Pedro J. Bondaczuk
A civilização, tal como nós, homens e mulheres do século XXI do terceiro milênio da era cristã a concebemos, com seu imenso aparato tecnológico, sobretudo de comunicação, pode estar com os dias contados. E isso não se deve ao potencial risco de alguma catástrofe mundial, natural ou causada pelo homem, como uma guerra nuclear, por exemplo, embora esta última possibilidade (infelizmente) não possa ser descartada, por razões tão óbvias que prescindem de menção.
O motivo dessa sombria previsão é mais concreto e bem mais iminente. As fontes de energia, que geram o “combustível” para mover as máquinas que nos maravilham e das quais não podemos mais prescindir, pois nascemos e crescemos com elas já existindo e que caracterizam, portanto, esta nossa tão confortável civilização, estão em vias de esgotamento. Não se trata de nenhum surto de catastrofismo. É uma realidade. E o desafio humano é o de encontrar novas fontes energéticas, de preferência renováveis, ou seja, que não se acabem nunca, caso queira evitar um desastroso retrocesso.
As reservas mundiais de petróleo dão sinais inequívocos de estarem próximas do esgotamento . Os esforços para se encontrar novas fontes de produção são cada vez mais complicados e mais caros, isso sem falar do constante risco de graves desastres ecológicos. O carvão, por sua vez, ainda é relativamente farto, mas trata-se de matéria-prima altamente poluente e, por consequência, danosa ao meio ambiente. As hidrelétricas estão próximas de atingirem seu limite, dada a carência de rios ainda potencialmente represáveis.
Quanto às fontes alternativas, como a energia eólica, solar, geotérmica etc., não são o que sua designação sugere. Por que? Porque são incapazes de substituir, “sozinhas”, as matérias primas tradicionais. Além disso, requerem investimentos proibitivos e o tanto de geração que se obtém delas não representa, hoje, sequer 1% do que é necessário. Na relação custo/benefício quase nem são viáveis. Servem, não se nega, como importantes fontes auxiliares, para serem utilizadas em situações de emergência, mas jamais como alternativas. Ou seja, reitero, “sozinhas” não substituem, e jamais substituirão, o petróleo, o carvão e as hidrelétricas, próximos do esgotamento.
Resta a energia nuclear, já vastamente utilizada por alguns países, como a França, os Estados Unidos, o Japão e a Rússia. Seria uma alternativa não apenas viável, mas desejável. “Seria”, mas não é. E por que? Porque os riscos e os inconvenientes dessa matriz energética tornam-na, a exemplo das energias eólica, solar, geotérmica etc., tão somente fonte suplementar, utilizável em situações de emergência, se tanto. As dificuldades para sua utilização maciça não se restringem a questões de segurança, para evitar acidentes como, por exemplo, o de Chernobyll ou o mais recente deles, o vazamento radioativo na usina de Fukushima, no Japão, em decorrência do terremoto e subseqüente tsunami que devastaram, recentemente, parte daquele país insular.
O grande obstáculo para se recorrer à energia nuclear de maneira “universal” está, principalmente, na destinação dos resíduos da sua matéria prima: o urânio enriquecido. O “lixo atômico” não é passivo de ser deixado livre na natureza, como se faz com o comum (de maneira também desastrosa e irresponsável, diga-se de passagem). O problema está na sua terrível periculosidade. E, pior, no tempo que leva para se decompor: quinhentos anos ou mais. Ou seja, uma eternidade, qualquer coisa como o tempo de vida de dez gerações.
Vocês já imaginaram uma sociedade sem automóveis, caminhões, trens, aviões, ônibus, metrôs e tantas e tantas outras formas baratas, rápidas e práticas de locomoção que dependem de combustíveis fósseis? “Ah, mas existem alternativas viáveis e já utilizadas para eles, como o etanol, o diesel vegetal etc.”, dirão os desligados, que acham que sabem das coisas, mas não sabem nada. Essas fontes de energia já são exploradas, e com sucesso. Mas são, também, recursos suplementares e não alternativos.
Raciocinemos. O mundo conta, hoje, com população de mais de sete bilhões de habitantes e que aumenta, a cada dia, em 265 mil novas pessoas. Esse imenso contingente precisa, lógico (acima e antes de tudo) ser alimentado. Todavia, a quantidade de solo fértil é, ao contrário do que se supõe, escassíssima. Caso seja utilizada para a produção de cereais passivos de serem transformados em etanol e óleos vegetais combustíveis, na quantidade necessária para essas matérias primas poderem substituir o petróleo, não tardará para ocorrer uma “epidemia” de fome como nunca se viu em tempo algum. E as projeções mais otimistas (não sei se realistas), são as de que em 2050, portanto em irrisórios 38 anos, a população mundial atingirá a casa de nove bilhões (e temo que essa cifra seja subestimada).
Ficar sem petróleo seria grave, mas talvez não fosse (ou não seja) o pior. Já imaginaram o mundo sem eletricidade? Não teríamos luz, rádio, televisão, internet, telefone, jornais etc., nada!!! Quase toda a indústria que depende da energia elétrica para mover máquinas e assegurar a produção, ficaria paralisada. A economia mundial, que já não anda lá tão saudável, sofreria súbito e fatal colapso. Seria (ou será?) um caos social! “Ora, há apenas 200 anos o mundo não dispunhas de eletricidade e as pessoas viviam normalmente”, dirá, certamente, o eterno “do contra”. É verdade! Mas... a população mundial de então mal chegava a um bilhão. E a qualidade de vida (e por conseqüência, a longevidade) das pessoas era incomparável à de hoje. Você aceitaria esse retrocesso? Eu não!
E por que trago isso à baila, em um espaço destinado à literatura? Porque esse é, também, papel do escritor, enquanto comunicador, se não sua principal tarefa ou função. Ou seja, é o de informar e esclarecer. É o de, não apenas esgrimir com palavras, mas veicular idéias. É dar conteúdo aos seus textos. É discutir (de forma ficcional ou não, não importas) problemas e sugerir soluções. E vocês querem tema mais instigante do que este (até mesmo para ser explorado em ficção) do que a possibilidade (não apenas concreta, mas até iminente) de esgotamento das fontes energéticas mundiais?!
Aqui recorro, mais uma vez, ao artigo “O futuro no mundo das comunicações”, de Arthur C. Clarke – publicado, no Brasil, no “Suplemento Literário” do jornal “O Estado de São Paulo”, em 3 de setembro de 1978 – que serve de base para esta série de reflexões. O ilustre escritor britânico afirmou, em determinado trecho do seu memorável texto: "Quando encaramos os múltiplos problemas da nossa época, o que se destaca como o mais fundamental – dos quais quase todos se originam – é o da ignorância. E a ignorância pode ser banida unicamente pela comunicação". Pois é esta a principal função, se não missão, do escritor. Ou seja, a de comunicar.
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