Saturday, March 05, 2016

Persistência na escalada das “montanhas”

Pedro J. Bondaczuk

A obstinação, ou seja, a perseverança na busca de um objetivo, é fator primordial para o sucesso de qualquer empreendimento. Claro, só isso não basta. É preciso que o que colocarmos como meta a alcançar seja alcançável. Nem sempre é. Há coisas que desejamos obter, ou realizar, que estão muito além das nossas forças, ou do nosso conhecimento, ou da nossa capacidade, dependendo da sua natureza.  É indispensável, pois, que sejamos potencialmente capazes de levar a bom termo o empreendimento almejado. Se não formos (nem é preciso enfatizar) de nada valerá a obstinação, ou perseverança, ou teimosia, ou chamemo-la da forma que queiramos chamar. Persistir, nesse caso, será estúpida perda de tempo e fonte mais do que certa de frustração.

Supondo, porém, que o que desejamos realizar (ou, quando o caso, obter), estiver ao nosso alcance, não for superior às nossas forças ou à nossa capacidade intelectual, desistir da sua obtenção será ato de explícita covardia. É muito fácil (e cômodo), embora contraproducente, abandonar uma tarefa pelo meio, quando surgirem dificuldades, às vezes sequer muito grandes, mas que nos exijam maior dose de aplicação, de esforço, de talento ou apenas de persistência. Nada (ou quase nada) virá automaticamente, num piscar de olhos, como que num passe de mágica, às nossas mãos. Conheço muitas pessoas, do meu círculo de amizades, com imensa cultura, pleno domínio do idioma e das regras da escrita, que começaram a escrever determinado livro e... deixaram-no pela metade. Por que? Simplesmente por não conseguirem solucionar alguns probleminhas que, com um pouquinho só de esforço, de pesquisa, de raciocínio seriam facilmente resolvidos. Desconfio que perderam a oportunidade de produzir uma obra-prima, mas não por incapacidade, mas por medo, ou por inércia, ou mesmo por preguiça, sabe-se lá.

Victor Hugo escreveu (e citei esse trecho do bem-sucedido escritor francês diversas vezes, em variados contextos) : "Todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade e a dimensão da nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza". Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este é muito mais simples do que a maioria entende. Consiste, antes e acima de tudo, em vencermos nossas deficiências e em conquistarmos nossos sonhos... Persistir, persistir e persistir. Este é o segredo dos vencedores. Nunca devemos desistir do que tenhamos plena convicção que signifique nossa evolução, desde que, todavia, contemos com potencial para realizar (ou conseguir), apenas porque surgiram dificuldades imprevistas, não importa de que tamanho. Poucos, pouquíssimos, ostentam essa virtuosa “obstinação".

Para uma vida útil e produtiva, que se caracterize por algo mais nobre do que a mera sobrevivência física, precisamos, antes e acima de tudo, ter um alvo, contar com determinada meta, com algo que nos desafie e nos mobilize. Temos que nos empenhar ao máximo, com disciplina, empenho e dedicação, para atingir essa culminância, sem desânimos e nem esmorecimentos. Não podemos, todavia, assim que alcancemos o sucesso, nos acomodar e achar que já fizemos a nossa parte. Nunca fazemos. Nossa missão jamais termina. Não, pelo menos, antes da nossa morte. Haverá sempre novas empreitadas, novas conquistas, novas realizações a nos desafiarem, em Literatura e na vida. É a isso que classifico de “viver”, e não meramente de sobreviver. Nelson Mandela, uma das figuras públicas que mais admiro, por sua magnífica trajetória e espírito de conciliação, disse, certa ocasião, em memorável discurso: “Depois de escalar uma montanha muito alta, descobrimos que há muitas outras montanhas por escalar”.

Vocês já imaginaram se Mandela desanimasse e “entregasse os pontos”, tão logo foi condenado à prisão perpétua? Mas não desanimou. “Escalou” a alta e acidentada montanha da resistência pacífica, por quase 28 anos de cárcere. Libertado, aspirou, e conseguiu, a presidência da África do Sul. Presidente, em vez de vingar-se dos responsáveis por seu longuíssimo encarceramento, promoveu a conciliação entre negros e brancos. Ou seja, “escalou todas as montanhas” com que se defrontou e terminou a vida respeitado, glorificado e amado pelo povo sul-africano, por negros e brancos. Houvesse desanimado quando de sua condenação, hoje estaria esquecido, como tantos e tantos prisioneiros o foram. .

Tempos atrás, escrevi uma crônica na qual enfatizei, à certa altura: “Somos o que mentalizamos. Se nos virmos como fracos, como tíbios, como doentios e carentes, nos transformaremos nesse estereótipo que criarmos. Mas o contrário também é verdade”. E concluí esse raciocínio da seguinte forma (conclusão esta que cabe a caráter para encerrar estas reflexões): “O que cada um de nós tem que fazer é se impor. É provar, se preciso, que o mundo inteiro está errado em relação à imagem que tem de nós. É não nos deixarmos abater diante de opiniões e atitudes negativas e preconceituosas alheias. Mas essa demonstração de força não se pode fazer apenas com palavras, que surtem ínfimo efeito ou até mesmo nenhum. Exige ação, mesmo que o corpo teime em pedir repouso. Requer energia, tirada não se sabe de onde, mas que tem que ser encontrada. Impõe, sobretudo, férrea e inflexível força de vontade”. Tente, querido e imprescindível leitor.


 Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: