Pedro J. Bondaczuk
O terrorismo internacional voltou a agir, ontem, na Europa, mais especificamente em Madri, com a tentativa de explodir um avião israelense da El Al, que deveria ir para Tel Aviv. Felizmente, a segurança do aeroporto de Barajas foi suficiente (ou contou com uma forte dose de sorte) e um mal maior conseguiu ser evitado. A bomba que deveria ser detonada quando o aparelho estivesse no ar, explodiu antes, na esteira de embarque das bagagens, e não matou ninguém.
Mas o terrorismo voltou a mostrar a sua odiosa face, para lembrar que desgraçadamente ainda permanece vivo e atuante, mesmo depois dos bombardeios norte-americanos a Tripoli e Benghazi, em 15 de abril passado. Referimo-nos, obviamente, ao terror vinculado à questão do Oriente Médio. Outras organizações, em diversas partes do mundo, não deram trégua praticamente um só dia. Explodiram bombas, seqüestraram e mataram cidadãos inocentes, alheios às suas exigências e seus rancores, como sempre aconteceu.
Na Colômbia, no Peru, no Sri Lanka e na própria Espanha (através dos separatistas bascos da ETA), a orgia de explosões continuou e, até certo ponto, chegou mesmo a aumentar. Quanto ao terror vinculado à situação do Oriente Médio, este sofreu um certo refluxo, não certamente em decorrência da ação norte-americana contra a Líbia, conforme se chegou a afirmar, mas principalmente em decorrência da dramática redução do fluxo de turistas dos Estados Unidos para a região do Mediterrâneo.
A polícia espanhola ainda está em dúvida acerca da autoria do atentado de ontem, no Aeroporto Barajas. Tem ligeiras suspeitas de que pode ser uma ação da incansável ETA, mas desconfia muito mais de que se trate de um ato de qualquer dos múltiplos grupos de palestinos espalhados pela Europa. As evidências todas conduzem o observador a aceitar muito mais a segunda hipótese.
Se os bascos desejassem realizar algum atentado espetaculoso, dificilmente iriam procurar atingir Israel, país contra o qual não possuem nenhuma espécie de pendência. Tentariam, como sempre vêm fazendo, atacar militares, policiais ou órgãos do governo espanhol. O estilo de ação não condiz, portanto, com as sortidas costumeiras da ETA.
Já os palestinos possuem razões de sobra (ou pensam possuir) para agir dessa forma. Inclusive em abril já haviam tentado algo semelhante, quando uma ingênua arrumadeira de hotel acabou tapeada por seu noivo e sem querer acabou introduzindo uma bomba num avião da El Al, pousado na pista do Aeroporto de Heathrow, em Londres. Felizmente para todos, o artefato foi descoberto a tempo e acabou sendo possível evitar uma provável tragédia.
As circunstâncias da ocorrência de ontem foram parecidas. Apenas com a diferença de que, quem procurava levar o artefato para bordo era um homem, o principal suspeito de ser o mentor do atentado. E dessa vez, embora a bomba viesse a explodir (ao contrário da outra), ela não chegou a entrar no avião. Menos mal.
Se não fosse isso, a esta altura, certamente, o mundo estaria lamentando outra ocorrência trágica, como a verificada com um Jumbo indiano, no ano passado, que explodiu em pleno ar, quando estava próximo da costa da República da Irlanda.
A expectativa, agora, é sobre como o governo israelense irá reagir ao fato. Tudo leva a crer que hoje ou amanhã alguma ação de represália deva ocorrer. Ou no Vale do Bekkaa, no Líbano; ou em Beirute, Tripoli, Saida ou até em locais mais distantes.
Dependendo da intensidade desse "troco" de Israel, podemos ter um recrudescimento da violência terrorista no Oriente Médio que, somado ao aumento das ações na Ásia e na América do Sul, pode transformar 1986 num dos anos mais violentos desta década. Ninguém deseja isso, mas a lógica indica que é a única coisa que se pode prever com razoável dose de acerto. Tomara que estejamos enganados.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 27 de junho de 1986)
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