não tem muita atmosfera, enquanto os demais planetas são incompatíveis com a vida humana. Assim, ou aprendemos a viver em estações espaciais ou viajamos para a estrela mais próxima e não faremos isso já no século XXI".

Não creio em nenhuma dessas possibilidades, pelos motivos que citei, nem nas próximas décadas, nem nos milênios vindouros, nem nunca. Sou cético? Talvez! Que tal classificar-me como “realista”? Quanto à possibilidade de haver vida fora da Terra, mesmo sem nenhuma comprovação, as opiniões parecem unânimes. Divergem, apenas, quanto à possibilidade desses “outros” (e hipotéticos) seres vivos, esses fantasiosos alienígenas, esses imaginários extraterrestres, serem inteligentes ou não. Por enquanto a ciência ainda não obteve a mínima evidência de que exista vida fora da Terra, embora a convicção seja no sentido afirmativo. E se for comprovada a existência desses ETs, mesmo que sejam seres unicelulares, o que isso representará para a humanidade?

Arthur Clarke comenta sobre as duas hipóteses, ou seja a da comprovação da existência ou da prova da inexistência de vida no espaço: "Se décadas e séculos se passarem, sem qualquer indício de que há vida inteligente alhures no universo, os efeitos a longo prazo sobre a filosofia humana serão profundos – e talvez desastrosos. É melhor termos vizinhos que não gostamos, do que estarmos absolutamente sozinhos, porque a solidão cósmica poderia indicar uma conclusão muito deprimente – que a inteligência assinala o fim da evolução. Não. Não acredito nisso”.

Stephen Hawking, por seu turno, opina a propósito: "A espécie humana tem essa forma há 2 milhões dos 15 bilhões de anos transcorridos desde o Big Bang; assim, mesmo se a vida se desenvolveu em outros sistemas estelares, as chances de reconhecê-la nesse estágio é bem remota. Qualquer outra forma de vida será ou muito primitiva ou muito mais avançada do que nós. E se for muito mais avançada, por que não se disseminou pela galáxia e visitou a Terra?” Boa pergunta.

Há intelectuais de grande reputação que aventam a hipótese de já termos sido visitados por seres vindos do espaço. Outros levam suas fantasias ainda mais longe – e não sem certa verossimilhança – e asseguram que os ETs se relacionaram com primitivas fêmeas da espécie “Homo Sapiens” e nos transmitiram seus genes, tornando-nos os seres relativamente evoluídos que somos. Outros, ainda, imaginam que os vários deuses cultuados no passado (e até mesmo hoje), de todas as mitologias, existiram de fato e foram extraterrestres, que “civilizaram” nossos ancestrais. Fantasias, claro. Diria, frutos de delirante imaginação que, como se sabe, não tem limites.

E o que diz Hawking sobre hipotéticos seres inteligentes fora da Terra? Diz: “ É possível que haja por aí alguma civilização avançada que sabe da nossa existência, mas nos deixe aqui cozinhando em nosso caldo primitivo. Mas duvido que tivessem tanta consideração por uma espécie primitiva como a nossa. Há uma história de que a razão de ainda não termos feito contato com extraterrestres é que quando uma civilização atinge nosso estágio de desenvolvimento ela se torna instável e se autodestrói. Mas sou otimista, acho que podemos evitar as guerras nucleares e o juízo final". Será? Tomara que sim!!!

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