Pedro J. Bondaczuk
A dívida externa, em especial a dos países do Terceiro Mundo, está, de novo, na ordem do dia, se é que a questão deixou alguma vez de estar, desde 1982, quando os maiores devedores, México e Brasil, perceberam que não teriam condições de honrar seus compromissos da forma como eles haviam sido combinados. O tema ganha maior relevância nas manchetes agora, todavia, por causa da reunião conjunta da próxima semana, em Berlim Ocidental, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. A questão adquire muito mais relevo ainda diante do crescimento das adesões à proposta feita pelo presidente francês, François Mitterrand, no encontro dos sete países mais ricos do mundo, ocorrido no Canadá, no primeiro semestre deste ano. O mandatário socialista defendeu, na oportunidade, que parte da dívida, em especial das paupérrimas nações africanas, fosse esquecida pelos credores ou absorvida através de qualquer espécie de mecanismo a ser criado pelas potências econômicas.
Na oportunidade, a tese não foi recebida com muita simpatia pelos seus pares. Todavia, os relatórios divulgados nos últimos tempos, todos mostrando, claramente, a descapitalização crescente do Terceiro Mundo, que paga, em juros e outros "serviços", muitas vezes mais do que recebeu, deixam claro, para os recalcitrantes, que algo nesse sistema (que podia até ser bem intencionado em seu princípio) não funcionou. Que ao invés de se recolher o produto criado pela "galinha dos ovos de ouro", se está a pique de sacrificar a própria ave. E isto não será bom para ninguém.
As nações desenvolvidas precisam das terceiromundistas para impulsionar a sua crescente geração de riquezas. Necessita de mercados para colocar o que produz, sob pena do seu sistema produtivo ter que parar por falta de compradores, levando o problema de fora para suas próprias fronteiras. O crescimento econômico, portanto, é fundamental tanto para os países pobres, quanto para os ricos. Para os primeiros, é uma questão de sobrevivência física. De ter condições de saciar a fome de hoje. Para as potências econômicas, é uma garantia de que sua prosperidade estará assegurada enquanto houver consumidores crescentes para aquilo que produzirem. Ou seja, idéias, tecnologias, capitais. Essa interação é indispensável e fundamental.
O mundo não está e nem pode estar dividido em compartimentos estanques. O que acontece numa determinada parte do Planeta, fatalmente, mais cedo ou mais tarde, atingirá todos os seus recantos. Espera-se, portanto, que as nações industrializadas tenham um lampejo do espírito prático dos seus antepassados, responsáveis pela sua grandeza, aceitando, em teoria, perder um pouco agora, para ganhar muito mais logo adiante. E de quebra, elas acabarão passando por "benfeitoras", quando na verdade estarão sendo, somente, boas negociantes. Do jeito que está, qualquer um vê que não pode ficar.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 21 de setembro de 1988)
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