Thursday, February 09, 2017

Hussein mostra-se enigmático


Pedro J. Bondaczuk


A guerra do Golfo Pérsico deverá atingir seu ponto culminante possivelmente na próxima semana, por volta do dia 15 ou 16, com o início da ofensiva terrestre por parte das forças aliadas. Nas três semanas de ataques aéreos e navais, de intensidade raramente vista igual, contra o Iraque, restaram mais dúvidas do que certezas a respeito do real poderio do enigmático (ou suicida?) presidente iraquiano, Saddam Hussein.

Estranhou-se, até aqui, por exemplo, a pouca combatividade de suas tropas, pelo menos a se acreditar no noticiário proveniente do Golfo Pérsico, fazendo-se o desconto da censura que é imposta pelos dois lados. Qual o verdadeiro poderio de fogo que a coalizão terá que enfrentar?

É uma incógnita para todos, inclusive para o presidente norte-americano, George Bush, que enviou à Arábia Saudita seu secretário de Defesa, Dick Cheney e o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, Collin Powell, para colher informes de primeira mão no teatro da guerra.

Enquanto isso, sucedem-se as declarações, até em tom triunfalista, de vários comandantes aliados, dando a entender que a tarefa está perto de ser cumprida. Analistas, todavia, advertem para a astúcia de Saddam. Teme-se que o presidente iraquiano esteja escondendo seu verdadeiro potencial.

Ninguém vem entendendo, por exemplo, a fuga de tantos aviões seus para o Irã. Eles estariam realmente sendo somente preservados para um futuro, quando a guerra terminar, ou estão sendo apenas resguardados para quando começar aquela que será “a mãe de todas as batalhas”, na expressão pitoresca e macabramente poética das autoridades de Bagdá?

Onde estão os sofisticados armamentos que o Ocidente cedeu ao Iraque durante o conflito anterior, de oito anos, no Golfo Pérsico? Foram destruídos nos maciços bombardeios de 21 dias, a uma média de um por minuto, ou permanecem escondidos para uso no momento da decisão?

Têm fundamento os rumores que circularam na semana passada em alguns jornais europeus, de que a França teria vendido três bombas atômicas a Saddam Hussein? E as armas químicas e biológicas serão usadas? Em qual momento? Como se percebe, as indagações são maiores do que a quantidade de respostas, que já se conseguiu colher, inclusive para o comando aliado.

Aquela idéia de guerra rápida e fulminante, de 48 horas, ou quando muito de cinco dias, que existia antes de 16 de janeiro passado, mostrou não passar de mero blefe ou de excesso de otimismo que, tanto na vida, quanto no campo de batalha – e pior ainda neste – tende a ser fatal, principalmente quando descamba para a subestimação.

(Artigo publicado na página 15, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 8 de fevereiro de 1991).


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