Eleitor é sobretudo cidadão
Pedro J.
Bondaczuk
A menos de 90 dias do primeiro turno das próximas eleições
para governos e assembléias estaduais e para a renovação total da Câmara de
Deputados e de um terço do Senado, prevalece um clima de apatia geral entre os
eleitores, certamente desencantados com os políticos.
É certo que as generalizações são
sempre injustas. Mas nossos homens públicos, em especial nossos pretensos
“representantes” no Congresso, nos
decepcionaram solenemente. Elaboraram, por exemplo, num prazo anormalmente
longo (o mais prolongado de nossa história), uma Constituição repleta de
ambigüidades e de incoerências que, em menos de dois anos de vigência, já está
requerendo urgentes reformas.
Abusaram do direito de faltar ao
trabalho, sob o pretexto de estarem atuando junto às suas bases. Eu não mantive
contato com o deputado que elegi. A mesma coisa ocorreu com a grande maioria
(senão a totalidade) das pessoas que conheço. Para complicar tudo, quando os
parlamentares trabalharam, gastaram um tempo imenso (regiamente remunerado)
discutindo o “sexo dos anjos”.
Por isso, não será surpresa
nenhuma se a taxa de renovação da Câmara passar dos 70% e das vagas em disputa
no Senado chegar aos 100%. O que se percebe é um desencanto absoluto em relação
aos políticos, que não se reciclaram, não se atualizaram, não modernizaram
sequer o discurso, quanto mais a ação, conservando os mesmos vícios e atitudes
características dos mais de 100 anos de República.
Além disso, o País permanece
virtualmente sem partidos que mereçam essa designação. Há uma profusão de
siglas, sob as quais os candidatos se abrigam, com programas tão vagos e
redundantes, a maioria deles diferentes somente em detalhes, jamais nas
substâncias, que o eleitor fica confuso na hora de escolher.
Boa parte opta por votar em
branco. Continuamos, portanto, votando em homens por sua simpatia (ou
demagogia) ou antipatia, jamais em idéias, programas, princípios. Já que no
mundo todo a palavra da moda tem sido mudança, que tal a gente começar a mudar
nossa mentalidade de como fazer política?
Este é o momento de se assumir
plenamente a cidadania e não se deixar conduzir, como massa despersonalizada
sem forma, por cidadãos bem falantes, pródigos em tapinhas nas costas e
beijinhos nas crianças, mas que fazem da vida pública somente um trampolim para
o sucesso pessoal.
Não é a democracia que se
contesta, mas são os equívocos e distorções cometidos em seu nome oos
contestáveis. Hoje em dia, no Brasil, é mais constatável do que nunca a
observação do filósofo norte-americano Will Durant sobre as cidades: “Novamente
apareceram, na moderna metrópole, aquelas condições do Oriente que haviam
desfeito a personalidade e a significação do indivíduo – e a filosofia do
desespero e do fatalismo ressurgiu”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de
julho de 1990).
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