Saturday, February 25, 2017

Inexplicáveis atitudes sauditas



Pedro J. Bondaczuk


Quando o Iraque começou a sua série de ataques a navios estrangeiros que se destinavam ao terminal petrolífero iraniano da Ilha de Kharg, em março passado, o presidente iraquiano, Saddam Hussein, veio a público para justificar esse tipo de ação. Defendeu-o como sendo necessário para fazer a economia do inimigo entrar em colapso, sem se importar com o fato de estar, também, destruindo o patrimônio de outros países, com os quais seu governo não está em guerra.

É público e notório que a base da economia do Irã se restringe às suas exportações de petróleo. Se a intenção era a de afetar o adversário do Golfo, no que ele tem de mais fundamental para sua sobrevivência, parece que os objetivos, de fato, estão sendo alcançados. Desde ontem, os iranianos estão vendendo o seu barril de petróleo US$ 1,60 mais barato àqueles que queiram se aventurar em ir buscar o produto em seus terminais.

Entretanto, uma coisa não ficou clara, desde que a guerra do Golfo Pérsico foi reativada, passando da mera fase de desgaste mútuo para combates decisivos, com o objetivo de pôr fim ao conflito mediante a vitória de um dos contendores: a questão das alianças.

O primeiro petroleiro a ser atacado pelo Iraque, o “As Safina”, era de bandeira saudita. Portanto, de um aliado do regime de Bagdá. Não houve grandes reações diante desse ato de hostilidade, embora o alvo atacado fosse um superpetroleiro, portanto, um patrimônio caríssimo. Já quando os Phantoms do Irã alvejaram barcos sauditas e kuwaitianos, a gritaria foi generalizada.

Não parece ilógica essa atitude, ou seja, a de aceitar a agressão de um aliado declarado e, mesmo assim, continuar lhe dando apoio? Não é contraditório arcar com um prejuízo maior, de vários milhões de dólares, só porque este é causado por um pretenso erro do protegido?

Não queremos ser pitonisas, mas mantemos nosso ponto de vista de 44 meses atrás. Ou seja, o de que não vemos como o Iraque possa vencer esta guerra, depois que cedeu um terço do território que conquistou, nos primeiros dias de conflito, ao inimigo.

Esperam-se, aliás, para hoje, novidades na região, com o início do Ramadã, o mês de jejum dos muçulmanos. Fala-se em um gigantesco ataque do Irã, envolvendo nada menos do que meio milhão de soldados, contra o porto iraquiano de Basra. Caso a ação tenha sucesso (o que não é de todo improvável), como ficarão os imprudentes aliados do Iraque diante do implacável Khomeini? É caso para se pensar...  

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 31 de maio de 1984)


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