Perigo no Golfo persiste
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente iraquiano, Saddam Hussein, demonstrou, nos últimos dias, que ainda
dispõe de uma força militar considerável, capaz de causar preocupações, a
despeito de seu país ter saído arrasado de 42 dias de guerra.
Mesmo
o Iraque tendo sofrido uma média de 94 mil ataques aéreos nesse período, com o
lançamento de 55 milhões de quilos de explosivos, a Guarda Republicana mostrou
que continua forte, ao retomar o porto de Basra das mãos dos rebelados xiitas e
de virtualmente garantir a permanência do ditador no poder.
Os
aliados fizeram estimativas bastante otimistas a respeito das 100 horas de
duração da ofensiva terrestre e da apressada rendição de Saddam Hussein. Mas
até onde as avaliações são corretas?
Mesmo
parecendo uma perversidade levantar a questão, diante do sofrimento imposto aos
iraquianos durante a guerra, a pergunta que surge de imediato é a seguinte: foi
prudente conceder o cessar-fogo ao Iraque no momento em que foi concedido?
Até
que ponto o país foi enfraquecido? Foi ao limite de contar com forças
suficientes apenas para sua defesa, ou terá restado muita capacidade ofensiva?
Israel parece acreditar na segunda hipótese. O primeiro-ministro israelense,
Yitzhak Shamir, deixou isso claro, ao se reservar o direito de retaliar o
Iraque, no instante em que se julgar ameaçado, para devolver a agressão que seu
país sofreu, através dos Scuds B iraquianos.
Por
isso, é indispensável que se elabore um sistema de segurança perfeito,
doravante, no Golfo Pérsico, para que tanta destruição e sofrimento não acabem
se transformando em mero exercício de trágica inutilidade. Para que do mal,
representado por um conflito armado que poderia e deveria ser evitado, seja
extraído algum bem. Ou seja, haja a possibilidade dos povos da região viverem
tranqüilos e seguros, sem novos sobressaltos.
Tudo
indica que os líderes árabes que fizeram parte da coalizão liderada pelos
Estados Unidos, terão de aprender a conviver com a incômoda presença de Saddam.
Embora os presidentes Hosni Mubarak, do Egito, e Hafez Assad, da Síria, e o rei
Fahd, da Arábia Saudita, tenham dito que não pretendem tratar de nenhum assunto
com o presidente iraquiano, as circunstâncias podem forçar esse contato.
Caso
o Iraque disponha de um razoável poder ofensivo, que se desconfia que lhe tenha
restado, egípcios, sírios e sauditas podem esperar de tudo. Até mesmo um ataque
de surpresa, feito em vingança, pela posição que assumiram.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 7 de março de
1991).
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