Pedro J. Bondaczuk
O advento e a evolução dos meios modernos de comunicação (rádio, televisão, telefone, celular, Internet, etc.) e das formas contemporâneas de transporte (veículos automotores cada vez mais possantes, trens-bala, movidos a eletricidade e/ou a magnetismo; aviões a jato, sub e superssônicos, foguetes, naves interplanetárias, etc.), todos desenvolvidos ou aperfeiçoados nos últimos cento e dez anos, e cujo processo de aperfeiçoamento ainda está em andamento, constituem-se na maior, na mais abrangente e na mais duradoura revolução do século passado, o XX e que tende a se acentuar neste século XXI.
Teve (e vem tendo, pois o processo é permanente, contínuo e dinâmico) profundas e decisivas conseqüências no modo de vida da população mundial, até desse contingente enorme de pessoas que ainda vegeta abaixo da linha da miséria. Aproximou povos, "encolheu" o mundo, expandiu a cultura, popularizou as artes, trouxe o conhecimento científico ao alcance dos leigos, mas também facilitou as guerras, desenvolvendo novos e potencialmente decisivos meios de destruição em massa.
Foi, portanto, não apenas uma revolução da ciência e da tecnologia, mas também política, econômica, social, filosófica, artística, cultural, comportamental, etc., afetando, de uma forma ou de outra, todos os campos de ação e de conhecimento humanos. Mais ainda, tratou-se do maior salto de civilização da humanidade.
Este fantástico aparato comunicativo e de locomoção, à disposição do homem contemporâneo, "virou o mundo pelo avesso". Para as ondas de rádio e as imagens de televisão, por exemplo, não existem fronteiras, depois do advento dos satélites artificiais. Muito menos para a rede mundial de informações, a Internet, subutilizada, se considerarmos todo o seu potencial..
E o que falar do telefone (cada vez menor, e com alcance maior), após a invenção e o aperfeiçoamento do sistema celular? E do computador pessoal, com possibilidades de aproveitamento imprevisíveis, que hoje já é um instrumento indispensável e que deve se tornar cada vez mais necessário, com aplicações em praticamente todos os campos de atividade, e cuja evolução tecnológica já não se dá mais em décadas ou anos, como ocorria não faz muito, mas em dias (quiçá em horas)?
Hoje, para se comunicar e se entender, as pessoas não precisam mais se deslocar de um lugar para o outro, para encontros cara a cara. No recesso de suas casas, ou de seus escritórios, com conforto e comodidade, podem, a qualquer momento, do dia ou da noite, trocar idéias e experiências com indivíduos que, provavelmente, jamais irão encontrar pessoalmente, mas com os quais têm condições de manter relacionamentos produtivos e duradouros, comerciais, artísticos, culturais científicos ou meramente sociais.
Como caracterizar, pois, este fenômeno, ainda caótico, mas de possibilidades promissoras, insuspeitadas até, que rompe as barreiras do espaço e do tempo (embora ainda não de idiomas) e permite comunicação quase instantânea entre seus hoje bilhões de usuários, em qualquer local do mundo em que haja um micro, um provedor e um telefone, que é a Internet? Trata-se de modismo? É a tão apregoada "grande revolução" nas comunicações mundiais? Veio para ficar? Vai passar?
Desenha-se à nossa frente um futuro instigante e ao mesmo tempo aterrador. Tudo depende da forma com que as pessoas irão utilizar o extraordinário potencial comunicativo e de transportes à sua disposição. Os recursos hoje existentes, por exemplo, permitem extinguir, num prazo muito curto, o analfabetismo da face da Terra, como a medicina já fez com algumas doenças que até o início do século XX matavam multidões, como a varíola por exemplo, e como está prestes a fazer com a poliomielite.
Esse avanço é possível, claro, desde que exista genuína disposição para alfabetizar todos os seres humanos do Planeta, não importa onde viva ou que idioma fale. Por enquanto, isso parece não passar de sonho delirante dos idealistas.
"Cirurgias" já começam a ser feitas, e pelos maiores especialistas do mundo, a milhares de quilômetros de distância do paciente. E o processo, à medida em que é bem sucedido, tende a se tornar rotineiro. Milhares de vidas poderão ser salvas dessa maneira. Mas é necessário que esse precioso recurso venha a ser "democratizado" e esteja ao dispor de "todas" as pessoas, independente da sua classe social e do volume dos seus bens. Por enquanto, só podem contar com essa facilidade os que podem pagar, e muito bem pago, por ela.
A possibilidade de falar instantaneamente com qualquer parte do Planeta e de emitir e receber imagens tornou mais difícil (embora ainda não impossível) a tarefa dos tiranos, dos ditadores de todos os tipos ou dos charlatães que vendem a felicidade em pílulas. Daí terem sido reduzidas, em especial a partir dos anos 80, as ditaduras por todas as partes, mormente na América Latina. Elas sobrevivem, no entanto, resistem, e às vezes até se expandem em países populosos e miseráveis da África negra e da Ásia.
Surge, também, no caudal dessa revolução, novo risco: o do colonialismo cultural. O da extinção de costumes e de tradições, desenvolvidos e preservados por milhares de anos, de povos mais fracos e decadentes, que não puderam (ou não souberam) garantir seu progresso material e que por isso se tornaram reféns dos ricos. Se isso, de fato, ocorrer, vai representar perda irreparável para a humanidade. A hegemonia de determinada cultura é nociva e perigosa. Representa retrocesso. A diversidade, por seu turno, é sempre salutar e estimulante. Tem que ser não somente estimulada, mas, sobretudo, preservada.
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