Inexplicáveis
atitudes sauditas
Pedro J. Bondaczuk
Quando o Iraque começou a sua série de ataques a
navios estrangeiros que se destinavam ao terminal petrolífero iraniano da Ilha
de Kharg, em março passado, o presidente iraquiano, Saddam Hussein, veio a
público para justificar esse tipo de ação. Defendeu-o como sendo necessário
para fazer a economia do inimigo entrar em colapso, sem se importar com o fato
de estar, também, destruindo o patrimônio de outros países, com os quais seu
governo não está em guerra.
É público e notório que a base da economia do Irã se
restringe às suas exportações de petróleo. Se a intenção era a de afetar o
adversário do Golfo, no que ele tem de mais fundamental para sua sobrevivência,
parece que os objetivos, de fato, estão sendo alcançados. Desde ontem, os
iranianos estão vendendo o seu barril de petróleo US$ 1,60 mais barato àqueles
que queiram se aventurar em ir buscar o produto em seus terminais.
Entretanto, uma coisa não ficou clara, desde que a
guerra do Golfo Pérsico foi reativada, passando da mera fase de desgaste mútuo
para combates decisivos, com o objetivo de pôr fim ao conflito mediante a
vitória de um dos contendores: a questão das alianças.
O primeiro petroleiro a ser atacado pelo Iraque, o
“As Safina”, era de bandeira saudita. Portanto, de um aliado do regime de
Bagdá. Não houve grandes reações diante desse ato de hostilidade, embora o alvo
atacado fosse um superpetroleiro, portanto, um patrimônio caríssimo. Já quando
os Phantoms do Irã alvejaram barcos sauditas e kuwaitianos, a gritaria foi
generalizada.
Não parece ilógica essa atitude, ou seja, a de
aceitar a agressão de um aliado declarado e, mesmo assim, continuar lhe dando
apoio? Não é contraditório arcar com um prejuízo maior, de vários milhões de
dólares, só porque este é causado por um pretenso erro do protegido?
Não queremos ser pitonisas, mas mantemos nosso ponto
de vista de 44 meses atrás. Ou seja, o de que não vemos como o Iraque possa
vencer esta guerra, depois que cedeu um terço do território que conquistou, nos
primeiros dias de conflito, ao inimigo.
Esperam-se, aliás, para hoje, novidades na região,
com o início do Ramadã, o mês de jejum dos muçulmanos. Fala-se em um gigantesco
ataque do Irã, envolvendo nada menos do que meio milhão de soldados, contra o
porto iraquiano de Basra. Caso a ação tenha sucesso (o que não é de todo
improvável), como ficarão os imprudentes aliados do Iraque diante do implacável
Khomeini? É caso para se pensar...
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 31 de maio de 1984)
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