Wednesday, March 23, 2016

E-books e livros impressos

Pedro J. Bondaczuk

A era digital, com sua variedade de opções eletrônicas para todas necessidades e gostos, ensejou o surgimento dos chamados e-books que, salvo engano, vieram para ficar. Muitos vêem renhida disputa entre livros impressos e suas versões eletrônicas, como se ambos fossem incompatíveis, excludentes e como se um sobrevivesse, apenas, sem a existência do outro. Não vejo, porém, as coisas assim. As duas formas de apresentação desse produto de primeiríssima necessidade podem, e devem, conviver harmonicamente, sem conflitos, como opções aos leitores. Pelo menos por enquanto, quando existe matéria-prima relativamente farta para a fabricação de papel, embora os métodos de produção deste ainda sejam altamente poluentes e, portanto, perniciosos ao meio ambiente.

Quando surgiram os primeiros e-books, houve duas reações principais e antagônicas. Uma parte das pessoas previu que o livro eletrônico “mataria”, no médio prazo, o impresso. Outros tantos, todavia, juraram que a versão não impressa não passaria de modismo passageiro, que logo iria desaparecer. Porém... Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. As duas “facções” erraram seus afoitos prognósticos. Não aconteceu, não pelo menos por enquanto, nem uma coisa, e nem outra. Há uma infinidade de pessoas que não abre mão, de jeito algum, do livro tradicional, argumentando com sua “portabilidade”, ou seja, que ele pode ser levado para cima e para baixo, para onde se quiser. Isso era válido, porém, há algum tempo, mas não é mais. O argumento valia apenas quando os e-books só podiam ser baixados no computador. Com a possibilidade disso ser feito agora, também, em tabletes e em smarthfones, essa vantagem do livro impresso desapareceu. Esses aparelhinhos são cada vez mais práticos, menores e mais leves, possibilitando que sejam levados, como os livros impressos, ou até com mais vantagens, para onde quisermos.

Há quem argumente que a leitura de livros na telinha seja cansativa e desconfortável. Será? No meu caso, não tenho problema algum desse tipo. Meus olhos não ficam nem mais e nem menos cansados com essa versão. Mantenho, atualmente, dois tipos de biblioteca. A tradicional conta com uma quantidade muito maior de volumes do que a eletrônica. Pudera! Começou a ser formada há muito mais tempo, há uns 60 anos ou mais. Já a de e-books, pelo pouco tempo em que me foi facultada essa opção, não deixa de ser relativamente volumosa. Já conta com mais de duas centenas de cópias, a maioria de clássicos, disponibilizadas graciosamente por várias entidades culturais ou por seus autores. As duas versões crescem em paralelo, em igual quantidade, pelo menos no meu caso. Tanto compro, mensalmente, vários livros impressos, quanto adquiro, praticamente, a mesma quantidade de e-books.

Reitero que não vejo nenhum motivo para estabelecer concorrência entre os dois tipos de publicação. Entendo que há público para ambos. É certo que uma das grandes vantagens dos e-books é seu preço final (embora, no meu entender, ainda seja muito caro, se for levado em conta seu custo de produção, que é quase “zero”). Além disso, em termos de “portabilidade” é muito mais prático, comportando em pequeníssimo espaço uma quantidade enorme de volumes. Na versão tradicional, um número igual de exemplares seria rigorosamente impossível de transportar.

Li, há algum tempo, no portal G1, matéria informando que 40% das escolas particulares do País já adotam livros didáticos em formato de e-books. A vantagem é óbvia. Em vez dos estudantes levarem para a sala de aula uma mochila abarrotada de volumes (e imaginem o peso a carregar), com o risco de esquecer alguns ou mesmo de vários não caberem nela, levam somente um leve e prático tablete, sem que haja nenhum prejuízo para a leitura e consequente aprendizado. E creio que a tendência é a desse percentual chegar, muito em breve, a 100% ou quase, com a adesão das escolas públicas. As vantagens são evidentes, e isso sem falar sequer em preço que, claro, é fator dos mais relevantes.

Nem por isso, contudo, o livro impresso “morreu”, nem corre qualquer risco (ao menos por enquanto) de morrer. E nem precisa desaparecer. Ambas as versões podem, e devem, conviver, pois há gosto e público para ambos. Quando foi inventado o cinema, dizia-se que o teatro iria “morrer”. Não morreu. O mesmo aconteceu em relação ao cinema, quando do advento, evolução e popularização da televisão. Os três estão aí, vivíssimos, cada qual com seu papel e com seu público, sem que um ameace os outros. Creio que vá ocorrer o mesmo em relação ao livro impresso e aos e-books. Acredito que a tendência dos escritores seja a de recorrer às duas versões simultaneamente para seus livros, cada qual voltada a faixas específicas de consumidores.

Eu, por exemplo, agi assim em relação ás minhas duas mais recentes obras. “Cronos e Narciso” e “Lance fatal” foram publicados, simultaneamente, tanto na versão impressa, quanto na eletrônica. E a despeito dos e-books serem muito mais baratos, as vendas deles foram (e estão sendo) relativamente iguais (ou próximas da igualdade) aos impressos.  Entendo que não importa o formato em que uma obra é oferecida ao público. Importa que haja qualidade e variedade e campanhas muito bem feitas de divulgação para atrair o máximo possível de leitores.


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