Pedro J. Bondaczuk
O Planeta, à medida em que está ficando "inchado", abrigando atualmente por volta de 5,3 bilhões de habitantes, apresenta um quadro, em dimensões avantajadas, como o de uma grande metrópole qualquer. Está dividido em quatro classes de nações, em quatro compartimentos, quatro "zonas", embora a divisão seja informal. Um grupo reduzidíssimo, integrado pelos sete países mais ricos do sistema capitalista, mais a União Soviética, é o denominado Primeiro Mundo. Constitui o topo da pirâmide, não somente de prosperidade, mas principalmente de decisão. A seguir vem uma outra categoria, muito próxima da primeira, que já equacionou questões como o analfabetismo, a saúde pública e a infraestrutura básica. Nela estariam entre 30 e 40 sociedades nacionais de porte mediano.
Até pouquíssimo tempo, o restante das nações era classificado como sendo o Terceiro Mundo, com o Brasil incluído nesse rol. Hoje, já se está partindo para o "requinte". Foi criada uma nova "classe", a mais esquecida, a mais problemática e a mais sem esperança de todas. Ela é integrada por povos cuja renda per capita máxima anual é de US$ 200. Para que o leitor entenda melhor o grau de miserabilidade desses povos, basta dizer que num câmbio de Cr$ 30,00 por dólar, cada habitante de tais países tem que sobreviver com Cr$ 8.000,00 em 365 dias! Pouca coisa mais do que dois salários mínimos brasileiros, que já são uma ninharia! Os integrantes dessa faixa, de 42 nações, compõem o que se passou a chamar de Quarto Mundo.
Como nas grandes metrópoles, o Primeiro simbolizaria os bairros luxuosos. Os Jardins, por exemplo, em São Paulo. O segundo, as áreas de classe média, sem sofisticação, mas com conforto e dignidade. O Terceiro, as zonas operárias, carentes, sofridas, mas ainda assim habitáveis. O Quarto, finalmente, representaria os guetos, favelas, mocambos, vilas misérias, alagados (há uma infinidade de nomes para a mesma chaga social) internacionais. Entre seus moradores é que grassam as coisas feias, deprimentes e tristes do Planeta. Doenças, fome, violência, desesperança. Tal situação, na prática, representa um sistema rígido de castas, só que entre países.
Para piorar tudo, são exatamente essas sociedades as mais espoliadas. Se há má administração, corrupção e outros males morais nelas, boa parte disso se deve ao perverso colonialismo que lhes foi imposto pelos que se arrogam em donos do Planeta. E, ironicamente, são seus mais ácidos críticos. Para complicar tudo, são exatamente esses países, que não têm um "bolo de riqueza" para dividir entre seus habitantes, mas, quando muito, um "pão bolorento e amanhecido", os que possuem, proporcionalmente, a maior dívida externa a pagar. E é a eles que o Primeiro Mundo nega ajuda, ou condições mais suaves de pagamento. Nem é preciso comentar mais nada...
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 29 de março de 1990)
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