Nascemos para o mundo
Pedro
J. Bondaczuk
O homem de espírito
somente tem seu valor reconhecido quando ou "se" comunica aos que o
rodeiam suas observações sobre tudo o que o cerca. Se compartilha as idéias que
tem com um número máximo de pessoas que lhe sirvam de "espelho" e
reflitam toda essa "luz" que emite. Se tem opinião formada sobre
vários assuntos. Se oferece ao mundo, da mesma forma que recebe, suas criações.
Se brinda a comunidade, não importa qual –
se a da rua, do bairro, da cidade, do país ou mundial – com o produto
resultante da sua atividade intelectual e da sua sensibilidade.
O fruto da razão e da
emoção só tem sentido quando se incorpora ao patrimônio comum do nosso tempo.
Quando é compartilhado com os outros. Quando consegue despertar interesse e
enriquece a cultura de um povo e de uma época. Quando resulta em alguma
conseqüência. É sua única razão de existir.
Este é o motivo
principal da minha atividade, tanto como jornalista, quanto como "aprendiz
de homem de letras". Textos como este têm o objetivo de estabelecer um
confronto de idéias e algumas vezes de provocar quem os lê, para deflagrar uma
saudável discussão, que seja proveitosa para ambos: para o comunicador e para o
destinatário da comunicação. Embora profissional, nunca aspirei obter dinheiro
com aquilo que escrevo. A venda das minhas idéias somente ocorreu por duas
razões e ambas me incomodam. Verificou-se em decorrência da necessidade de prover
minha subsistência e a da minha família e do fato de haver quem esteja disposto
a pagar por elas.
Mas isto me aborrece.
Sinto como se estivesse vendendo um filho. Ou como se estivesse me
prostituindo, cedendo uma parte de mim por dinheiro. É certo que se trata de
uma recíproca. Investi muito, em termos de recursos materiais, de tempo e de
esforço para aprender o que sei. Ainda assim, não me sinto muito confortável
vendendo o que crio. Daí ter experimentado inenarrável sensação de prazer ao
doar, em 1998, há, portanto, 19 anos, a totalidade dos direitos de venda do meu
livro "Por uma nova utopia" a uma instituição beneficente, o Centro
de Defesa da Vida, cuja atividade se caracteriza em demover os suicidas
potenciais de cometerem essa loucura.
Por isso, a maior parte
do que publico – e que não é pouca coisa – é oferecida de forma gratuita aos
órgãos que veiculam meus textos, para que eles os divulguem ao seu público, que
por conseqüência também se torna meu. Pelo menos presumo que seja assim, caso
contrário esses jornais certamente me fechariam as portas. Não pretendo ser
genial. Não me considero assim. Não, pelo menos, o tempo todo. Tanto que nunca
utilizo jargões, termos técnicos, expressões características, mesmo quando
abordo complexos temas filosóficos. Procuro ser simples nas palavras que uso,
na maneira com que exponho as idéias e nas teses que defendo.
Há algum tempo (há uns
20 anos) fui acusado por alguém, que se dizia meu admirador, de fazer as
citações, que caracterizam quase todos os meus textos, por puro pedantismo. Ou
seja, para exibir aos outros o meu grau de leitura. Que bobagem!!! O que busco
fazer é simplesmente devolver o que recebo: idéias alheias. Claro,
acompanhadas, sempre que possível, da respectiva opinião sobre elas, além de
jamais dar os devidos créditos aos seus respectivos autores. Nunca me apropriei
do que não é meu.
Esse modo de agir é uma
forma de reverenciar os grandes pensadores, os grandes artistas, os grandes
criadores (atuando como seu espelho) e de ajudar a impedir que eles e suas
criações sejam esquecidos. Há quem goste do meu estilo, que se propõe a ser
nada mais do que uma "conversa" com os leitores, como aquelas que nos
tempos de estudante algumas pessoas têm, em geral às sextas-feiras à noite, com
os amigos, em alguma mesa de bar, regadas a chope. Ou que outros mantêm
diariamente, após a saída do trabalho, no que passou a ser conhecido como
"happy-hour".
Escrevo algumas
bobagens, como acusou alguém, há uns 20 anos, em uma maldosa e desaforada carta
anônima que enviou ao jornal em que eu então trabalhava? (Ele disse
"só" bobagens, o que, convenhamos, é um exagero). Tudo bem! Graças a
Deus! É sinal de que ainda sou humano. Mas pelo menos tenho a coragem de me
expor. Estou disposto a me relacionar com os outros, sejam quais forem as
consequências. Compartilho com os semelhantes (e dissemelhantes) meus anseios,
sonhos, virtudes e fraquezas. Mesmo escrevendo tolices, ainda assim estou
induzindo alguém a pensar. Inclusive esse mesmo sujeito azedo e mesquinho – e certamente
complexado e infeliz por precisar se esconder no anonimato.
Dom Bosco afirmou que
"Deus nos colocou no mundo para os outros". A recíproca é verdadeira.
Ou seja, os outros também existem para nos ajudar, nos atrapalhar, nos apoiar,
nos repudiar, nos aprovar ou nos contestar. Daí a comunicação ser tão
importante, seja em que plano for. Precisamos é buscar uma interação. E quanto
mais ampla e constante puder ser, tanto melhor.
A maior prova de que
não busco nenhuma vantagem com o que escrevo, é que não conheço a maioria dos
meus leitores. Não atino quantos são. Desconheço seu sexo, sua cor, sua
religião, sua etnia, sua nacionalidade, sua condição social, seus gostos, suas
idiossincrasias ou seu grau de cultura. Sei, apenas, pelos resultados que obtenho,
que não são poucos estes amigos (e inimigos) anônimos. Mesmo que fosse um
único, seria válido e bem vindo. E escreveria para ele (ou para ela) com o
mesmo entusiasmo com que o faria para 50 mil, 100 mil, 500 mil, um milhão ou
muito mais.
Tenho a certeza, por
outro lado, que meus leitores, sejam quais ou quantos forem, são fiéis, pelo
tempo em que sou solicitado por jornais dos mais variados portes e estilos a
colaborar com eles. E pelos e-mails e telefonemas que recebo (aprovando e
reprovando meus textos). E pelas manifestações de carinho com que sou brindado
na rua. E pelo meu ingresso, no já longínquo ano de 1992, na Academia Campinense de Letras. E pelo
título de cidadania que recebi em 1993 da Câmara Municipal de Campinas. E por
tantas coisas mais... Nada disso teria acontecido se não me conhecessem. E se
minhas idéias não provocassem nenhuma reação, mesmo que às vezes de ostensiva
discordância, que não fosse a pura indiferença...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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