Armas não conterão violência
Pedro J. Bondaczuk
As guerras, de quaisquer
natureza, todos sabem como começam, mas ninguém pode prever como terminam,
antes que de fato se acabem. Por exemplo, Napoleão Bonaparte, na campanha de
1812 na Rússia, era tido praticamente como imbatível nos campos de batalha.
Havia
conquistado todos os países que estavam no seu caminho rumo a Moscou. Todavia,
o grande general francês deixou de levar em conta um fator alheio, à primeira
vista, ao condicionamento militar: o duro inverno da Rússia. E nem é preciso
repetir o desastre que o acometeu.
Adolf
Hitler, embora contando com um aparato bélico muito mais moderno, voltou a
repetir o erro. Não aprendeu nenhuma lição com a história. O resultado, por
conseqüência, foi idêntico ao de Napoleão.
No
conflito do Golfo Pérsico, já que a guerra não conseguiu ser evitada por
intransigência absoluta de ambas as partes, o que se deve analisar agora é o
“depois” da conflagração. Mesmo que o Iraque seja totalmente arrasado, como a
lógica diz que será, isto irá se constituir numa salvaguarda de que a invasão
do Kuwait não se repetirá?
As
relações internacionais passarão a ser regidas absolutamente dentro dos limites
do direito, ou atos de força irão se repetir indefinidamente?
Teme-se
que o mundo conhecerá mais violência após o fim da luta do que até aqui. Israel
já venceu seis guerras no Oriente Médio desde que o Estado foi criado e nem por
isso, em momento algum, a zona deixou de ser um caldeirão fervente.
O
presidente iraquiano, Saddam Hussein, por outro lado, tem tudo a ganhar e nada
a perder, em termos de imagem, dentro da comunidade árabe com seu insensato
desafio ao mundo capitalista. Não, evidentemente, entre os governantes locais,
que em país algum da área representam a vontade do povo, já que democracia ali
é mera ficção.
O
truculento general será idolatrado pelo cidadão comum, pela massa miserável,
que convive ao lado da opulência, sustenta o luxo e não pode participar sequer
de suas migalhas. Tornar-se-á um mito nos muitos e muitos acampamentos de
refugiados do Oriente Médio e da Ásia, caldos de cultura por excelência da
violência e do terrorismo, já que os que lá vivem são os autênticos deserdados
da Terra.
São
os despossuídos, os que não têm lar e na maior parte dos casos sequer possuem
esperança. Para estes, de nada adiantará a mídia ocidental pintar Saddam
Hussein como um Hitler árabe ou outras imagens depreciativas piores.
Enquanto
os desequilíbrios sociais da região, que já estão estratificados por séculos,
permanecerem, líderes carismáticos certamente irão surgir às dezenas e conduzir
multidões à mesma aventura ou até piores do que esta em que o presidente
iraquiano lançou o seu povo. A guerra contra a miséria não se vence com
armamentos sofisticados, mas com justiça e competência.
(Artigo
publicado na página 10, “A Guerra do Golfo”, do Correio Popular, em 17 de
janeiro de 1991).
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