Domínio
da razão
Pedro J.
Bondaczuk
O
acúmulo de conhecimentos e informações, ou seja, o mero saber, não implica,
necessariamente, em
sabedoria. Esta caracteriza-se, entre outras coisas, pelo uso
que fazemos desse acervo de dados, acumulado desde os primórdios da
civilização, e que é o patrimônio comum de toda a humanidade. O sábio é o que
multiplica esse conhecimento e o utiliza de forma a enriquecer a espécie.
Conheço
pessoas que sequer sabem ler, mas que são fontes inesgotáveis de bom-senso e de
sabedoria. Em contrapartida, sei de inúmeros doutores, com uma infinidade de
diplomas, que são arrogantes e obtusos e não enxergam um palmo à frente do
nariz no que diz respeito à ciência do bem-viver.
As
boas idéias, aquelas que são embriões das grandes obras e que, não raro, até
revolucionam o mundo, surgem de repente, quando menos esperamos, como que por
acaso. Devemos estar atentos, e, sobretudo, preparados, para não deixar escapar
essas preciosas oportunidades, que raramente voltam a aparecer.
Alguns
chamam esses momentos especiais de “inspirações”, que de nada valem, frise-se,
se não vierem acompanhados de ações, de esforços, de atos concretos e
competentes. Ou seja, de “transpiração”. Somos condicionados, desde crianças, a
sermos competitivos, como se a vida fosse um jogo. Não é!
Não
raro, testamos nossos limites e tentamos ir além deles, para superar supostos
competidores. Colocamos à nossa frente objetivos que, quase sempre, são
inalcançáveis, e nos frustramos quando não os atingimos. Queremos ser mais, ter
mais, fazer mais do que os outros, quando a vida não é isso. Precisamos é
conhecer e desenvolver nossas capacidades e viver, sem nos preocuparmos se o
vizinho conquistou ou não mais coisas do que nós.
Todos temos, em determinados momentos de nossas
vidas, com intensidades variáveis, “lampejos” de sabedoria. Contudo, por
negligência, falta de autoconfiança e/ou até mesmo distração, perdemos a
oportunidade de nos tornarmos verdadeiramente sábios e de compartilharmos essa
desejável condição com o mundo.
Não raro achamos que o conhecimento das coisas e das
pessoas vem sempre completo, acabado, prontinho para ser usufruído. Engano!
Compete-nos expandi-los, aperfeiçoá-los, burilá-los, dar-lhes a nossa
indispensável contribuição, com a marca da nossa personalidade. Esse
detalhamento é o que nos compete fazer, mediante muito estudo, meditação,
observação e autodisciplina. O resultado desse esforço, porém, é mais do que
compensador.
Há
uma lenda, muito antiga, que diz que os primeiros seres humanos tinham asas, a
exemplo dos anjos, dos quais seriam uma subespécie. Podiam voar livremente, no
céu azul, como os pássaros, cortando, ágeis e graciosos, o espaço. Todavia, ao
se corromperem, sofreram profunda metamorfose e se transformaram nos pobres e
rústicos bípedes, que hoje são.
No
entanto, contamos, ainda, com um instrumento muito mais ágil e perfeito do que
as asas primitivas que, supostamente, perdemos. É ele que nos permite nos transportar, em frações
de infinitésimos de segundos, para outros mundos, constelações e galáxias, aos
confins do universo, onde instrumento humano algum jamais alcançou. E qual é
esse miraculoso meio? Claro, é a imaginação!
Temos
o poder, através dela, de criar novos mundos, para nós e para os que nos
cercam, na impossibilidade de modificar o que aí está. Mas, para que isso valha
a pena, é indispensável que sejamos (e que nos sintamos) felizes. Caso
contrário, só conseguiremos criar “infernos” de ressentimentos, desesperança,
angústias e dores (reais e/ou imaginárias).
A
principal característica de quem é dotado de verdadeira grandeza não é, como
muitos (erroneamente) pensam, a arrogância, a prepotência e a soberba. É a
humildade. É o conhecimento das próprias limitações. É a correta avaliação do
real alcance de suas capacidades, sem sobreestimá-las e nem subestimá-las. É o
profundo e irrestrito respeito pelos carentes, pelos fracos e pelos néscios,
consciente que se tem muito o que aprender com eles. É respeitar idéias e
opiniões alheias, sem abrir mão das próprias convicções. É nunca se achar
“iluminado”, mesmo que o seja. É compartilhar experiências e conhecimentos com
todos os que estiverem dispostos a essa partilha. Ser “grande”, portanto,
significa ser íntegro, ser solidário e, sobretudo, saber respeitar todo e
qualquer semelhante, sem preconceitos e discriminações.
Entendemos
o conceito de “civilização” a partir de pressupostos equivocados. Consideramos
“civilizados” os que têm acesso a uma boa moradia (com toda a parafernália que
a vida moderna proporciona), a um carro potente e de preferência do ano, a uma
boa universidade, às informações fartas e múltiplas etc.
Mesmo
que não digamos, somos tentados a achar que quem não conta com essas
facilidades é bárbaro, inculto e vive na “idade da pedra lascada”. Mas os
verdadeiros princípios de civilização não estão ligados a bens e/ou facilidades
materiais. São o respeito irrestrito ao próximo, a solidariedade, a justiça e a
bondade, entre outras virtudes.
Não
foi sem razão, pois, que o escultor francês Auguste Rodin, criador da célebre
escultura “O Pensador”, constatou: “A civilização não é, em suma, senão uma
camada de pintura que qualquer chuvinha lava”. Pelo menos esta, que aí está, é
(infelizmente) apenas isso e nada mais. Nosso grande desafio é o de mudar esse
simulacro de civilização. Que tal tentar? Quem se habilita?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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