Monday, March 14, 2016

Armas não conterão violência


Pedro J. Bondaczuk


As guerras, de quaisquer natureza, todos sabem como começam, mas ninguém pode prever como terminam, antes que de fato se acabem. Por exemplo, Napoleão Bonaparte, na campanha de 1812 na Rússia, era tido praticamente como imbatível nos campos de batalha.

Havia conquistado todos os países que estavam no seu caminho rumo a Moscou. Todavia, o grande general francês deixou de levar em conta um fator alheio, à primeira vista, ao condicionamento militar: o duro inverno da Rússia. E nem é preciso repetir o desastre que o acometeu.

Adolf Hitler, embora contando com um aparato bélico muito mais moderno, voltou a repetir o erro. Não aprendeu nenhuma lição com a história. O resultado, por conseqüência, foi idêntico ao de Napoleão.

No conflito do Golfo Pérsico, já que a guerra não conseguiu ser evitada por intransigência absoluta de ambas as partes, o que se deve analisar agora é o “depois” da conflagração. Mesmo que o Iraque seja totalmente arrasado, como a lógica diz que será, isto irá se constituir numa salvaguarda de que a invasão do Kuwait não se repetirá?

As relações internacionais passarão a ser regidas absolutamente dentro dos limites do direito, ou atos de força irão se repetir indefinidamente?

Teme-se que o mundo conhecerá mais violência após o fim da luta do que até aqui. Israel já venceu seis guerras no Oriente Médio desde que o Estado foi criado e nem por isso, em momento algum, a zona deixou de ser um caldeirão fervente.

O presidente iraquiano, Saddam Hussein, por outro lado, tem tudo a ganhar e nada a perder, em termos de imagem, dentro da comunidade árabe com seu insensato desafio ao mundo capitalista. Não, evidentemente, entre os governantes locais, que em país algum da área representam a vontade do povo, já que democracia ali é mera ficção.

O truculento general será idolatrado pelo cidadão comum, pela massa miserável, que convive ao lado da opulência, sustenta o luxo e não pode participar sequer de suas migalhas. Tornar-se-á um mito nos muitos e muitos acampamentos de refugiados do Oriente Médio e da Ásia, caldos de cultura por excelência da violência e do terrorismo, já que os que lá vivem são os autênticos deserdados da Terra.

São os despossuídos, os que não têm lar e na maior parte dos casos sequer possuem esperança. Para estes, de nada adiantará a mídia ocidental pintar Saddam Hussein como um Hitler árabe ou outras imagens depreciativas piores.

Enquanto os desequilíbrios sociais da região, que já estão estratificados por séculos, permanecerem, líderes carismáticos certamente irão surgir às dezenas e conduzir multidões à mesma aventura ou até piores do que esta em que o presidente iraquiano lançou o seu povo. A guerra contra a miséria não se vence com armamentos sofisticados, mas com justiça e competência.

(Artigo publicado na página 10, “A Guerra do Golfo”, do Correio Popular, em 17 de janeiro de 1991).


 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

No comments: