Renegociação com competência
Pedro J. Bondaczuk
A
equipe econômica do governo do presidente Collor de Mello, depois de vários
contatos preliminares, de sondagem, realizados no mês passado, em Nova York e
Washington, elaborou sua proposta de renegociação da dívida externa brasileira,
que deve estar girando pela casa dos US$ 116 bilhões e que será apresentada aos
credores nos próximos dias.
Até
aí, nada de mais. Afinal, renegociar nosso débito já se tornou uma rotina, pois
é um fato que se repete praticamente desde que o País conquistou a sua
independência. A novidade está na estratégia, na estrita lógica na política que
se pretende adotar a esse respeito, coerente, aliás, com o empenho modernizador
que se apregoa.
O
plano, que num primeiro momento deve causar um susto enorme nos bancos privados
internacionais, esperançosos de receber algum dinheiro neste ano, provavelmente
será recebido com hostilidade num primeiro instante. Sua aceitação ou não vai
depender muito da visão de futuro dos banqueiros.
A
proposta traz, implícita, a idéia de que é uma estupidez se matar "a
galinha dos ovos de ouro". Credor algum vai lucrar qualquer coisa caso o
Brasil se precipite no abismo do subdesenvolvimento, para onde estava se
encaminhando velozmente nos últimos tempos.
O
que se pretende é impedir que os pagamentos efetuados resultem em mais
inflação. E, sobretudo, garantir que não drenem da nossa economia os recursos
indispensáveis para investimentos produtivos. O plano prevê desembolsos
crescentes, à medida em que o País for crescendo economicamente. Mas também
contempla a possibilidade dos termos acertados em função dos azares da
conjuntura mundial, passarem por revisões.
Trata-se
de uma espécie de taxa de risco do devedor, já que o credor cobra, no chamado
serviço da dívida, uma certa importância sob tal rubrica. Caso haja acordo a
respeito, será corrigida uma das falhas mais insensatas e estúpidas que se
cometeram, quando da tomada do empréstimo, que foi a faculdade de deixar a
cargo dos que desembolsaram o dinheiro a estipulação dos juros a serem
cobrados. É como se colocar uma rapodsa para vigiar um galinheiro.
Nem
o mais desesperado, ou o mais ingênuo dos ingênuos dos cidadãos fariam um
empréstimo nestas condições. Muitos dos nossos tecnocratas, tidos e havidos como
"luminares" da economia, no entanto, fizeram. Pela proposta do
governo, os termos do acordo seriam revistos, por exemplo, todas as vezes em
que ocorressem elevações do preço do petróleo, como está acontecendo agora, em
função da crise do Golfo Pérsico. Ou quando as duas taxas de juros
interbancárias cobradas do Brasil, tomadas como referenciais (a
"Libor" londrina e a "Prime Rate", norte-americana)
subissem.
Pelo
que se pôde depreender das declarações de nossos negociadores, o banqueiro que
quiser ver um único centavo, enquanto não se fizer um acerto, pode esquecer. Já
é hora de alguém mostrar que somos capazes de negociar, e bem, sem cair em
armadilhas de espertalhões.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 10 de outubro de 1990).
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