Democracia aumenta
responsabilidade
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente soviético, Mikhail Gorbachev, está andando num autêntico "fio
de navalha" desde que se comprometeu a realizar reformas profundas,
formais e estruturais, em seu país. Pessoas que sequer conhecem suas idéias,
mas se beneficiaram delas, cobram, a todo o instante, pressa na execução das
mudanças.
Outros,
acusam-no de conduzir o país ao caos, à beira da desagregação e da guerra
civil. Dizem que ele é o responsável pela ruptura da ordem interna. A União
Soviética, hoje, fervilha em descontentamento, em manifestações de toda a sorte
--- como a ocorrida em 10 de março, em Moscou, a maior já vista na nação em
toda a sua milenar história --- em franca e aberta contestação à liderança
nacional, em desafios de toda a sorte.
Todavia,
era exatamente isso o que Gorbachev esperava provocar com sua
"perestroika", que ele classificou de revolução. Mas o presidente
soviético foi atropelado pela dinâmica do processo. Subestimou a intensidade
das frustrações reprimidas pelo seu povo, não apenas durante a ditadura
stalinista, autêntico reinado do terror no país, mas na dos que sucederam esse
ditador, em especial Leonid Brezhnev.
Esse
sentimento popular de impotência tornou-se maior ainda diante da decepção representada
por Nikita Kruschev, que por volta de 1956 chegou a esboçar uma reforma que
parecia promissora. Todavia, ao esbarrar na férrea resistência da burocracia do
Partido Comunista, da chamada "Nomenklatura", que considerava uma
heresia qualquer ameaça a seus privilégios, retrocedeu.
Não
teve coragem de enfrentar os czares vermelhos. Por isso, acabou sendo
"atropelado" por eles, caindo em desgraça e sendo destituído da
liderança partidária, para dar lugar ao êmulo de Stalin, o truculento Brezhnev.
Gorbachev
concebeu a "perestroika" para ser uma revolução duradoura e
simultânea: de cima para baixo e de baixo para cima. Foi ele próprio quem disse
isso no seu célebre livro. "Existe uma expressão em ciência histórica e
também no vocabulário político que é 'revolução de cima'. Houve numerosas
revoluções desse tipo na História, mas não devem ser confundidas com golpes de
Estado e revoluções palacianas. Seu significado são mudanças revolucionárias
profundas e essenciais, implementadas pela iniciativa das próprias autoridades,
mas exigidas por mudanças objetivas na situação e ânimos sociais",
expressou.
Mais
adiante Gorbachev explica: "O fato de a 'perestroika' ser simultaneamente
uma revolução de 'cima' e de 'baixo' constitui seu traço distintivo e sua
força. Esta é a garantia mais segura de seu sucesso e irreversibilidade. Sempre
procuraremos assegurar que as massas, o povo 'de baixo', obtenham seus direitos
democráticos e aprendam a usá-los de modo habitual, competente e
responsável".
Aí
está uma palavrinha chave: responsabilidade. É o que vem faltando a
determinadas lideranças locais que se opõem ao presidente soviético, entendendo
a reforma como mera tarefa de destruição e não de reconstrução.
No
discurso que pronunciou em 15 de novembro de 1988, Gorbachev alertou: "A
democracia aumenta a responsabilidade das pessoas". Elas passam a ter em
suas mãos não somente seu destino pessoal, mas parcela considerável daquele da
sociedade à qual pertencem.
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 27 de março de
1991).
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