Sunday, February 05, 2017

Perigo no Golfo persiste


Pedro J. Bondaczuk


O presidente iraquiano, Saddam Hussein, demonstrou, nos últimos dias, que ainda dispõe de uma força militar considerável, capaz de causar preocupações, a despeito de seu país ter saído arrasado de 42 dias de guerra.

Mesmo o Iraque tendo sofrido uma média de 94 mil ataques aéreos nesse período, com o lançamento de 55 milhões de quilos de explosivos, a Guarda Republicana mostrou que continua forte, ao retomar o porto de Basra das mãos dos rebelados xiitas e de virtualmente garantir a permanência do ditador no poder.

Os aliados fizeram estimativas bastante otimistas a respeito das 100 horas de duração da ofensiva terrestre e da apressada rendição de Saddam Hussein. Mas até onde as avaliações são corretas?

Mesmo parecendo uma perversidade levantar a questão, diante do sofrimento imposto aos iraquianos durante a guerra, a pergunta que surge de imediato é a seguinte: foi prudente conceder o cessar-fogo ao Iraque no momento em que foi concedido?

Até que ponto o país foi enfraquecido? Foi ao limite de contar com forças suficientes apenas para sua defesa, ou terá restado muita capacidade ofensiva? Israel parece acreditar na segunda hipótese. O primeiro-ministro israelense, Yitzhak Shamir, deixou isso claro, ao se reservar o direito de retaliar o Iraque, no instante em que se julgar ameaçado, para devolver a agressão que seu país sofreu, através dos Scuds B iraquianos.

Por isso, é indispensável que se elabore um sistema de segurança perfeito, doravante, no Golfo Pérsico, para que tanta destruição e sofrimento não acabem se transformando em mero exercício de trágica inutilidade. Para que do mal, representado por um conflito armado que poderia e deveria ser evitado, seja extraído algum bem. Ou seja, haja a possibilidade dos povos da região viverem tranqüilos e seguros, sem novos sobressaltos.

Tudo indica que os líderes árabes que fizeram parte da coalizão liderada pelos Estados Unidos, terão de aprender a conviver com a incômoda presença de Saddam. Embora os presidentes Hosni Mubarak, do Egito, e Hafez Assad, da Síria, e o rei Fahd, da Arábia Saudita, tenham dito que não pretendem tratar de nenhum assunto com o presidente iraquiano, as circunstâncias podem forçar esse contato.

Caso o Iraque disponha de um razoável poder ofensivo, que se desconfia que lhe tenha restado, egípcios, sírios e sauditas podem esperar de tudo. Até mesmo um ataque de surpresa, feito em vingança, pela posição que assumiram.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 7 de março de 1991).


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