Friday, March 25, 2016

Gênios e loucos

Pedro J. Bondaczuk

A linha que separa a genialidade da loucura é extremamente tênue. Pelo menos essa é a conclusão de recentes estudos, feitos por renomados psicólogos dos Estados Unidos, divulgados, não faz muito, em revistas especializadas e em alguns espaços da internet. A conclusão faz sentido. Afinal, os dois são extremos da inteligência, ambos fora do padrão estabelecido como sendo o “normal”. Há, por outro lado, pessoas que vivem as duas condições simultaneamente. Que têm rasgos de gênio, em termos de criatividade, mas que apresentam todos os sintomas de alguma das tantas psicopatologias. Querem um exemplo? O caso mais emblemático é o de John Forbes Nash.

Esse sujeito tem todas as características de gênio. Entre outras de suas tantas admiráveis façanhas está a conquista do Prêmio Nobel de Matemática. Tem raciocínio assombrosamente rápido, realizando  cálculos complexíssimos, em questão de minutos, que outros matemáticos fazem, apenas, em semanas, se não em meses. É reconhecido, mundialmente, como gênio. Todavia, foi diagnosticado como esquizofrênico e paranóico e vem sendo submetido a tratamento dessas psicopatologias. Ao mesmo tempo que consegue ser mais rápido e preciso do que o mais sofisticado supercomputador de última geração no que diz respeito à aplicação dos conceitos matemáticos, jura, por todas as juras, que foi abduzido por aliens, que o teriam recrutado para salvar o mundo. E não está brincando. Afirma esse disparate, e outros tantos do gênero, com a máxima convicção e a sério. É, pois, tecnicamente, gênio e “louco” ao mesmo tempo.

Você acha, paciente leitor, que Nash seja caso único em que os dois extremos da inteligência se tocam? Pois não é!!! Cito, por exemplo, outro gênio “louco” que marcou nome na história: Vincent Van Gogh. Alguns podem me contestar dizendo que os desarranjos desse mestre holandês das tintas e pincéis deviam-se ao seu hábito de consumir absinto e em doses cavalares. Sabe-se, porém, que muito antes dele adquirir esse vício já mostrava sintomas de desarranjo mental. Num de seus surtos psicóticos, por exemplo, decepou a orelha do pintor Paul Gauguin. Agiu, como se vê, igual ao apóstolo Pedro, que teria recorrido a ato igual. Os evangelhos relatam que esse discípulo de Cristo (que o teria negado, na sequência, por três vezes) teria feito algo igual com um soldado romano, no Jardim das Oliveiras, quando os guardas teriam dado voz de prisão ao seu mestre. Por que o Apóstolo e Van Gogh fizeram isso? Vá se saber!!!

Querem outra figura genial em sua atividade, mas que sofria freqüentes surtos psicóticos? Cito a escritora inglesa Virgínia Woolf, sobre a qual escrevi uma série de comentários, abordando este e outros aspectos da sua conduta. Em uma dessas crises que a acometiam, por sinal, ela acabou dando cabo da própria vida. Outro exemplo do tipo é o de Ernest Hemmingway, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1954. São bastante conhecidas as psicopatologias que o acometiam. E, a exemplo de Virgínia Woolf, também cometeu suicídio, com um tiro de espingarda na própria boca.

A esta altura, alguns podem estar relacionando genialidade e a extrema criatividade que ela pode propiciar a desarranjos mentais. Ou seja, que só um “louco” consegue ser um gênio. Ledo engano. Psicólogos asseguram que uma coisa nada tem a ver com outra (pelo menos não necessariamente). Eles argumentam, inclusive, com exemplos. Lembram que há inúmeros gênios (aliás, a maioria) sem nenhuma psicopatologia, ou seja, mentalmente sadios. E enfatizam que nos manicômios mundo afora não se registra nenhuma “explosão de criatividade. Aliás, muito pelo contrário. Assim como podem haver casos de doentes mentais com súbitos “surtos” de genialidade, ocorre (e com grande freqüência) o inverso. Ou seja, o de gênios, com altíssimos Quocientes de Inteligência que não sabem o que fazer com sua genialidade (às vezes nem a identificam) e que levam vidas obscuras, cinzentas e medíocres, sem que desenvolvam esse potencial.

Os especialistas, porém, ponderam que “pode” haver um fator comum. Que a criatividade dos gênios e os surtos de genialidade de insanos talvez estejam ligados ao que eles chamam de desinibição cognitiva. E o que vem a ser isso? Seria a tendência de ambos de prestarem atenção a coisas que nós, mortais comuns, ignoramos, por considerá-las irrelevantes, ou que filtramos, por elas parecerem sem a menor importância. Para mim, isso faz sentido. Sobretudo no que se refere às artes (Literatura, Pintura, Música, Cinema etc.). Mas pode acontecer, também, em outras atividades. Se Alexander Fleming não contasse com a tal “desinibição cognitiva”, não teria descoberto a penicilina. Afinal, muitos cientistas tinham visto, antes, o mofo na laranja e não deram nenhuma importância. O mesmo ocorreu com Marie Curie, com Louis Pasteur e com tantos outros gênios que tanto bem fizeram à humanidade.   


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