Reformas não têm receitas
prontas
Pedro J. Bondaczuk
A
despeito dos esforços empreendidos pelo presidente soviético, Mikhail
Gorbachev, no sentido de modernizar e, sobretudo, humanizar o sistema social do
seu país, que assumiu um rumo diametralmente oposto ao sonhado pelos mentores
da Revolução Bolchevique de 1917, --- o stalinismo foi um autêntico e clássico
golpe de Estado --- todo o arcabouço comunista montado ao longo de mais de sete
décadas está desmoronando. Não somente na URSS, num processo aceleradíssimo de
empobrecimento --- a queda do Produto Interno Bruto prevista para este ano é de
11,5% --- mas em todo o Leste europeu.
Vários
países, como Hungria, Polônia e Checoslováquia, já se livraram do marxismo, mas
não sabem o que fazer com suas respectivas reformas. Tropeçam na ausência de
lideranças democráticas e na ignorância do próprio povo acerca das leis que
regem o mercado livre.
Verdadeiras
romarias de estadistas e ex-dirigentes políticos do Ocidente, além de
banqueiros e de empresários, têm se formado, rumo a Moscou, para ver de perto a
pretensa desagregação do urso soviético. Todos vão munidos de críticas sobre o
procedimento de Gorbachev, principalmente em relação às aspirações
nacionalistas dos povos bálticos e caucasianos, ou levando palpites na
algibeira sobre a melhor maneira de fazer a reversão do sistema centralizado de
gestão da economia para algo parecido com o que existe no lado ocidental.
Mas
existiriam fórmulas prontas que, mesmo tendo funcionado em algum país, possam
ser transplantadas em outros? Evidentemente, não!
Cada
povo tem sua própria psicologia, seu modo de ser, sua formação. As realidades
de uma nação para outra são completamente diferentes. Variam tanto as
condições, quanto as aspirações de um Estado para outro, para não falar de sua
estrutura.
Mikhail
Gorbachev, num discurso que pronunciou na cidade de Oriol, para as lideranças
regionais do Partido Comunista, em 15 de novembro de 1988, destacou: "As
principais diferenças entre o socialismo e o capitalismo não consistem na
negação do planejamento ou das leis de mercado, mas nos interesses de quem
estes são utilizados. O que importa é saber se o homem é meio ou
objetivo".
Estaria
o presidente soviético querendo conduzir as reformas, através do conjunto de
idéias denominado "perestroika" --- que sequer é um programa acabado,
mas uma série de diretrizes gerais para a elaboração de um plano reformista em
profundidade --- sozinho, ditando normas de alto para baixo?
Se
estivesse --- ou se está --- certamente ao invés de implantar algo de
construtivo na sua sociedade, rejuvenescendo ideais, há muito esquecidos
mediante uma retomada de rumos, na verdade conseguirá promover tão somente o
caos nessa colcha de retalhos étnica que é a União Soviética.
O
escritor inglês, H. G. Wells, em seu livro "Antecipações", advertiu,
antes da Segunda Guerra Mundial: "O mundo já não pode ser refeito por
indivíduos ocasionais, da mesma forma pela qual nenhuma cidade virá a ser
iluminada por meio de rojões. O propósito das coisas surge de amplas questões,
e o dia dos líderes individuais já passou". Se isto valia para aquela
época, imagine-se hoje, no limiar do terceiro milênio da era cristã!
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 26 de março de
1991).
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