Junho
violento
Pedro J. Bondaczuk
A violência aumentou, e muito, nas grandes cidades
brasileiras nos primeiros meses deste ano e, mais especificamente, em junho. Em
São Paulo, sem contar as últimas chacinas ocorridas em Taboão da Serra,
Itaim-Bibi, Morumbi e Franco da Rocha, o crescimento foi da ordem de 25%.
No Rio de Janeiro o aumento sequer pode ser
dimensionado, tamanha é a sua proporção, configurando-se numa autêntica guerra,
envolvendo, principalmente, quadrilhas de narcotraficantes. Aliás, o fenômeno
repete-se na maioria das grandes metrópoles do mundo, em especial dos Estados
Unidos. Não se trata, pois, de algo localizado.
É uma atitude demasiadamente simplista atribuir a
violência apenas à miséria. A todo o momento vemos pessoas, em especial jovens
da classe média, com invejável padrão de vida, praticando assassinatos pelos
motivos mais banais possíveis.
Caso recente foi o homicídio cometido na
quinta-feira por um estudante de 18 anos, vitimando um publicitário, que parou
numa lanchonete paulistana para comer um cachorro-quente, tarde da noite, após
horas seguidas de trabalho, e acabou abatido por um tiro à queima-roupa.
Motivo? O adolescente irritou-se com a intervenção da vítima para proteger três
moças, às quais estava molestando. Casos como este multiplicam-se por toda a
parte.
É fácil e cômodo deitar falação acerca da violência
quando nós não somos os atingidos. Por isso, a maioria permanece indiferente ao
problema, numa atitude egoísta e cômoda que nada constrói. Nos damos conta da
brutalidade de determinados atos somente quando a vítima somos nós, ou é alguma
pessoa a quem amamos.
A grande causa da multiplicação desses casos não é
econômica, embora a carência leve muita gente ao desespero e à prática de
delitos. Sequer se restringe a eventuais falhas no aparato de segurança
pública. Em geral, as soluções são cobradas por esse lado. Exigem-se mais
punições contra os infratores – há quem defenda a pena de morte – e maior
policiamento ostensivo para prevenir os crimes.
Tudo isso, no entanto, é paliativo. Ajuda, mas não
resolve. O que é preciso é ir à raiz do problema. E esta localiza-se na
desvalorização da vida – a própria e, conseqüentemente, com maior facilidade, a
de nossos semelhantes. A onda de permissividade que varre o mundo liberta, no
homem, o seu lado pior, mais perverso, seu instinto de fera, o aspecto
irracional de sua animalidade.
O que é necessário não são apenas mais leis, ou
punições mais severas, ou maior policiamento. Tudo isso pode ajudar a reduzir a
escalada da violência, mas é insuficiente para acabar com ela. Caso não ser
mude a mentalidade vigente, teremos que nos acostumar a nos proteger como
pudermos da "lei da selva" que já vigora nas cidades.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 20 de junho de 1994).
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