Sunday, February 26, 2017

O Real e as campanhas


Pedro J. Bondaczuk


A Medida Provisória 482, que criou a Unidade Real de Valor e a nova moeda brasileira --- que entra em circulação em 1º de julho próximo --- foi aprovada, finalmente, no Congresso, depois de idas e vindas, negociações e barganhas, apelos e até ameaças veladas. Provavelmente foi a última matéria importante a ser apreciada pelos atuais congressistas.

Doravante, toda a sua atenção estará voltada --- como de resto a do País inteiro --- para as campanhas objetivando as eleições gerais de outubro próximo. As candidaturas estão virtualmente definidas, quase todas foram homologadas no que se refere à Presidência, e o próximo passo será a complicada tarefa de convencimento dos eleitores.

Todas as pesquisas divulgadas até agora terão pouca (ou nenhuma) serventia, já que a briga de fato vai começar apenas nos primeiros dias de junho, esquentará a partir de 2 de agosto com o início da propaganda eleitoral gratuita pelo rádio e pela televisão e culminará às vésperas da própria votação.

Até lá, como se diz popularmente, "muita água vai rolar debaixo da ponte". Desta vez, ao contrário do que ocorreu em 1989, há um fator novo, de incerteza, para complicar qualquer tentativa de previsão sobre quem tem mais chances de ser o sucessor de Itamar Franco. Trata-se do plano de estabilização econômica, em especial da nova moeda, o Real, e da expectativa de acentuada queda da inflação.

Caso esta realmente caia, como se espera, e não haja problemas do tipo cobrança de ágio, desabastecimento e outras velhacarias, tão comuns em ocasiões como estas, as chances de vitória de Fernando Henrique Cardoso serão enormes. Se ocorrer o contrário...

Por isso, políticos, economistas e sociólogos vão se suceder nos jornais, nas emissoras de rádio e nos canais de televisão para exercitar o dom de pitonisas, fazendo declarações as mais conflitantes, cada qual de acordo com suas ideologias e interesses.

A verdade é que esse pessoal sabe tanto quanto nós, pobres mortais e leigos em economia, sobre o que vai ocorrer, já que essa disciplina não é uma ciência exata. Alguns dirão --- os adversários de Fernando Henrique --- que o plano é um estelionato eleitoral e que a inflação vai explodir a partir de novembro. Outros afirmarão que o programa é a salvação da lavoura. O tempo e a prática dirão quem estava certo. Tudo o mais é pura retórica, mas que assusta.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de maio de 1994).


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