Wednesday, February 01, 2017

Rota minada


Pedro J. Bondaczuk


As minas têm sido consideradas como uma das armas mais cruéis adotadas ultimamente, em especial por guerrilheiros. Os vietcongs, durante a Guerra do Vietnã contra os norte-americanos (e antes deles os vietmihns, contra os franceses, na mesma Indochina, no início da década de 50), eram mestres na confecção dessas armadilhas, a maioria das quais feitas com material rudimentar, como farpas de bambus e outros equipamentos facilmente encontráveis.

Centenas de soldados foram mortos, ou mutilados, por esses traiçoeiros artefatos. E o número de civis atingidos foi ainda muito maior. O mesmo expediente vem sendo fartamente utilizado em El Salvador, em Angola, no Afeganistão e em tantas outras zonas de conflito, afetando, no mais das vezes, não o adversário ao qual se destina, mas pessoas inocentes, em geral pacatos camponeses.

No mar, as minas foram bastante utilizadas na Segunda Guerra Mundial. Ainda está por serem relatados os estragos que elas causaram a possantes belonaves, aparentemente imunes a elas. Vários e vários navios mercantes foram postos a pique por colidirem com tais armadilhas.

Agora, as minas coalham as águas do Golfo Pérsico e redondezas, vitimando barcos de todas as espécies e tamanhos. Há dois anos, um processo de minagem, como o atual, foi feito no Canal de Suez e no Mar Vermelho, atingindo a cerca de três dezenas de embarcações.

Na ocasião, a acusação sobre quem era o responsável por espalhá-las na região dividiram-se entre a Líbia, cujo líder, Muammar Khadafy, ainda mantém uma série de divergências com o Egito, e o Irã, apontado como autor do processo atual de sabotagem, embora as opiniões se voltassem, em sua maioria, para os líbios. As razões eram óbvias. 

Mas os Estados Unidos, um ano antes, também haviam lançado mão desse expediente, através da Agência Central de Inteligência, minando o Golfo de Fonseca, mais especificamente a parte dele que banha a costa nicaragüense.

Diversas embarcações mercantes (inclusive uma japonesa) foram avariadas na oportunidade e certamente nenhum navio de guerra foi afetado, já que a Nicarágua sequer dispõe de Marinha que se preze. Mas a presença dessas armadilhas, numa zona que produz 60% do petróleo consumido pelo Ocidente, equivale a alguém brincar com fogo nas proximidades de um reservatório de gasolina. O perigo multiplica-se por dez, ou muito mais. 

Daí a gigantesca operação internacional de limpeza que está sendo esboçada no Golfo Pérsico. A movimentação, no entanto, está assustando o já de per si assustado governo do Irã. A concentração de navios de guerra na área já beira a três dezenas e tende a aumentar muito mais.

O que pode advir disso tudo não é difícil de imaginar. O mundo vive, portanto, (por ter se omitido por sete anos a respeito de uma guerra que já poderia ter acabado há tempos, com alguma providencial intervenção das potências) outro momento de angústias, incertezas e perplexidade. Oxalá a situação não degenere para uma fantástica e imprevisível explosão de ressentimentos e ódios que incendeie ainda mais essa estratégica região, a jugular do petróleo do Ocidente.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 18 de agosto de 1987).


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