Monday, February 13, 2017

Hussein joga com fator tempo



Pedro J. Bondaczuk


O Ocidente tem esperanças de vencer o Iraque pela fome, sem que seja necessário o disparo de um único tiro para solucionar a crise no Golfo Pérsico provocada pela invasão e anexação do Kuwait por parte das tropas iraquianas.

Pouca gente ainda crê num confronto armado na região, que poderia ter conseqüências imprevisíveis, dado o palco onde seria travado, por entre extensos e produtivos campos de petróleo que abastecem, em especial, o mundo industrializado. Mas o presidente norte-americano, George Bush, não parece demonstrar tanto otimismo com a eficácia do bloqueio naval a Bagdá, aprovado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Certamente, ele deve ter sido informado que esse ato de força perde a eficiência, vai ficando cada vez mais fraco, à medida que os dias passam.

Ao contrário do que afirmam alguns analistas mais afoitos, o tempo joga em favor do presidente Saddam Hussein na presente crise. Em primeiro lugar, o Pentágono vem tendo uma despesa diária de US$ 46 milhões para manter o aparato bélico de grandes proporções no Oriente Médio.

Um gasto desse porte é suficiente para desequilibrar as finanças de qualquer país, mesmo em se tratando de uma superpotência, que já antes de surgir essa briga, não vinha apresentando uma saúde financeira invejável. Estão aí os déficits orçamentários governamentais sucessivos, numa espiral crescente capaz de endoidecer Bush e principalmente os contribuintes.

Ademais, há informações, de fontes confiáveis, de que o tal bloqueio naval está há muito desmoralizado. O porto de Akaba, na Jordânia, continua funcionando mais intensamente do que nunca, com enormes e constantes carregamentos de comida para o Iraque.

Há, também, a informação de que o Yemen não vem cumprindo a promessa de adesão ao boicote. Estabeleceu-se uma frenética ponte-aérea entre Bagdá e Áden, garantindo o abastecimento iraquiano, pelo menos naquilo que é essencial. Nem verduras estão faltando a eles, já que o seu fornecimento está sendo assegurado pela produção do cinturão verde que cerca a capital jordaniana, Amã.

Quando as sanções foram impostas, Saddam Hussein possuía armazenados gêneros suficientes para seis meses. Anteontem, ele decretou um racionamento, que começou a vigorar ontem, o que garantiria o prolongamento desses estoques por mais 30 dias.

Os Estados Unidos suportariam manter o bloqueio por todo esse tempo, contando, apenas, com promessas e não dólares dos aliados – principalmente França e Japão – que são os maiores beneficiários da ação norte-americana? É muito questionável.    

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1º de setembro de 1990)


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