Notícia ou fofoca?
Pedro J. Bondaczuk
O saudoso mestre Benedito Sampaio, na crônica
"Pecados da Língua", publicada no Correio Popular de Campinas há
algumas décadas, e que consta de seu livro (premiado pela Academia Brasileira
de Letras na ocasião) "O Cosmorama da Cidade", constata: "Diz o
ditado que o peixe morre por sua boca. Também pela boca morremos nós, ou vamos
morrendo na alma, porque, não contentes de pecar por pensamentos, damos à
língua e dizemos mal do nosso semelhante. E como se não bastasse a só intenção
silenciosa para tornar-nos réus de grave culpa, soltamos a palavra e lá se vai
a maledicência a apregoar a nossa imperfeição".
Há pessoas cuja diversão predileta é falar mal da
vida alheia. Ninguém escapa de sua língua ferina (ou, pior, do seu texto
contundente), deva ou não, seja ou não merecedor de reprovação por idéias,
escritos, conduta ou ausência dela. Há críticas que são sempre bem vindas, por
servirem de corretivos de rumos em nossas vidas.
Quando bem fundamentadas, embora arranhem nosso ego
e firam nosso amor próprio, alertam-nos para nossas falhas, permitindo que as
corrijamos. Estas, contudo, não podem e nem devem ser confundidas com a pura e
simples maledicência. Com o rancor patológico que determinadas pessoas costumam
sentir e mostrar por seus semelhantes, mesmo contra os que não conhecem
pessoalmente.
O leitor, certamente, já teve a oportunidade de se
deparar com gente assim, que todos evitam, para escapar de aborrecimentos
inúteis. Esses indivíduos, se participam de uma conversa numa roda de amigos,
buscam aparentar onisciência. Palpitam sobre tudo e sobre todos, mas sempre
destilando veneno. Se o assunto envolve determinado cantor de sucesso, ou ator
de novela, de imediato arranjam uma brecha no bate-papo para suas observações
em geral descabidas e inoportunas. "Fulano?! Ora, todos sabem que se trata
de um efeminado", logo afirmam, com ares de sabe-tudo.
Ou, quando não questionam a virilidade da figura
famosa, recorrem a outros defeitos –
geralmente existentes somente em suas cabeças de sociopatas – para
criticar, ou afirmando que o artista é viciado em drogas, ou que é mulherengo
ou qualquer outra coisa que lhe confira "notoriedade".
Dessas "críticas" não há quem não deseje
se livrar. São destrutivas, mesquinhas, covardes, que revelam somente uma
personalidade desajustada, doentia e sumamente infeliz. Não constróem nada e,
se puderem, destroem qualquer um, sem o mínimo escrúpulo, já que ninguém gosta
de ser mal falado, principalmente quando tem consciência de estar agindo bem.
Pior é quando esses indivíduos conseguem colunas em
jornais ou revistas. Não raro, tomam processos sobre processos nas costas, por
suas irresponsáveis acusações, mas não se emendam. E em geral são muito lidos,
principalmente por fracassados, que se deliciam com defeitos alheios, reais ou
não, para compensar a própria insignificância.
Inventam circunstâncias, distorcem acontecimentos,
vêem malícia nas coisas mais inocentes e procuram sempre, invariavelmente, como
regra de conduta, realçar o lado negativo (mesmo que ele não exista), de
figuras públicas de sucesso. Um desses casos foi o já célebre beijo de Chico
Buarque de Hollanda, que ganhou repercussão muito além da sua real importância
(se é que tem alguma para algum leitor). “É o preço que se paga pela
celebridade”, diriam alguns. Discordo! Isto pode ser tudo, menos jornalismo.
Há, porventura, a mínima necessidade de se agir
dessa maneira? Não existe uma forma mais decente, ética, lógica e construtiva
de se escrever sobre os outros, sem recorrer às insinuações, ao escândalo, à
maledicência? As pessoas bem sucedidas,
necessariamente, têm que se submeter a isso, ou seja, a ter sua intimidade
invadida, vasculhada, devassada e exposta com crueza, e de forma distorcida, ao
público? Claro que não!
Os maledicentes... Ah! como são frustrados e amargos
os maledicentes! São mais um caso para se ter piedade do que rancor. Todavia,
as críticas honestas, fundamentadas, coerentes, são importantíssimas, mesmo
quando partidas de alguém que não nos aprecia. Aliás, nestes casos, têm até
muito mais valor, já que não vêm cercadas do fator “bajulação”. São isentas e
desinteressadas.
Ruy Barbosa observou, num célebre discurso proferido
no Senado, no início do século passado: "Amigos e inimigos estão, amiúde,
em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros, nos almejam
o bem, e nos trazem o mal". Elogios, em geral, tendem a ser funestos,
mesmo quando o elogiado é merecedor deles. Sábia é a observação do saudoso
mestre Benedito Sampaio, com a qual iniciamos estas considerações. De fato, o
maledicente vai morrendo na alma a cada aguilhoada que dá em seus semelhantes,
não sem antes causar enormes estragos ou, na melhor das hipóteses, imensos
aborrecimentos.
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