Culminância
democrática
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, que no dia 29 de setembro deu exemplo de
vitalidade democrática com a aprovação do impeachment do presidente afastado,
Fernando Collor, viveu, ontem, em clima de festa cívica, o momento culminante
da democracia, que é a consulta às urnas.
Um contingente estimado em torno de 90 milhões de
brasileiros – equivalente à população total do México ou às da Alemanha,
Bélgica e Suécia somadas – foi convocado para escolher os prefeitos e
vereadores de cerca de 4.500 municípios. A esta altura, embora ainda não se
saiba quais serão os escolhidos, a decisão que emana soberanamente do povo já
está tomada.
Dentro de algumas horas, as cidades de maior porte
já saberão sobre quem recaiu a preferência para administrá-las. As menores, a
esta altura, já têm conhecimento desse veredito popular. Em muitos lugares as
urnas trarão surpresas, em outros, os velhos caciques da política municipal
verão confirmado o seu poder.
Até o final da semana, quem se der o trabalho de
proceder a uma análise global, terá condições de concluir se houve evolução ou
retrocesso no processo eleitoral. No primeiro caso, o progresso estará
configurado caso o índice de abstenções seja baixo, o número de votos brancos e
nulos haja caído e a quantidade de impugnações e denúncias de fraudes tenha
diminuído. No segundo, obviamente, a constatação será possível se acontecer o
inverso.
Outra expectativa dos analistas refere-se à
influência que a autorização da Câmara Federal para a instauração do processo
de impeachment no Senado contra o presidente afastado, Fernando Collor, teve
sobre o eleitorado.
Alguns estimam que os partidos que tiveram maior
atuação nesse episódio, casos específicos de PMDB, PT e PDS, dividirão entre si
a maioria dos cargos em disputa. É caso para se conferir. Trata-se de um ponto
muito importante para a pré-definição das candidaturas à Presidência da
República nas eleições presidenciais de 1994.
Embora esse pleito ainda esteja relativamente
distante, é nos municípios que determinadas postulações nascem e morrem, de
acordo com o desempenho e popularidade de suas respectivas agremiações. Os três
partidos em questão têm candidatos naturais à sucessão do atual governo e ao
contrário do que o povo em geral pensa, a briga pelo poder começa com enorme
antecedência.
E quanto a Campinas, o que o eleitorado decidiu?
Confirmaram-se as recentes pesquisas? Algum candidato menos cotado atropelou na
reta final, como ocorreu em 1988 com Luíza Erundina em São Paulo? Teremos um
segundo turno? Quais serão seus concorrentes?
São respostas que provavelmente já teremos no final
da noite de hoje ou, o mais tardar, durante o dia de amanhã. O importante é que
os perdedores se curvem à vontade popular e não se sintam como derrotados,
porquanto numa democracia autêntica, desde que haja absoluta lisura nas
eleições, não existem vencidos.
Todos são vitoriosos, pela contribuição que dão à
consolidação democrática. Os ganhadores, por seu turno, têm que se
conscientizar que não obtiveram um prêmio, mas receberam uma tarefa, uma
responsabilidade que lhes compete cumprir com transparência.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 4 de outubro de 1992)
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