Louvor
à fidelidade
Pedro J. Bondaczuk
O maior prêmio que um jornalista, ao cabo de sua
carreira, pode aspirar, quando tem consciência de haver realizado um trabalho
honesto, competente e construtivo, fugindo da tentação do exagero, do
sensacionalismo e da exploração barata das fraquezas alheias apenas por uma
forte manchete que aumente a venda de jornais ou por uma boa
"tirada", mesmo que venha a ferir a honra ou destruir a reputação de
alguém, é a fidelidade manifestada pelos seus leitores. E sequer importa a
quantidade deles, desde que sinceros, atentos e, sobretudo, críticos.
Não é uma polpuda conta bancária que importa a quem
faz do jornalismo missão de vida e não mera profissão. Nem a prestação de
serviços aos maiores grupos jornalísticos do País, ou quiçá do Exterior,
ocupando pomposos cargos de chefia e ostentando o tão almejado
"poder", invariavelmente transitório e sumamente enganador. É
possível realizar um trabalho de primeiríssima linha também na chamada
"imprensa nanica", nos jornais de bairros, de empresas ou de
sindicatos, desde que se tenha talento, criatividade, cultura e, sobretudo,
bons propósitos, e conquistar, dessa forma, cativos e fiéis leitores.
Essa desejada fidelidade, todavia, não se obtém com
dois, quatro, dez ou cem textos, por mais excelentes e especiais que sejam, mesmo
que beirem à perfeição. É questão de tempo, paciência e aplicação. É
conseguida, somente, com grandeza de
alma, com espírito altruísta e
compreensivo, com genuína bondade e com profundo e sincero amor pelos
semelhantes. E, claro, com anos e mais anos de trabalho constante, persistente,
responsável e dedicado.
O tribuno e filósofo romano Cícero escreveu a esse
respeito: "Haverá alguma coisa mais doce do que ter alguém com quem possas
falar de todas as tuas coisas, como se falasses contigo mesmo?". No meu
caso, como não sou orador, e nem dado a fazer confidências pessoais, o texto
foi, é e será, enquanto eu viver, meu grande e sublime instrumento de
comunicação com os semelhantes.
Ao longo de uma carreira acidentada, caracterizada
por altos e baixos, submetido ao julgamento diário de chefes raramente
complacentes e compreensivos (na maioria das vezes, severos além da conta, com
o único objetivo de imporem uma autoridade que sequer possuíam, posto que
imposta pela força e não pela ascendência moral ou intelectual), tive, como
contrapartida, um raro privilégio, buscado pela maioria, senão pela totalidade
dos jornalistas, e conseguida por pouquíssimos: a credibilidade junto aos
leitores. Fui prestigiado com a aceitação crítica das minhas idéias, que muitas
vezes mereceram, é verdade, reparos e restrições, mas cuja honestidade e
sinceridade jamais foram questionadas por ninguém, nem pelos meus mais
ferrenhos adversários ou esquivos rivais. E consegui conquistar, sobretudo,
fidelidade.
Refiro-me, especificamente, ao que chamo
carinhosamente de "meu público", que são aqueles que me vêm
acompanhando, assiduamente, nestes tantos anos em que tenho o privilégio e a
honra de ocupar vários espaços nobres nos meios de comunicação. Nestes quase cinqüenta anos em que pude manifestar
minhas alegrias, tristezas, idiossincrasias e indignações, sempre contei com
pessoas amigas, muitas (a maioria) sem nunca me terem visto uma única vez
sequer, me conhecido pessoalmente ou falado, em qualquer ocasião, comigo, que
me elogiaram, criticaram, ensinaram, aprenderam e me manifestaram, senão de
viva voz, pelo menos por cartas e, sobretudo por e-mails, sua generosa e
compreensiva apreciação do meu trabalho. E isso não há dinheiro, não há poder e
não há prestígio que paguem!
Nunca tive a pretensão de ser o dono da verdade (ninguém
é) ou de buscar a fama fácil e enganadora, tendo o jornalismo por instrumento.
O que sempre pretendi, e pelo retorno obtido penso haver conseguido, foi travar
um bate-papo descontraído, informal e sincero, sequer escondendo minhas
carências ou fraquezas, mas, sobretudo, construtivo, com os meus queridos e
preciosos leitores. Mesmo havendo conquistado, nos dois jornais diários de
Campinas, prestígio e respeitabilidade como comentarista político (em especial de
política internacional, função que exerci, diariamente, por onze anos
consecutivos), optei, há já bastante tempo, por outro gênero, mais ameno, porém
não menos profundo: a crônica.
E agi assim não por menosprezar a cultura, a
inteligência ou o grau de informação dos leitores. Pelo contrário. Foi por
respeito. Foi por gratidão. Foi por estima. Afinal, ao contrário do que a
maioria esmagadora dos jornalistas tenta passar, nas entrelinhas dos seus
textos, a realidade, embora dura, horrenda e cruel, não se constitui, apenas,
de desgraças, lamúrias, ácidas críticas, crimes hediondos, profundas degradações e asquerosa corrupção.
Há que se ressaltar, sempre que possível e oportuno, o lado bom, nobre e
construtivo do ser humano, até para que se possa despertar nas pessoas o desejo
de emulação, de imitação e de multiplicação dos valores marcantes e
indestrutíveis do homem.
Tive, tenho e sempre terei por lema, nos próximos
anos (se Deus permitir-me essa ventura de contar com muitos) de contato com
meus fiéis e queridos leitores, uma sábia e inspirada constatação do Monsenhor
Augusto Dalvit, que diz: "Comunicar não é apenas exprimir idéias ou
manifestar sentimentos. No seu mais profundo significado, é doação de si mesmo,
por amor". Muito obrigado a você, que me acompanha há tanto tempo, pelo
prestígio e pela irrestrita fidelidade manifestados nestes anos todos de
profícua troca de energia! A você, meu leal e incógnito companheiro, me dôo, a cada texto que escrevo, com profundo
e infinito amor!
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