Hussein mostra-se enigmático
Pedro J. Bondaczuk
A guerra do Golfo Pérsico
deverá atingir seu ponto culminante possivelmente na próxima semana, por volta
do dia 15 ou 16, com o início da ofensiva terrestre por parte das forças
aliadas. Nas três semanas de ataques aéreos e navais, de intensidade raramente
vista igual, contra o Iraque, restaram mais dúvidas do que certezas a respeito
do real poderio do enigmático (ou suicida?) presidente iraquiano, Saddam
Hussein.
Estranhou-se,
até aqui, por exemplo, a pouca combatividade de suas tropas, pelo menos a se
acreditar no noticiário proveniente do Golfo Pérsico, fazendo-se o desconto da
censura que é imposta pelos dois lados. Qual o verdadeiro poderio de fogo que a
coalizão terá que enfrentar?
É
uma incógnita para todos, inclusive para o presidente norte-americano, George
Bush, que enviou à Arábia Saudita seu secretário de Defesa, Dick Cheney e o
chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, Collin Powell, para colher
informes de primeira mão no teatro da guerra.
Enquanto
isso, sucedem-se as declarações, até em tom triunfalista, de vários comandantes
aliados, dando a entender que a tarefa está perto de ser cumprida. Analistas,
todavia, advertem para a astúcia de Saddam. Teme-se que o presidente iraquiano
esteja escondendo seu verdadeiro potencial.
Ninguém
vem entendendo, por exemplo, a fuga de tantos aviões seus para o Irã. Eles
estariam realmente sendo somente preservados para um futuro, quando a guerra
terminar, ou estão sendo apenas resguardados para quando começar aquela que
será “a mãe de todas as batalhas”, na expressão pitoresca e macabramente
poética das autoridades de Bagdá?
Onde
estão os sofisticados armamentos que o Ocidente cedeu ao Iraque durante o
conflito anterior, de oito anos, no Golfo Pérsico? Foram destruídos nos maciços
bombardeios de 21 dias, a uma média de um por minuto, ou permanecem escondidos
para uso no momento da decisão?
Têm
fundamento os rumores que circularam na semana passada em alguns jornais
europeus, de que a França teria vendido três bombas atômicas a Saddam Hussein?
E as armas químicas e biológicas serão usadas? Em qual momento? Como se
percebe, as indagações são maiores do que a quantidade de respostas, que já se
conseguiu colher, inclusive para o comando aliado.
Aquela
idéia de guerra rápida e fulminante, de 48 horas, ou quando muito de cinco
dias, que existia antes de 16 de janeiro passado, mostrou não passar de mero
blefe ou de excesso de otimismo que, tanto na vida, quanto no campo de batalha
– e pior ainda neste – tende a ser fatal, principalmente quando descamba para a
subestimação.
(Artigo
publicado na página 15, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 8 de
fevereiro de 1991).
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