Dia
das eleições
Pedro J. Bondaczuk
“O que há de belo na democracia é que ela é uma
conquista cotidiana”. Estas palavras foram ditas pelo saudoso Tancredo Neves,
numa entrevista concedida em 4 de março de 1978 e servem de corolário para o
espetáculo de cidadania dado, ontem, por cerca de 83 milhões de brasileiros,
que foram às urnas para compor o Congresso que terá, entre outras tarefas
relevantes, a responsabilidade de revisar a Constituição.
Denúncias de fraudes, antes, durante e depois da
votação, não faltaram e, certamente, não faltarão. Algumas podem até ser
procedentes, as que se referem, principalmente, ao abuso do poder econômico por
parte de alguns candidatos. Ainda há, infelizmente, aqueles que não entenderam
o significado e o valor da prática democrática. São infiéis (porquanto
fraudulentos) no pouco e, sem dúvida alguma, serão também no muito.
Cabe ao eleitor, todavia, na cabine indevassável,
dar o cartão vermelho a esses corruptos, que entendem que a vida pública é um
eventual prêmio para supostas virtudes pessoais – que eles, paranoicamente,
acreditam ter – e não uma tarefa, uma missão, um sacerdócio cívico.
Qualquer pessoa inteligente conclui, com facilidade,
sem que ninguém precise lhe dizer, que se alguém gasta rios de dinheiro para se
eleger, contrariando a legislação eleitoral brasileira, é porque conta com um
retorno multiplicado daquilo que gastou.
Basta, portanto, na hora de votar, que sequer se
lembre do nome desse subornador. Não há castigo maior para gente desse tipo do
que o ostracismo, o esquecimento, o banimento da política. Somente assim
construiremos uma democracia autêntica, um sistema imune a corrupções de toda a
sorte.
Não será com a polícia que isso ocorrerá, já que o
fraudulento dificilmente deixa rastros do seu delito. O povo tem em suas mãos o
instrumento ideal de moralização da vida pública. Basta que não venda o seu
voto, mas exerça esse direito de escolha com competência e responsabilidade.
Credibilidade e confiança são fundamentais entre
administradores e administrados, entre representantes e representados, pois
como disse Tancredo Neves, elas são “as fontes da esperança”. Parodiando esse
político, que marcou seu nome na história pela capacidade de conciliação, algum
estrangeiro, que tenha passado pelo País ontem e visto o magnífico espetáculo
das eleições, poderá dizer, ao regressar à sua pátria: “Vou dizer que hoje o
Brasil é uma democracia”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 4 de outubro de 1990)
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