Perestroika
não é New Deal
Pedro J. Bondaczuk
O
projeto reformista do presidente Mikhail Gorbachev, que objetiva recuperar
principalmente a economia da União Soviética e implantar a autêntica justiça
social, tem sido comparado por alguns analistas, guardadas as devidas
proporções, ao "New Deal" de Franklin Delano Roosevel nos Estados
Unidos.
As
situações dos dois países, todavia, são tão diversas que não cabem comparações.
Os problemas da URSS contemporânea são tão complexos que a solução para eles
ainda não foi sequer vislumbrada.
A
perestroika pode vir a se tornar o início dessa tentativa de restruturação, que
irá demandar muito tempo, algumas gerações, e grandes investimentos,
principalmente em termos de sacrifícios, que os soviéticos não estão dispostos
a fazer.
O
programa norte-americano foi emergencial, para uma determinada ocasião e tinha
latentes as condições ideais para dar certo. O sociólogo Daniel Bell observou o
seguinte a esse propósito: "Um retrospecto histórico: o que foi o New Deal
de Franklin D. Roosevelt? Para uns, foi um 'socialismo sorrateiro', para outros
foi um 'socialismo salvador'. Talvez o ponto central seja o fato de que foi uma
resposta a uma mudança em escala. De 1910 a 1930, houve um crescimento dos
mercados nacionais e das empresas nacionais. Todavia, o verdadeiro poder
econômico e estabilizador permaneceu nas mãos dos Estados. A ação exercida pelo
'New Deal' foi a criação de mecanismos nacionais eficazes para solucionar os
problemas econômicos nacionais: uma Comissão de Valores Mobiliários para
regular os mercados financeiros e um sistema de Previdência Social para
proporcionar uma rede de segurança na velhice".
Os
Estados Unidos passavam, na época, por mero desajuste conjuntural em sua
economia. Tinham recursos próprios e potencial inexplorado a explorar para
fazer a correção de rumos. Já a União Soviética tem um problema estrutural
básico: nada funciona a contento ali.
A
produção despenca, de ano para ano, por falta de incentivo a quem produz. A
distribuição dos produtos é catastrófica. Os investimentos são equivocados. As
novas tecnologias desenvolvidas levam muito tempo para chegar à indústria e
quando chegam estão defasadas.
Além
disso, o país precisa desesperadamente de capitais. Dessa forma, não dispõe nem
de recursos econômicos e nem de potencial humano motivado para reformar suas
estruturas.
Não
se trata de uma questão meramente de nomes, como alguns ingênuos pensam.
Derrubar Gorbachev e substituí-lo por Bóris Yeltsin no governo central não vai
resolver nada. Implantar o mercado a toque de caixa, como checos, húngaros e
até búlgaros vêm fazendo, somente redundará nas distorções que se fazem
presentes na atualidade, nas economias desses países.
O
presidente soviético sabe que está lidando com um fator imponderável essencial,
onde sua atuação pouco vale: a vontade do povo. Ele próprio admitiu em seu
livro: "Uma das tarefas primordiais, senão a principal de esforço da
restruturação, é reviver e consolidar no povo soviético um senso de
responsabilidade pelo destino do país".
(Artigo
publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 7 de abril de
1991).
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