Eleições
decisivas
Pedro J. Bondaczuk
O atual governo – contando os quase três anos da
gestão de Fernando Collor e a presidência de seu vice, Itamar Franco – está,
praticamente, chegando ao fim, e tudo indica que serão cinco anos absolutamente
perdidos para o País.
A crise, que já era grave na época de José Sarney,
se tornou gravíssima, afetando o presente e o futuro de milhões de brasileiros.
Foi um período marcado por incertezas, vacilações, incompetência, tendo como
pano de fundo a onipresente corrupção. Algumas palavras-chave dominaram o
noticiário de março de 1990 para cá.
Falou-se, por exemplo, demasiadamente, em
“modernidade”, quando em alguns aspectos o Brasil retroagiu ao início do
século. A fúria reformista colocou por terra muita coisa de positivo que havia
sido conquistada no passado, sem que as mudanças funcionassem.
Inflação, desemprego, fome, confisco, privatização,
fraudes, plebiscito, ajuste fiscal, revisão constitucional, impeachment, PC
Farias, CPI, cassações, contas-fantasmas, “sete anões” etc. foram os termos
mais freqüentes nas manchetes. E, fazendo pano de fundo, implícita ou
explicitamente, a corrupção em todas as suas formas (política, econômica,
social e comportamental) esteve sempre presente, revoltando, angustiando,
frustrando os brasileiros, apesar das anedotas que inspirou. Disfarçamos nossas
angústias fazendo piadas sobre aquilo que nos atormenta.
A travessia de 1994 afigura-se dramática e perigosa.
Está nas mãos dos eleitores, num papelzinho que para muitos tem escasso valor,
mas que é sumamente importante numa democracia que se preze, a chave das
mudanças verdadeiras. Não aquelas de fachada, tão comuns entre nós, mas as
autênticas, que restituam a coesão nacional, a solidariedade e a justiça
social.
Todas eleições, desde que livres e sem cartas
marcadas, são importantes. Mas as do ano que vem têm sua importância
infinitamente multiplicada. O cidadão não tem mais o direito de errar na
escolha. Esgotou sua cota de equívocos ao eleger Fernando Collor e o atual
Congresso, provavelmente o mais pífio, inoperante e corrupto da nossa história.
No caso dos congressistas, pesou, em demasia, o
pueril protesto do eleitorado, ao descarregar uma enxurrada de votos brancos e
nulos nas urnas. Com isso, os incompetentes, os eternos caciques partidários
que possuem seus currais eleitorais, os manipuladores de corações e mentes, os
subornadores, os ladrões do Orçamento, prevaleceram, mediante a força do poder
econômico. Tão corruptos (ou no mínimo coniventes com sua corrupção, por terem
sido omissos) quando os deputados e senadores envolvidos no atual caso de
assalto ao bolso dos contribuintes, são aqueles que os elegeram.
Nem tudo, porém, está perdido. O melhor castigo para
aqueles que desvirtuaram a nobre função de representantes do povo, usando seus
cargos apenas para engordar contas bancárias do País e no Exterior, é a sua
expulsão da política. Mas isso não pode ser feito votando em branco ou anulando
o voto. Só terá êxito se o eleitor der chance a novos nomes, àqueles que jamais
exerceram qualquer mandato, mas que têm serviços prestados à comunidade a
ostentar.
Para isso, precisa abstrair-se da propaganda
política. Deve pesquisar, informar-se, participar ativamente da campanha. A
renovação não dá nenhuma certeza de eficiência ao futuro Congresso – nada dá –
mas abre uma preciosa oportunidade para isso, que merece, pelo menos, ser
tentada.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do
Taquaral, em dezembro de 1993)
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