Persistência na
escalada das “montanhas”
Pedro
J. Bondaczuk
A obstinação, ou seja,
a perseverança na busca de um objetivo, é fator primordial para o sucesso de
qualquer empreendimento. Claro, só isso não basta. É preciso que o que
colocarmos como meta a alcançar seja alcançável. Nem sempre é. Há coisas que
desejamos obter, ou realizar, que estão muito além das nossas forças, ou do
nosso conhecimento, ou da nossa capacidade, dependendo da sua natureza. É indispensável, pois, que sejamos potencialmente
capazes de levar a bom termo o empreendimento almejado. Se não formos (nem é
preciso enfatizar) de nada valerá a obstinação, ou perseverança, ou teimosia,
ou chamemo-la da forma que queiramos chamar. Persistir, nesse caso, será
estúpida perda de tempo e fonte mais do que certa de frustração.
Supondo, porém, que o
que desejamos realizar (ou, quando o caso, obter), estiver ao nosso alcance,
não for superior às nossas forças ou à nossa capacidade intelectual, desistir
da sua obtenção será ato de explícita covardia. É muito fácil (e cômodo),
embora contraproducente, abandonar uma tarefa pelo meio, quando surgirem
dificuldades, às vezes sequer muito grandes, mas que nos exijam maior dose de
aplicação, de esforço, de talento ou apenas de persistência. Nada (ou quase
nada) virá automaticamente, num piscar de olhos, como que num passe de mágica,
às nossas mãos. Conheço muitas pessoas, do meu círculo de amizades, com imensa
cultura, pleno domínio do idioma e das regras da escrita, que começaram a
escrever determinado livro e... deixaram-no pela metade. Por que? Simplesmente
por não conseguirem solucionar alguns probleminhas que, com um pouquinho só de
esforço, de pesquisa, de raciocínio seriam facilmente resolvidos. Desconfio que
perderam a oportunidade de produzir uma obra-prima, mas não por incapacidade,
mas por medo, ou por inércia, ou mesmo por preguiça, sabe-se lá.
Victor Hugo escreveu (e
citei esse trecho do bem-sucedido escritor francês diversas vezes, em variados
contextos) : "Todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra:
'perseverar'. A constância diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a
nossa personalidade e a dimensão da nossa coragem. Os constantes são os
sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um
temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a
grandeza". Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela conduz ao
verdadeiro heroísmo. E este é muito mais simples do que a maioria entende.
Consiste, antes e acima de tudo, em vencermos nossas deficiências e em
conquistarmos nossos sonhos... Persistir, persistir e persistir. Este é o
segredo dos vencedores. Nunca devemos desistir do que tenhamos plena convicção
que signifique nossa evolução, desde que, todavia, contemos com potencial para
realizar (ou conseguir), apenas porque surgiram dificuldades imprevistas, não
importa de que tamanho. Poucos, pouquíssimos, ostentam essa virtuosa
“obstinação".
Para uma vida útil e
produtiva, que se caracterize por algo mais nobre do que a mera sobrevivência
física, precisamos, antes e acima de tudo, ter um alvo, contar com determinada
meta, com algo que nos desafie e nos mobilize. Temos que nos empenhar ao
máximo, com disciplina, empenho e dedicação, para atingir essa culminância, sem
desânimos e nem esmorecimentos. Não podemos, todavia, assim que alcancemos o
sucesso, nos acomodar e achar que já fizemos a nossa parte. Nunca fazemos.
Nossa missão jamais termina. Não, pelo menos, antes da nossa morte. Haverá
sempre novas empreitadas, novas conquistas, novas realizações a nos desafiarem,
em Literatura e na vida. É a isso que classifico de “viver”, e não meramente de
sobreviver. Nelson Mandela, uma das figuras públicas que mais admiro, por sua
magnífica trajetória e espírito de conciliação, disse, certa ocasião, em
memorável discurso: “Depois de escalar uma montanha muito alta, descobrimos que
há muitas outras montanhas por escalar”.
Vocês já imaginaram se
Mandela desanimasse e “entregasse os pontos”, tão logo foi condenado à prisão
perpétua? Mas não desanimou. “Escalou” a alta e acidentada montanha da
resistência pacífica, por quase 28 anos de cárcere. Libertado, aspirou, e
conseguiu, a presidência da África do Sul. Presidente, em vez de vingar-se dos
responsáveis por seu longuíssimo encarceramento, promoveu a conciliação entre
negros e brancos. Ou seja, “escalou todas as montanhas” com que se defrontou e
terminou a vida respeitado, glorificado e amado pelo povo sul-africano, por
negros e brancos. Houvesse desanimado quando de sua condenação, hoje estaria
esquecido, como tantos e tantos prisioneiros o foram. .
Tempos atrás, escrevi
uma crônica na qual enfatizei, à certa altura: “Somos o que mentalizamos. Se
nos virmos como fracos, como tíbios, como doentios e carentes, nos
transformaremos nesse estereótipo que criarmos. Mas o contrário também é
verdade”. E concluí esse raciocínio da seguinte forma (conclusão esta que cabe
a caráter para encerrar estas reflexões): “O que cada um de nós tem que fazer é
se impor. É provar, se preciso, que o mundo inteiro está errado em relação à
imagem que tem de nós. É não nos deixarmos abater diante de opiniões e atitudes
negativas e preconceituosas alheias. Mas essa demonstração de força não se pode
fazer apenas com palavras, que surtem ínfimo efeito ou até mesmo nenhum. Exige
ação, mesmo que o corpo teime em pedir repouso. Requer energia, tirada não se
sabe de onde, mas que tem que ser encontrada. Impõe, sobretudo, férrea e
inflexível força de vontade”. Tente, querido e imprescindível leitor.
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