O Real e as campanhas
Pedro J. Bondaczuk
A
Medida Provisória 482, que criou a Unidade Real de Valor e a nova moeda
brasileira --- que entra em circulação em 1º de julho próximo --- foi aprovada,
finalmente, no Congresso, depois de idas e vindas, negociações e barganhas,
apelos e até ameaças veladas. Provavelmente foi a última matéria importante a
ser apreciada pelos atuais congressistas.
Doravante,
toda a sua atenção estará voltada --- como de resto a do País inteiro --- para
as campanhas objetivando as eleições gerais de outubro próximo. As candidaturas
estão virtualmente definidas, quase todas foram homologadas no que se refere à
Presidência, e o próximo passo será a complicada tarefa de convencimento dos
eleitores.
Todas
as pesquisas divulgadas até agora terão pouca (ou nenhuma) serventia, já que a
briga de fato vai começar apenas nos primeiros dias de junho, esquentará a
partir de 2 de agosto com o início da propaganda eleitoral gratuita pelo rádio
e pela televisão e culminará às vésperas da própria votação.
Até
lá, como se diz popularmente, "muita água vai rolar debaixo da
ponte". Desta vez, ao contrário do que ocorreu em 1989, há um fator novo,
de incerteza, para complicar qualquer tentativa de previsão sobre quem tem mais
chances de ser o sucessor de Itamar Franco. Trata-se do plano de estabilização
econômica, em especial da nova moeda, o Real, e da expectativa de acentuada
queda da inflação.
Caso
esta realmente caia, como se espera, e não haja problemas do tipo cobrança de
ágio, desabastecimento e outras velhacarias, tão comuns em ocasiões como estas,
as chances de vitória de Fernando Henrique Cardoso serão enormes. Se ocorrer o
contrário...
Por
isso, políticos, economistas e sociólogos vão se suceder nos jornais, nas
emissoras de rádio e nos canais de televisão para exercitar o dom de pitonisas,
fazendo declarações as mais conflitantes, cada qual de acordo com suas
ideologias e interesses.
A
verdade é que esse pessoal sabe tanto quanto nós, pobres mortais e leigos em
economia, sobre o que vai ocorrer, já que essa disciplina não é uma ciência
exata. Alguns dirão --- os adversários de Fernando Henrique --- que o plano é
um estelionato eleitoral e que a inflação vai explodir a partir de novembro.
Outros afirmarão que o programa é a salvação da lavoura. O tempo e a prática
dirão quem estava certo. Tudo o mais é pura retórica, mas que assusta.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de maio de 1994).
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