Reforma
da segurança
Pedro J. Bondaczuk
As greves e a violência que tomaram conta, no mês
passado, das polícias civil e militar em pelo menos 17 dos 27 Estados do País –
com os fatos mais graves de indisciplina ocorrendo em Minas, Pernambuco e Ceará
– ressaltaram a necessidade de uma profunda reforma no conceito de segurança
pública. O contribuinte que paga (e caro) seus impostos tem o direito de exigir
que sua integridade patrimonial e pessoal seja preservada e garantida, não
importam quais sejam as circunstâncias.
Em decorrência desses movimentos grevistas, que
levaram inquietação e desassossego à população, o governo decidiu fazer
mudanças nessa área tão sensível, senão vital. Formou uma comissão especial,
encabeçada pelo secretário nacional dos Direitos Humanos, José Gregori, para
definir o que deve ser mudado e como. O grupo até que fez sua parte. Elaborou
32 propostas, algumas óbvias, outras inócuas e outras ainda significando
inegável avanço, encaminhadas ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
O plano de reestruturação, porém, corre o risco de
sequer sair do papel. A raiz da questão, os baixos salários dos policiais,
permanece intocada. Além disso, falta consenso no governo para que uma reforma
ampla e definitiva possa ser efetivada.
Por conta disso, as medidas, que se propala serão
adotadas, não passam de paliativos. Não resolvem o problema, apenas o adiam,
talvez para depois de novas greves, de novas confrontações entre PMs, com novos
tiroteios e novas vítimas a lamentar, além de novo desgaste na imagem dos
responsáveis pela segurança perante a população.
A principal reforma do Estado não vem sendo sequer
cogitada pelos vários escalões governistas em sua aparente fúria reformista. E
esta é, sem dúvida, a de mentalidade. Por mais estranho que possa parecer, os
setores mais importantes da sociedade são os mais relegados para segundo plano.
São os que recebem menos verbas, cujos funcionários são pior remunerados e
cujos resultados, como não poderiam deixar de ser, são pífios, senão
desastrosos.
São os casos da educação, da saúde, da segurança
pública, da agricultura e dos transportes. No primeiro caso, sem dúvida, houve
evolução. Mas os salários dos professores ainda estão muito aquém da sua
importância para o País. Em termos de saúde, é aquele desastre. Apesar da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, que fatalmente vai se
tornar permanente, as verbas continuam escassas, já que o ministério tem
dívidas a saldar.
A remuneração dos policiais é uma piada de mau
gosto. Daí seu descontentamento, explicável, embora a violência usada para
expressá-lo seja absolutamente injustificável. Agricultura e Transportes não
estão em situação melhor. Portanto, compete às autoridades, em especial do
Poder Executivo, "reformar" antes de tudo sua mentalidade. Afinal,
governar é definir prioridades. E nada é mais prioritário para o Brasil do que
educação, saúde, segurança, transportes e agricultura.
(Texto escrito em 4 de agosto de 1997 e publicado
como editorial na Folha do Taquaral).
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