Thursday, March 24, 2016

TV educa ou deseduca?

Pedro J. Bondaczuk

A televisão educa ou deseduca? Essa é uma questão polêmica, com opiniões diversas a propósito. Há, por exemplo, um grupo que só vê defeitos na programação desse veículo, onipresente e incorporado definitivamente à nossa vida. Mas, também, há outro que o defende sem restrições, com vigor. Os que o integram acham que não há absolutamente nada de errado com a televisão. Vamos devagar com o andor. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Entendo que a TV não faça nem uma coisa e nem outra. Isso na maioria dos casos. Entendo, por outro lado, que, simultaneamente, ela “possa” fazer, também, as duas coisas. Ou seja, que “contribua” para a educação e que influencie os que a assistem para o lado errado da vida. Neste caso último caso, porém, só os influenciáveis, dependendo, aí, de uma série de fatores, como a personalidade de quem seja seu usuário constante, a natureza dos programas que vê, a freqüência com que eles são assistidos, etc.etc.etc.

Parece que estou em cima do muro, mas não estou. É fácil você formar uma opinião, seja lá a propósito do que for, na base exclusivamente do impulso, sem refletir nem um pouco e nem ponderar os prós e contras, o que, geralmente, nos induz a tremendos erros. Pior se a pessoa que age assim é das tais que não dão o braço a torcer, como diz o povão, e não mudem de opinião, mesmo que se demonstre cabalmente, com fatos, que estão erradas. Não sei se tenho pena ou se raiva de quem age assim. Da minha parte (e só posso falar da minha experiência pessoal, que conheço, já que sobre a de terceiros não ouso afirmar nada, por conhecê-la, apenas, de ouvir dizer), a televisão sempre se constituiu em uma companheirona nas ocasiões em que estou ou me sinto só.

Assisti, é verdade, programas tão ruins, desses de fazer chorar e de me causar admiração o fato dos seus produtores e apresentadores não atentarem para o ridículo a que estavam se expondo. Tinha, contudo, a prerrogativa de não assisti-los, mudando simplesmente de canal. E, mesmo dos que passavam as mensagens mais negativas e condenáveis, nenhum deles afetou meu comportamento ou personalidade em absolutamente nada. É possível (sei lá) que outros (não sei quem ou quantos) tenham sido influenciados. Mas posso garantir, por outro lado, principalmente com o advento da TV a cabo, que aprendi coisas nessa telinha mágica, tanto em quantidade quanto em qualidade, como jamais aprendi em outro lugar qualquer, como nos bancos escolares e na universidade. E nem mesmo em livros. Tenho assistido a documentários sensacionais, e isso diariamente. São magníficas aulas (com a vantagem das imagens acompanhando os sons) sobre comportamento, geografia, história, filosofia etc.etc.etc. e até sobre Literatura.

Portanto, não estou em cima do muro quando respondo à questão se a TV educa ou deseduca, com a expressão condicional “depende”. Ou não depende? Além de aprender com ela, também me divirto. Acompanho, por exemplo, meus esportes preferidos, o que me ajuda a relaxar e a esquecer de problemas do dia a dia. Assisto a filmes, não raro baseados em romances notáveis que li (ou que não tive a chance de ler), muito bem feitos e interpretados, que não pude assistir no cinema, e isso sem precisar sequer arredar pé da minha casa e sem me expor, portanto, a riscos de assalto e outros contratempos. O bom ou mau proveito desse veículo, portanto, depende da nossa capacidade de seleção, do nosso interesse e bom gosto. E isso ficou facílimo com a profusão de canais (algumas centenas deles) que a TV a cabo nos proporciona.

Conhecendo (como conheço) meu público, sei que muitos, a esta altura, estão perguntando: “O que a televisão tem a ver com Literatura, que é o objetivo deste espaço?” Bem, isso requer uma justificativa. Escrevi todo esse bla-bla-blá apenas para ressaltar que me causa grande estranheza o fato desse veículo onipresente em nossa vida sequer ser citado por nenhum escritor de ficção, em seus romances, contos e novelas. Será que seus personagens são tão pobres que não podem adquirir um mísero receptor de TV, mesmo usado, mesmo mambembe? Parece que sim! Ademais, hoje em dia, até os carentes dos carentes têm lá seus televisores. Desconfio que haja, mundo afora, tantas televisões (ou até mais) quanto são os celulares. Ou seja, alguns bilhões. Não podemos nunca perder de vista o fato de que somos testemunhas do nosso tempo. Por isso, passei a “policiar” as histórias que escrevo, para ser o mais realista e detalhista possível.

Groucho Marx disse, certa feita: “Acho a televisão muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho, vou para outra sala e leio um livro”. A opção, claro, não está errada. Errada, certamente, é a oportunidade (ou inoportunidade) dessa ação. Se formos inteligentes, e prudentes, arranjaremos tempo para tudo: para ler, escrever, trabalhar, passear, nos divertir e... assistir TV. Ademais, temos que levar em conta que esse integrante dos Irmãos Marx (o caçula deles) não era nenhum educador e nem filósofo. Era um humorista. Está mais do que claro, pois, que o que disse se tratou de mera anedota (mesmo que possa ter algum fundo de verdade).


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