Pedro J. Bondaczuk
O Leste europeu continua em ebulição, em franca efervescência, no empenho para conquistar as liberdades há tempos exigidas pela sua população. Os dirigentes que se mostraram refratários às mudanças, iniciadas na União Soviética pelo presidente Mikhail Gorbachev, se aferrando, teimosamente, a uma estratégia retrógrada, que eles próprios definem como sendo de “linha-dura”, foram caindo, um a um.
Desabaram, e estão desabando como peças de um castelo de cartas, fragilmente construído. Os tempos são francamente de mudanças em todo o Leste. Os líderes daquela parte da Europa estão tendo que entender que ou “sacrificam os anéis”, ou “perdem os dedos”. Afinal, não contam mais com o respaldo dos tanques e das tropas soviéticas, para impor seus conceitos desvirtuados e oportunísticos.
No meio dessas lideranças, no entanto, uma resiste, não diríamos “heroicamente” , porquanto não há heroísmo algum em tiranizar o seu próprio povo, mas “teimosamente“. Trata-se do todopoderoso homem-forte da Romênia, Nicolae Ceausescu, que entende que o fenômeno que ocorre na Europa Oriental não passa de uma distorção do socialismo.
Só que ele age como o macaco da famosa fábula, que ri do rabo anti-estético dos outros símios, sem perceber que possui, também, uma cauda que não é nada bonita. O ditador romeno continua aferrado à mesma retórica de 1965, quando ascendeu ao poder e chegou a ser considerado por desavisados analistas ocidentais como um “democrata”, até que mostrasse seu verdadeiro perfil. Que provasse, por suas ações truculentas, que se tratava de um “lobo disfarçado em pele de cordeiro”.
Quanto mais o líder comunista da Romênia demorar para cair na realidade, maiores serão os sofrimentos e as privações a que a população desse país (que tem afinidade conosco principalmente por causa da sua língua, derivada do latim) terá que passar.
O tempo em que suas bravatas contra o Cremlin ganhavam aplausos generalizados – e ele continua dizendo as mesmas coisas que dizia na década de 1960 – já ficou muito para trás. Até porque, Mikhail Gorbachev está longe de ter a mínima semelhança com Leonid Brezhnev.
Longe de querer comandar um grupo de satélites, obedientes e temerosos, está muito mais preocupado com os problemas econômicos e com os movimentos nacionalistas que se espalham por toda a União Soviética, do que com o que fazem seus antigos caudatários.
O que Ceausescu pode conseguir – e inegavelmente está conseguindo – é um isolamento cada vez maior dentro do próprio bloco oriental. Pode emular uma Albânia que, convenhamos, não se constitui em nenhum brilhante modelo de administração para ninguém. Sua teimosia fará, certamente, que mais cedo do que ele espera, venha a ser “atropelado” pelo bonde da história.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 21 de novembro de 1989).
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