Motim peca por falta de
comando
Pedro J. Bondaczuk
A
tentativa para derrubar o presidente iraquiano Saddam Hussein, senão
estimulada, pelo menos incentivada pelo Ocidente, em especial pelo presidente
norte-americano George Bush, está trazendo ainda mais sofrimentos para a tão
atormentada população desse país, que acabou de passar pelos maiores ataques
aéreos já realizados em toda a história, com toda a tragédia decorrente deles.
O
Norte e o Sul do Iraque estão em pé de guerra, com curdos e xiitas,
respectivamente, buscando fincar enclaves em território nacional, para o
estabelecimento de um governo de fato. Assim que um deles obtiver o controle
absoluto de sua região --- se é que conseguirá isto --- não há dúvidas que
receberá o pronto reconhecimento ocidental.
Aliás,
isto já era previsível, antes mesmo dos aliados iniciarem a operação terrestre,
que pôs fim à guerra. Inúmeros líderes árabes vieram a público na oportunidade,
para condenar a intenção de dividir o Iraque em pequenos e enfraquecidos
Estados. Hoje, eles mudaram de opinião e parecem incentivar o divisionismo.
A
impressão que fica, todavia, é que pelo menos esta batalha, a da sua manutenção
no poder, Saddam deverá ganhar, contando com a irrestrita lealdade da Guarda
Republicana, qure não foi totalmente dizimada como se informou.
Aliás,
o presidente iraquiano não seria ingênuo a ponto de perder o chamado "pulo
do gato". Como essa força de elite detém os soldados mais adestrados, os
melhores armamentos e possui grande disposição de combate, os rebeldes têm
reduzidas chances de lograrem sucesso em sua tentativa.
O
máximo que tais rebeliões irão conseguir será prolongar o tormento da
população, que tem diante de si a monumental tarefa da reconstrução, sem que
existam recursos para isso. Taticamente, o momento é inoportuno para a
derrubada de Saddam.
O
país corre o risco de ficar acéfalo, sem liderança forte. E o caminho mais
indicado não é exatamente o que vem sendo seguido. A melhor tática seria
promover o divisionismo na Guarda Republicana. Enquanto esta permanecer coesa
em torno de Saddam, toda tentativa de golpe será inútil.
O
presidente iraquiano pode ter cometido falhas durante a guerra, embora seja
fácil crucificar um derrotado depois da derrota haver se configurado. Porém,
quem subestimar sua capacidade de estrategista certamente está fadado a se dar
muito mal.
Não
é possível que o líder não tenha previsto a possibilidade de ser derrotado
pelos aliados, com as conseqüentes seqüelas do insucesso. Além disso, o tempo
demonstrou que o grande pecado da oposição iraquiana sempre foi o seu
divisionismo.
Daí
Saddam ter permanecido por tanto tempo no poder e tudo indicar que, para
desgosto dos antigos aliados árabes, hoje seus adversários, e principalmente
dos países ocidentais com interesses no Golfo Pérsico, deva prossegui sendo uma
ameaça, ou no mínimo um incômodo, difícil de se livrar.
(Artigo
publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 6 de março de
1991).
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