Gênios e loucos
Pedro
J. Bondaczuk
A linha que separa a
genialidade da loucura é extremamente tênue. Pelo menos essa é a conclusão de
recentes estudos, feitos por renomados psicólogos dos Estados Unidos,
divulgados, não faz muito, em revistas especializadas e em alguns espaços da
internet. A conclusão faz sentido. Afinal, os dois são extremos da
inteligência, ambos fora do padrão estabelecido como sendo o “normal”. Há, por
outro lado, pessoas que vivem as duas condições simultaneamente. Que têm rasgos
de gênio, em termos de criatividade, mas que apresentam todos os sintomas de
alguma das tantas psicopatologias. Querem um exemplo? O caso mais emblemático é
o de John Forbes Nash.
Esse sujeito tem todas
as características de gênio. Entre outras de suas tantas admiráveis façanhas
está a conquista do Prêmio Nobel de Matemática. Tem raciocínio assombrosamente
rápido, realizando cálculos
complexíssimos, em questão de minutos, que outros matemáticos fazem, apenas, em
semanas, se não em meses. É reconhecido, mundialmente, como gênio. Todavia, foi
diagnosticado como esquizofrênico e paranóico e vem sendo submetido a
tratamento dessas psicopatologias. Ao mesmo tempo que consegue ser mais rápido
e preciso do que o mais sofisticado supercomputador de última geração no que
diz respeito à aplicação dos conceitos matemáticos, jura, por todas as juras,
que foi abduzido por aliens, que o teriam recrutado para salvar o mundo. E não
está brincando. Afirma esse disparate, e outros tantos do gênero, com a máxima
convicção e a sério. É, pois, tecnicamente, gênio e “louco” ao mesmo tempo.
Você acha, paciente
leitor, que Nash seja caso único em que os dois extremos da inteligência se
tocam? Pois não é!!! Cito, por exemplo, outro gênio “louco” que marcou nome na
história: Vincent Van Gogh. Alguns podem me contestar dizendo que os
desarranjos desse mestre holandês das tintas e pincéis deviam-se ao seu hábito
de consumir absinto e em doses cavalares. Sabe-se, porém, que muito antes dele
adquirir esse vício já mostrava sintomas de desarranjo mental. Num de seus
surtos psicóticos, por exemplo, decepou a orelha do pintor Paul Gauguin. Agiu,
como se vê, igual ao apóstolo Pedro, que teria recorrido a ato igual. Os
evangelhos relatam que esse discípulo de Cristo (que o teria negado, na
sequência, por três vezes) teria feito algo igual com um soldado romano, no
Jardim das Oliveiras, quando os guardas teriam dado voz de prisão ao seu
mestre. Por que o Apóstolo e Van Gogh fizeram isso? Vá se saber!!!
Querem outra figura
genial em sua atividade, mas que sofria freqüentes surtos psicóticos? Cito a
escritora inglesa Virgínia Woolf, sobre a qual escrevi uma série de
comentários, abordando este e outros aspectos da sua conduta. Em uma dessas
crises que a acometiam, por sinal, ela acabou dando cabo da própria vida. Outro
exemplo do tipo é o de Ernest Hemmingway, ganhador do Prêmio Nobel de
Literatura de 1954. São bastante conhecidas as psicopatologias que o acometiam.
E, a exemplo de Virgínia Woolf, também cometeu suicídio, com um tiro de
espingarda na própria boca.
A esta altura, alguns podem
estar relacionando genialidade e a extrema criatividade que ela pode propiciar
a desarranjos mentais. Ou seja, que só um “louco” consegue ser um gênio. Ledo
engano. Psicólogos asseguram que uma coisa nada tem a ver com outra (pelo menos
não necessariamente). Eles argumentam, inclusive, com exemplos. Lembram que há
inúmeros gênios (aliás, a maioria) sem nenhuma psicopatologia, ou seja,
mentalmente sadios. E enfatizam que nos manicômios mundo afora não se registra
nenhuma “explosão de criatividade. Aliás, muito pelo contrário. Assim como
podem haver casos de doentes mentais com súbitos “surtos” de genialidade,
ocorre (e com grande freqüência) o inverso. Ou seja, o de gênios, com
altíssimos Quocientes de Inteligência que não sabem o que fazer com sua genialidade
(às vezes nem a identificam) e que levam vidas obscuras, cinzentas e medíocres,
sem que desenvolvam esse potencial.
Os especialistas,
porém, ponderam que “pode” haver um fator comum. Que a criatividade dos gênios
e os surtos de genialidade de insanos talvez estejam ligados ao que eles chamam
de desinibição cognitiva. E o que vem a ser isso? Seria a tendência de ambos de
prestarem atenção a coisas que nós, mortais comuns, ignoramos, por
considerá-las irrelevantes, ou que filtramos, por elas parecerem sem a menor
importância. Para mim, isso faz sentido. Sobretudo no que se refere às artes
(Literatura, Pintura, Música, Cinema etc.). Mas pode acontecer, também, em
outras atividades. Se Alexander Fleming não contasse com a tal “desinibição
cognitiva”, não teria descoberto a penicilina. Afinal, muitos cientistas tinham
visto, antes, o mofo na laranja e não deram nenhuma importância. O mesmo
ocorreu com Marie Curie, com Louis Pasteur e com tantos outros gênios que tanto
bem fizeram à humanidade.
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