Concorrer
para continuar vivo
Pedro J. Bondaczuk
O combate à inflação, por parte do governo do
presidente Collor de Mello, deverá ficar mais acirrado neste mês, em virtude,
principalmente, do fator psicológico já tornado comum entre nós chamado de “expectativa
inflacionária”. Já nos últimos dias de agosto passado circularam previsões
pessimistas no mercado, em decorrência de algumas ações internas e da
influência externa, determinada, principalmente, pela crise do Golfo Pérsico.
Chegou-se a prever, até mesmo, um “setembro negro”,
hipótese que não deve se configurar em virtude de instrumentos de que as
autoridades dispõem para controlar a escalada dos preços. Fica a expectativa de
como os empresários irão se comportar, agora que o mercado livre passará a ser
o regulador das transações comerciais.
Desde anteontem, a famosa tabela da Sunab (tão
mencionada, mas raramente obedecida) deixou de existir como instrumento de
combate à inflação. Começa, portanto, o grande teste para os agentes econômicos
nacionais, uma prova de fogo para saber se eles realmente estão preparados para
as transformações que vêm caracterizando os dois últimos anos, em termos de
economia.
Cada vez mais, a dobradinha qualidade/preço vai ser
o fator determinante até da sobrevivência de vários empreendimentos existentes
no País. Quem tiver cacife, for criativo, contar com visão de médio e longo
prazo e tiver jogo de cintura, não somente conseguirá sobreviver, como, e
principalmente, vai prosperar.
Com a abertura das importações, a preços competitivos,
a corrida pelas vendas não terá mais somente gente despreparada, que prefere um
mau acordo a uma boa demanda. Não se tenha dúvidas de que produtos estrangeiros
entrarão com um grande apetite neste mercado potencialmente tentador – a
despeito do achatamento salarial – e para vencer.
Aliás, o governo conta com essa concorrência para
evitar alguma eventual explosão inflacionária. Além disso, está previsto um
novo arrocho monetário, para diminuir a liquidez da economia. Não se trata de
nenhuma ação que preocupe o público diretamente, já que esse “enxugamento” vai
acontecer via bancos, que terão que fazer depósitos maiores no Banco Central.
O crédito, portanto, será mais escasso e,
conseqüentemente, mais caro. Um eventual repasse desse aumento de juros que a
medida irá acarretar, todavia, seria um suicídio administrativo cometido por
quem fizer isso, se for levada em conta a concorrência dos produtos
estrangeiros (mais baratos e de melhor qualidade), que deverá se acirrar em
setembro. Por tudo isso, embora o mês certamente não venha a se constituir numa
primavera de prosperidade, também não será a catástrofe prevista pelos
mal-acostumados e pelos incompetentes.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 4 de setembro de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment