Contagem regressiva
Pedro J. Bondaczuk
A
contagem regressiva para as mais importantes eleições brasileiras dos últimos
40 anos está chegando ao momento zero, o dia da votação, 3 de outubro próximo,
quando um novo País pode emergir das urnas. Faltando 16 míseros dias para o
momento culminante da democracia, o instante do voto, as cartas estão postas
sobre a mesa.
Caso
as pesquisas de opinião estejam corretas --- e não há razões objetivas para se
duvidar delas --- parece que tudo será decidido num único turno. O candidato
Fernando Henrique Cardoso segue liderando, folgadamente, as intenções de voto,
com cômodos 43% das preferências do eleitorado.
O
incidente conhecido como "efeito parabólica", que foi a indesejada
conversa de bastidores do ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, com o
jornalista Carlos Monforte, nos estúdios da Rede Globo, em Brasília, não foi
suficiente para abalar a candidatura tucana. A rigor, sequer chegou a
arranhá-la.
Portanto,
a menos que ocorra um cataclisma político de última hora, altamente improvável,
atrevemo-nos a afirmar que não haverá nenhuma reversão no quadro atual. O que
pode se verificar é a ampliação da vantagem de Fernando Henrique Cardoso, por
causa da inoportuna, do ponto de vista político, greve dos metalúrgicos do ABC
paulista.
O
panorama não deve se alterar, a não ser que as pesquisas de opinião estejam
completamente equivocadas, o que significaria a perda total da credibilidade
dos institutos que as fazem. Tais organizações cairiam num completo ridículo, e
não seria apenas uma, mas a totalidade delas.
Todavia,
fazendo uma análise fria e desapaixonada, as campanhas deste ano foram
altamente decepcionantes. Nenhum dos oito candidatos, incluindo o favorito
absoluto à vitória, convenceu com suas mensagens. Sobrou retórica e faltou
substância.
Abundaram
picuinhas, briguinhas paroquiais, chavões, slogans e "denúncias" e
faltaram propostas concretas para resolver os graves problemas nacionais. Os
que pretendem assumir o comando de nossos destinos perderam seu tempo nos
lembrando de algo que todos estamos cansados de saber.
Gastaram
vários programas tentando fazer aquilo que é a tarefa da imprensa, ou seja, nos
"informando" acerca das dimensões da crise, sem nada dizer sobre as
formas para acabar com ela.
Como
não são do ramo, apenas conseguiram ser maçantes e em certos momentos sumamente
infantis. Tomara, somente, que aquilo que mostraram pelo rádio e televisão, não
seja tudo o que têm a oferecer aos atormentados (mas esperançosos) cidadãos.
Seja
quem for o ganhador da eleição presidencial, não tenha dúvida, será muito
cobrado ao longo do seu governo. Os tempos não comportam mais compadrismos,
panelinhas e ações entre amigos, em detrimento do desenvolvimento do País.
Ninguém
espera que, num súbito milagre, o eleitor brasileiro, que nunca primou por dar
um voto consciente, o faça agora, pelo menos majoritariamente. Mas certamente
haverá mais qualidade agora do que nas eleições anteriores.
Ficamos
muito tempo sem votar para a Presidência, daí estarmos ainda muito sujeitos a
equívocos. Mas à medida em que os pleitos vão se sucedendo, até os mais néscios
e recalcitrantes acabam aprendendo. É no exercício desse direito de escolha que
a qualidade se apura.
E
essa evolução é extremamente necessária, urgente, diríamos indispensável, na
composição do novo Congresso. A mínima das lógicas diz ser impossível a escolha
de parlamentares tão omissos, tão irresponsáveis e tão corruptos --- claro que
há exceções --- quanto os que participaram da atual legislatura.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 17 de setembro de
1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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