Feixe
de contradições
Pedro J. Bondaczuk
Antes que me interpretem mal, não
se trata de auto-linchamento e nem de um surto de baixa estima. Mas sou um
tremendo feixe de defeitos e de contradições. Essa insólita confissão vem a
propósito de um estranho pedido, feito por um leitor, num post no meu blog “O
Escrevinhador”, para que eu traçasse um breve perfil psicológico meu. Antes,
massageou meu ego, ao dizer que apreciava tudo o que eu escrevia e que, por
isso, tinha enorme curiosidade em saber como eu era.
Que abelhudo! E agora, o que
faço? Atendo seu pedido, correndo o risco de aborrecer ainda mais os que eventualmente
lêem minhas periódicas observações sobre a vida, sobre livros, sobre filmes,
futebol etc. (sou incorrigível palpiteiro) aqui neste espaço? Ou o mando às
favas e lhe digo que cuide da própria vida? Não, não acho que deva cometer
tamanha indelicadeza que, ademais, não combina com a minha maneira de ser.
Creio, no entanto, que não existe
nada mais difícil para mim do que escrever a meu próprio respeito (embora não
negue ser um tanto narcisista), pelo menos com a isenção que se espera de um
escritor (ou escrevinhador, como prefiro me definir). Por mais que pretenda,
por exemplo, não consigo, de forma alguma, ser imparcial. Ou sou severo demais
na avaliação dos meus defeitos (tantos, que sou incapaz de listar todos), ou
complacente em demasia em relação a essas falhas, exagerando nas possíveis
virtudes, ou ambos (o que é mais provável, por sinal). De qualquer forma,
qualquer perfil que trace, certamente, haverá de soar falso. Paciência!
Será que o leitor quer, de fato,
que lhe atenda esse insólito pedido? Vá lá! Vou tentar! Mas que não espere
absoluta sinceridade (ou sequer parcial). Da forma que me vejo, minha principal
característica é a paixão (no bom e no mau sentido). É o meu sangue eslavo,
pois sou filho de russos, que fala mais alto. Melhor diria se me definisse como
“exagerado” (lembrando a composição do mesmo nome do Cazuza, que me veio, de
chofre, à mente, sem saber o porquê).
Amo sem restrições e não raro me
machuco por isso. Abro por completo a guarda às amadas e fico vulnerável aos
desencantos, desgostos e traições. O que fazer? É o meu jeito de ser! E jamais
consigo aprender com as burradas que cometo.
Só que nunca, também, consegui
odiar ninguém com a mesma intensidade. Aliás, não me lembro de ter nutrido ódio
por quem quer que seja (estaria minha memória tão fraca?). Mas não sou nobre, em absoluto. Ninguém
que me agrida ou que me achincalhe fica sem troco. Às pessoas que não gosto
dedico outro sentimento que, no meu entender, é até pior do que o ódio: a
indiferença. Contudo, como não sou masoquista, procuro pôr a máxima distância
dos que não aprecio.
Sou emotivo em excesso. Não raro,
choro no cinema, ao assistir filmes sentimentais, mesmo os mais melosos e
caretas. Claro que, se estou acompanhado, saio sempre com a desculpa de que “me
entrou um cisco no olho”. Afinal, fui criado ouvindo, desde pequenininho, “que
homem não chora”. E, como me considero um machão... Mas choro.
Certa feita, não deu sequer para
disfarçar e fui obrigado a inventar uma complicada história (não é de se estranhar,
pois sou contista), para justificar o vexame em público. Foi no
Riocentro, durante um congresso internacional de Ginecologia, realizado, se não
me engano, em setembro de 1989. Como quem presidia o evento era o Dr.
Aristodemo Pinotti, ex-reitor da Unicamp (que já foi secretário da Saúde do
Estado de São Paulo), ele convidou a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas
para abrilhantar o evento. A convite do maestro Benito Juarez, fui designado,
pela direção do Correio Popular, para cobrir esse importante acontecimento para
o jornal (embora não fosse repórter, mas sim, editor; mas topei a tarefa, para
aproveitar a boquinha e rever o Rio de Janeiro, cidade que tanto amo).
Ouvi intermináveis e enfadonhas
teses sobre os avanços e os rumos da Ginecologia, entrevistei (com meu ridículo
inglês macarrônico) várias das estrelas internacionais presentes e até fotos
(aproveitáveis, por sinal) tirei, gastando dois rolos de filme. Fiz tudo
certinho, como mandava o figurino. O final do Congresso foi em alto estilo. No encerramento,
houve uma apresentação inesquecível da orquestra campineira (sem favor algum,
uma das melhores do País).
O concerto começou bem, com a
abertura da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes (e nem poderia.ser outra). Foi
uma execução primorosa. A seguir vieram peças de Mozart, a “Nona Sinfonia” de
Beethoven, uma composição de Brahms, e a minha emoção crescendo, crescendo,
crescendo. Sentia meus olhos úmidos, mas nada que pudesse me denunciar. Até que
a orquestra atacou o “Capriccio italiano”, de Piotr Tchaikowsky.
Aí já foi demais para meu coração
sensível. Foi a gota d’água! Desmanchei-me em prantos, para desespero de uma
médica argentina, sentada ao meu lado, que tentava entender o que me causava
tamanha aflição (pelo menos ela interpretou assim). Não teve jeito. Fui
obrigado a contar uma baita mentira, uma história contundente e muito bem
urdida, digna de figurar em qualquer antologia de contos, à guisa de
explicação. Se colou? Creio que sim! Mas nunca terei certeza. Que diferença
faz? Nunca mais, provavelmente, vou encontrar a médica argentina!
Satisfeito, caro leitor? Sou
assim! Emotivo, apaixonado, contraditório, dissimulado e vai por aí afora. Quer
saber mais a meu respeito?! Ora, ora, ora, vá plantar batatas! O filósofo
Platão já dizia que “cada homem ama com ternura a si mesmo”. Como sou exagerado
(e isso eu já confessei), amo-me de paixão! E não vou ficar me esculhambando, a
torto e a direito, por aí, ainda mais por escrito! Tenha a santa
paciência!!!
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